Quinta-feira, 6 de Março de 2014

Nota sobre o proibicionismo das drogas

Nota sobre o proibicionismo das drogas

 

Neste artigo, fazem-se elaborações sobre as características psicológicas do proibicionismo relativo às drogas, sendo este evocado habitualmente como medida para lidar com a toxicodependência.

 

Assim, considere-se, antes de mais, o meu artigo Características psicológicas específicas da teleportação psíquica enquanto viagem entre mundos paralelos               ( Resende, 2013 ), no qual se denota a importância da castração fálica, particularmente no histérico, para a elicitação da teleportação psíquica. Nesse artigo, avanço que há uma característica importante nos traços de carácter pulsionais libidinais fálicos, que é a competição entre os sexos, no seguimento da competição uretral, com o falo ( ainda não o pénis ) destinado a ser mostrado e admirado, em que nessa competição, relacionada com o catar sexual feminino, ou o sentimento da mulher de estar a sugar sexualmente outra mulher, nos comportamentos sociais sexualizados típicos entre mulheres, surgirá, dizia, o receio de castração fálica, em que a eventual menstruação na outra mulher fará lembrar o sinal depressivo de perda do pénis já efectuada, tal como é fantasiada. Na competição referida, o catar sexual feminino, entre mulheres, competirá pela outra mulher, assim como o homem competirá. O receio de castração fálica, referido, conduz a uma grande “ falização “ de todo o corpo por inteiro, pela sobrecompensação narcísica. Isso é importante para a caracterização da sobrecompensação narcísica, referente à reintegração psíquica, como uma fase da teleportação psíquica, em que temos uma fase de desintegração psíquica narcísica, relacionada com a subcompensação narcísica da inveja do clitóris, com tentativa de diminuição narcísica, e a fase da reintegração psíquica, com sobrecompensação narcísica. Ora, pelo dito, temos, assim, que quanto maior o índice de castração fálica, maior o índice de teleportação.

 

A título de exemplo, verifica-se, se bem atentarmos, a utilização destas ideias em publicidade, particularmente em televisão, ou como nos estádios de futebol, e de outros desportos, e jogos televisionados, em que surgem os slogans e símbolos do produto como que menos acessíveis visualmente, restringidos visualmente, promovendo-se, então, a tal teleportação psíquica e a maior adesão das pessoas ao produto.

 

