Domingo, 23 de Dezembro de 2012

O sobrecompensatório na mulher

Resume-se inicialmente o meu artigo O palhaço de circo e a depressividade histérica    ( Resende, 2012 ), no qual considera-se o palhaço enquanto representativo de características tipicamente femininas, e no qual se elaboram sobre diversos aspectos sobrecompensatórios da mulher, ou mais particularmente , da histérica, considerando o histerismo mais característico nas mulheres, no contexto da depressividade histérica. Faz-se depois um complemento elaborativo quanto às características sobrecompensatórias da mulher.

 

Acrecente-se, desde já, em relação ao artigo já referido, o realce do mascarar cosmético como aspecto sobrecompensatório, relativamente ao qual, poder-se-ão considerar, aqui, as ideias de D. Anzieu sobre o Ego-pele e envelopes psíquicos, como se pode ver no Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente [ Houzel, Emmanuelli & Moggio ( coord. ) ( 2004 ) ]. Os mesmos, estando na base de funções como escudo pára-excitações e individuação, estabelecerão precocemente a relação do indivíduo com o mundo exterior. Assim, poder-se-à ver como características sobrecompensatórias de uma personalidade, particularmente, a histérica, poderão estar presentes no mascarar cosmético.

 

Já quanto ao resumo do primeiro artigo referido, é essencial perceber que a actividade circense, e a dos palhaços, em particular, é representativo de aspectos humanos individuais e colectivos, ao nível da sociedade. Também interessa saber que nessa actividade há a promoção do desenvolvimento da identidade humana, nas problemáticas que lhe estão relacionadas. Para além disso, a actividade dos palhaços reflectirá problemáticas que, ao longo da vida, cada indivíduo irá eventualmente encontrar e enfrentar, como, por exemplo, a agressividade, no contexto depressivo-histérico, a sexualidade feminina, ou mais geralmente, a psicossexualidade, como ainda características particulares da mulher, como a menstruação.

 

Temos, por exemplo, o falismo sobrecompensatório, que se poderá ver nos sapatos grandes do palhaço. Refiram-se, neste contexto, os versos do artista musical Prince:     “ Act your age, mama, not your shoe size “, indicando que a sobrecompensação fálica da mulher fá-la regredir ou estar fixada a um nível mais precoce, menos maduro. Noutra nota, indique-se a análise feita por Bruno Bettelheim em Psicanálise dos Contos de Fadas, relativamente ao conto de fadas Gata Borralheira, no qual se pode ver a associação entre o sapato e a sobrecompensação fálica, relacionada com o sentimento de perda do pénis. Assim, nessa análise, é referido que não foi tanto o sapato que se ajustava ao pé que decidiu quem seria a noiva certa, mas antes o sangrar do pé no sapato que indicou quais eram as noivas erradas, o que se relaciona com a menstruação, associada em fantasia com o sentimento de perda do pénis, com o elemento sobrecompensatório no tamanho do sapato.

 

Outro aspecto sobrecompensatório revela-se na relação entre depressividade e personalidade histérica, considerando o histerismo mais característico na mulher. Assim, nesta relação, atente-se à característica particular do histérico de angústia depressiva. A mesma dirá respeito à certeza da perda do pénis, ou mais geralmente, da perda do amor do objecto, já que este é considerado, pelo sujeito, responsável pela perda do pénis. Neste contexto depressivo-histérico, insere-se a batalha anti-depressiva do sujeito, na luta contra o afundamento na depressão. Particularmente, esta luta é feita, por exemplo, pela promiscuidade sexual e pela verbalização externalizada agressiva, para que a agressividade introjectada anteriormente, que deu ao indivíduo o sentimento de perda do amor do objecto, não se vire mais contra o próprio. Na sua relação com os palhaços, esta externalização verbal agressiva anti-depressivamente sobrecompensatória, está presente nas actuações agressivas habituais dos palhaços, como chapadas e pontapés, inserindo-se aqui uma função social importante do palhaço. Essa função é a de, na infância, promover e satisfazer catarticamente a agressividade, através do riso, fenómeno facilmente identitário na infância, para que em posteriores fases da vida, a mesma esteja modulada, e possa ser utilizada, particularmente, a nível sublimatório.