É de referir a este propósito o artigo Psicologia de massas do fascismo: uma actualização ( Resende, 2012 ), no qual se conclui que quanto mais censurada, restringida, a ideologia fascista, neste caso, maior influência ela terá a nível inconsciente, e mais as pessoas funcionarão de acordo com aquilo que foi censurado. Refere-se, nesse artigo, que Wilhelm Reich, em seu Psicologia de massas do fascismo, fala-nos de que a psicologia de massas do fascismo é caracterizada pela impotência orgástica das massas, em que as frustrações orgásticas alimentam o fascismo na psique colectiva. Esta alimentação deriva para as camadas mais profundas da psique do indivíduo das massas. Numa análise mais contemporânea, teremos que a repressão societal dos ideais fascistas leve a que o material fascista recalcado fique mais ao nível do inconsciente e do subconsciente, e não será tão agido, portanto. Isso leva a que mais tarde, os indivíduos passem a funcionar a estes níveis mais recônditos da psique e, em termos de psicologia de massas, leve a que o indivíduo seja mais controlado inconscientemente pelas ideias e ideais fascistas, e mesmo nazis. Ou seja, com a repressão societal destas ideias e ideais, numa primeira fase, levará a que, numa fase ulterior, as mesmas sejam propagadas pela psique colectiva, pelas massas, portanto. Ou seja, aumento repressor dos ideais fascistas e nazis leva a que haja um aumento inconsciente desses mesmos ideais. Posteriormente os indivíduos das massas serão controlados inconscientemente por esses ideais. Exemplarmente, esse fenómeno estará na base do desejo do fruto proibido, em que, por exemplo, esse desejo estará implícito na designação atribuída a Nova Iorque de Big Apple, ou a Grande Maçã. Esta designação remete-nos para o pecado original da religião cristã e para o facto de o mesmo ser reprimido nas sociedades cristãs, particularmente capitalistas. Teremos, então, contextualizadamente, uma evangelização a nível inconsciente das massas, e uma atração pelo regime ideológico capitalista, de que os Estados Unidos serão o grande bastião. Assim, esta evengelização será uma das bases da hegemonia dos Estados Unidos, a nível cultural e ideológico, um pouco por todo o mundo. Dir-se-à, ainda, que o apoio incondicional dos Estados Unidos a Israel, às suas governações sionistas, considerando o ódio dos nazis aos judeus e os acontecimentos da segunda guerra mundial, com os Estados Unidos enquanto grande superpotência mundial e com a influência extrema judaica, ou sionista, nos Estados Unidos, no quadro do capitalismo global, parecendo libertário, pela associação à derrota do nazismo na segunda guerra mundial, é opressor e fascista. Será a grande base da opressão e disseminação fascista na geopolítica contemporânea pelo reprimir em grande escala dos ideais fascistas, na associação com Israel. Em grande escala, devido à hegemonia dos Estados Unidos. Em termos exemplificativos da disseminação fascista, temos o sistema fascista sionista actual, com sistema de apartheid em relação aos palestinianos e com ocupação imperialista do território palestiniano. Temos ainda o exemplo da tendência cada vez mais fascista existente nos Estados Unidos, com a aprovação de leis como a Patriot Act, permitindo a vigilância e detenção por tempo indeterminado de qualquer cidadão estado-unidense, e da SOPA, ou Stop On-Line Piracy Act, que aponta para a limitação das liberdades de expressão na Internet. Ainda em relação aos Estados Unidos, temos o extremo draconiano de vigilância nos aeoroportos e a caracterização militarista e imperialista das intervenções dos Estados Unidos um pouco por todo o mundo. Temos, ainda, o recrudescimento do neo-nazismo na Europa, em países como a Alemanha ou, por exemplo, em países do leste europeu, considerando importantemente a relação próxima destes países europeus com os Estados Unidos e de estes liderarem ideologicamente os europeus. Finalizando o resumo deste artigo, ter-se-à, então, que para diminuir a disseminação e influência fascista e nazi na geopolítica contemporânea, deverá acontecer que os Estados Unidos deixem de apoiar incondicionalmente Israel, a nível militar, financeiro, político, geoestrategicamente, etc..

 

Transpondo as ideias acima descritas para a droga, ao nível do proibicionismo, temos o exemplo da Lei Seca ( considerando o álcool como uma droga ), dos anos 20 do século XX, nos Estados Unidos, altura em relação à qual se denotou que o proibicionismo não terá resultado, havendo mesmo algumas indicações de aumento de consumo.

 

Assim, estimando o consumo do álcool durante a Lei Seca, usando estatísticas como mortalidade, saúde mental e crime, Miron & Zwiebel ( 1991 ) verificaram que o consumo caíu abruptamente no princípio da Lei Seca, mas que no decurso dos anos seguintes o consumo de álcool também aumentou abruptamente, verificando também que na década subsequente o consumo aumentou para um nível pré-Lei Seca, destacando eu aqui que o álcool estava menos disponível oficialmente, dificultando o acesso ao mesmo, mantendo-se apesar disto o nível de consumo.

 

Noutro artigo, Alcohol Prohibition Was a Failure ( Thornton, 1991 ), Mark Thornton avança que com a Lei Seca, muitos consumidores de álcool mudaram para ópio, marijuana, medicamentos, cocaína e outras drogas, o que, tendo em conta a maior dificuldade efectiva de acesso ao álcool, ajudaria a explicar aquela diminuição no consumo de álcool ocorrida, e já anteriormente indicada. Para mais, Thornton, referindo-se à descida verificada, indica que economicamente isso não será surpresa, já que fazendo um produto de mais difícil acesso, aumenta o seu preço e a quantidade consumida será menor, embora isto não indicará, segundo creio, que a pessoa terá menos desejo de consumir. Outras indicações de Thornton são de que o consumo anual no álcool tinha vindo a decrescer estavelmente antes da Lei Seca e de que o consumo anual no álcool durante a Lei Seca era maior do que tinha sido antes dessa Lei. Importantemente, Thornton refere-se a que a diminuição na quantidade consumida precisa de quatro qualificações que minarão a pretensão proibicionista de um consumo reduzido. Primeiro, a diminuição não foi significativa. Segundo, o consumo de álcool efectivamente aumentou estavelmente após uma queda inicial, avançando que o consumo provavelmente ultrapassaria os níveis pré-Lei Seca se a Lei não tivesse acabado. Em terceiro lugar, os recursos dedicados ao cumprimento da Lei Seca aumentaram juntamente com o consumo, ou seja, esforço de cumprimento mais acentuado não preveniu o consumo. A quarta qualificação indica que aquela diminuição verificada na quantidade de álcool consumida não terá feito da Lei Seca um sucesso, já que para além da quantidade consumida é preciso ter em consideração as consequências sociais globais da Lei Seca, que com esta tiveram características penetrantes e perversas.

 

Temos, então, que o proibicionismo relativamente às drogas remeterá para um maior desejo de acesso e consumo das drogas, realçando-se, e tendo em conta, os constrangimentos de acesso verificados durante a Lei Seca, já mencionados, tendo nós, também, o exemplo da despenalização das drogas em Portugal, em que se terá notado uma diminuição do consumo, estando esta diminuição associada, portanto, ao fim do proibicionismo total.

 

Quanto aos resultados da política de descriminalização das drogas em Portugal, Martins ( 2013 ) faz referência à revista Dependências – Só para Profissionais, de 2009, do Instituto da Droga e da Toxicodependência ( IDT ) de Portugal, na qual o constitucionalista liberal estado-unidense Gleen Greenwald indica o sucesso que Portugal vem obtendo em relação aos demais países da União Europeia, no que diz respeito à descriminalização das drogas e quanto à política de dissuasão, após a entrada em vigor da despenalização em 2001. Greenwald, analisando os dados estatísticos de Portugal, destaca que o consumo de drogas entre a população mais jovem diminuiu, da mesma forma que a mortalidade decaíu de 400 para 290, entre 1999 e 2006. Este mesmo autor registou ainda que o temor de um possível consumo generalizado de drogas em Portugal, com a lei da descriminalização, não se efectivou e que, no que se refere às taxas de uso, pós-descriminalização, Portugal tem as mais baixas da União Europeia, quando comparadas com outros países onde figura a criminalização da droga.

 

Desta maneira, dever-se-à caminhar do proibicionismo para a despenalização das drogas, e mesmo para a liberalização.

 

Em consequência, e pelo já dito no artigo, e também em relação às bebidas alcoólicas, dever-se-à pensar em medidas anti-proibicionistas, como diminuir o preço dos produtos, subsidiando a produção, por exemplo, facilitando o acesso aos mesmos, considerando que o elevado preço tem consequências proibicionistas, prevendo-se, então, a diminuição do consumo, tendo em conta que o proibicionismo aumentará o desejo de consumo.

 

 

Bibliografia

 

Martins, V. L. ( 2013 ). A política de descriminalização de drogas em Portugal ( The drug decriminalization policy in Portugal ) in Serviço Social & Sociedade ( online ), no. 114, pp. 332-346, São Paulo, Apr/June 2013 in http: // dx.doi.org/po1590/SO101-66282013000200007, consultado em www.scielo.br/scielo.php?pid=SO101-66282013000200007&script=sci_arttext em 27/02/2014

 

Miron, J. A. & Zwiebel, J. ( 1991 ). Alcohol Consumption During Prohibition in The American Economic Review, Vol. 81, Nº 2, pp. 242- 247, ( May, 1991 ). Consultado em NBER ( the National Bureau of Economic Research ) Working Paper No. 3675 ( Also Reprint No. 1563 ) Issued in July 1991 em www.nber.org/papers/w3675, em 27/02/2014

 

Resende, S. ( 2012 ). Psicologia de massas do fascismo: uma actualização em www.psicologado.com ( proposto a 01/2012 )

 

--------------- ( 2013 ). Características psicológicas específicas da teleportação psíquica enquanto viagem entre mundos paralelos em www.psicologado.com ( proposto a 08/2013 )

 

Thornton, M. ( 1991 ). Alcohol Prohibition Was a Failure in Cato Policy Analysis No. 157, July 17 1991 em www.cato.org/pubs/pas/pa-157.html, consultado em 27/02/2014

 

publicado por sergioresende às 15:50
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Sexta-feira, 27 de Dezembro de 2013

Tratamento do alcoolismo: uma perspectiva transpessoal

Considera-se, neste artigo, uma perspectiva transpessoal no tratamento do alcoolismo.

 

Assim, considerar em Stanislav Grof ( 2007 ), em A Psicologia do Futuro, a referência, no contexto das emergências espirituais, cruciais no trabalho de Grof, que o autor faz a Carl Jung, um dos precurssores dos Alcoólicos Anónimos ( A. A. ), pelo menos a nível teórico, em que Jung terá dito a um dos fundadores dos A. A. que o que os alcoólicos precisavam ou tinham necessidade era de uma experiência espiritual profunda, em que a ânsia de álcool do alcoólico era equivalente à sede espiritual que o nosso ser tem da totalidade, ou a união com Deus, neste caso.

 

Se relacionarmos experiência espiritual com religião e, em particular, a religião cristã, há que considerar a existência na mesma de Jesus Cristo e, ao nível das profecias, da vinda do Anti-Cristo, no Juízo Final, a sua antítese. Se considerarmos esta experiência um fechamento, um “ closure “, temos então o par antitético religioso espiritual associado ao alcoolismo, o que nos dá uma perspectiva transpessoal associada ao mesmo. Será relevante, pois, que Grof seja um dos fundadores da Psicologia Transpessoal e que Jung seja um dos precurssores ideológicos e teóricos dessa Psicologia, como dos A. A. e da rede mundial dos Doze Passos, sobejamente conhecida no tratamento do alcoolismo, realçando-se a cariz religiosa destas organizações.

 

Intui-se, então, que para indivíduos histéricos alcoólicos devemos recorrer a medidas obsessivas, considerando obsessão antitética da histeria, em que nesta o deslocamento do afecto entre representações é feita bem mais facilmente do que na obsessão, e que para indivíduos obsessivos alcoólicos devemos recorrer a medidas histéricas.

 

Considerando a maior sociabilidade do histérico, em que tenderão a beber socialmente, dever-se-à reduzir a sociabilidade no alcoólico histérico, reduzindo a generabilidade dos estímulos associados à sensação de estar alcoolizado, criando pontos de fixação obsessivos, como limitar os locais de consumo de álcool, ou o tipo de bebida alcoólica consumida como ainda de beber cada vez mais sozinho, limitando a grandeza e o grau das sensações alcoolizadas. Já o obsessivo, que tenderá a beber menos socialmente, teremos que, para o mesmo, deveremos aumentar a generabilidade dos estímulos das sensações associadas a estar alcoolizado, aumentando a presença social no que diz respeito à bebida, aumentando os locais de consumo de álcool ou aumentando o tipo de bebida alcoólica, com mais variação, portanto.

 

Societalmente, e ao nível de políticas governamentais, temos, então, que numa sociedade com predomínio de alcoólicos histéricos deverá haver uma política de fechamento de bares e similares e que, numa sociedade com predomínio de alcoólicos obsessivos deverá haver uma política de abertura de bares e similares.

 

Temos, pois, uma perspectiva transpessoal no tratamento do alcoolismo.

 

 

Bibliografia

 

Grof, S. ( 2007 ). A Psicologia do Futuro. Via Óptima

publicado por sergioresende às 12:17
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