 

A sobrecompensação também estará presente na pintura exagerada do palhaço e na utilização de cosméticos faciais, habitualmente associados à mulher. Intuitivamente, neste contexto, e pelo já dito, dir-se-à que há uma agressividade inerente na pintura cosmética habitualmente associada à mulher. Para mais, esta pintura apontará para algo não genuíno, algo de acrescento, de mascarar, associando-se o sobrecompensatório ao mascarar cosmético, como, por exemplo, o pintar sobrecompensatório dos lábios de vermelho, sobrecompensatório por sentir-se diminuída sexualmente, em que a mesma pintura, indicada, por exemplo, por Desmond Morris como representando excitação sexual, nos elucida que essa mulher quer esconder a excitação sexual. Pensando nas características fisionómicas da mulher e na excitação sexual e capacidades multi-orgásmicas da mulher no dia-a-dia, temos que o esconder da excitação sexual estará relacionado com o facto  de a mesma ser manifesta para quem esteja a observar. Na excitação sexual, haverá o esconder mascarado, por a mesma ser manifesta, por exemplo, no avermelhamento da face e por os lábios tornarem-se mais vermelhos e carnudos, sendo claramente manifesto, portanto, e será essa falta de privacidade que as raparigas e mulheres quererão esconder. A falta de privacidade referida implicará correlatos diminuidores da auto-estima.

 

Também a roupa, porventura exuberante e pouco sóbria da histérica, indicará uma sobrecompensação em relação a sentimentos depressivos sentidos pelo próprio, tendo já nós feito referência às características depressivas do histerismo. Assim, este tipo de roupas serão utilizadas de modo anti-depressivo, e no sentido de combater a entrada em depressão. Isto levar-nos-à a pensar no título de um dos livros de Coimbra de Matos, psicanalista português, " O Desespero: Aquém da Depressão " ( 2007 ). Ou seja, leva-nos a pensar que estas mulheres estão em desespero, estão desesperadas.

 

Já para este artigo, refira-se a chamada síndrome da mulher invisível, que indicará a grande carga de afecto da vivência da mulher no dia-a-dia, antes da menopausa, para ela sentir habitualmente essa diferença após a menopausa, no sentido de se sentir observada, sentido esse que estará relacionado com as características sedutoras da mulher. A síndrome apela a algo ao nível da subcompensação do narcisismo relacional, e indica, por contraste, sentimentos sobrecompensatórios nesse mesmo narcisismo, em fases anteriores da vida.

 

De outro modo, os óculos escuros grandes, mais habitualmente utilizados por mulheres jovens, indicará uma sobrecompensação em relação ao sentir-se observada, o que podemos contextualizar mo síndrome da mulher invisível, já referido.

 

Não deve deixar de ser referido o famoso desejo sobrecompensatório da mulher, derivado da inveja do pénis, em ter filhos, já referido, por exemplo, por Freud.

 

Refira-se, também, que a sombra, escura, nos olhos da mulher, ou o lápis escuro no contorno dos olhos, em que manifestamente indicará um domínio controlador, já que representará a observação a partir do espaço sideral das actividades humanas, indicará, latentemente, uma sobrecompensação da Sombra, que como se indicará a seguir, será uma sobrecompensação da Sombra anal, e no contexto Junguiano, uma diminuição da Máscara, esta enquanto arquétipo de adaptação externa. Isto, tendo em conta um sistema de equilibração Junguiano ( Jung, 1988 ), em que há arquétipos que se opõem, num sistema dialéctico, no qual a Sombra se opõe à Máscara. Considere-se, nesta sobrecompensação da Sombra, associada à sombra cosmética, a carga psicológica, afectiva e cultural relativa à Sombra Junguiana, e a tendência sobrecompensatória que essa mulher revela em relação a eventuais medos vindos do espaço sideral, para alem do sentimento sobrecompensatório de domínio controlador universal, associado à observação controladora do espaço, ou seja, sentindo-se observada a partir do espaço por satélites, por exemplo, por entidades extraterrestres e/ou Deus, sentindo-se diminuída com isso, daí a sobrecompensação. Pelo dito, isso é revelador de um forte sentimento de se sentir observada e de uma sobreestimulação de aspectos do dia-a-dia, em que a mulher lidará menos bem com a excessiva carga de estímulos, e dependendo mais deles, o que apontará para deficiências e regressões à fase de constituição do escudo pára-excitações, e que indicará uma maior dependência de campo dessas mulheres. É de reparar que estas deficiências, ao nível do escudo pára-excitações, estão, precisamente, previstas por Anzieu, relativamente à patologia histérica, no contexto do Ego-pele e envelopes psíquicos, e como se pode ver naquele Dicionário de Psicopatologia já referido. Isto, tendo-se em conta a maior prevalência da histeria nas mulheres. Ainda de nota, ao nível destas deficiências, e neste contexto, é de referir a crescente utilização da tatuagem e do piercing nas novas gerações, o que apontará para crescentes dificuldades de lidar com a sobrecarga de estímulos externos, em relação aos quais a tatuagem e o piercing servirão de fronteira deflectora.

 

Realce-se, agora, neste contexto, o meu artigo Características sobrecompensatórias das fases psicossexuais da Máscara e Sombra da histeria capitalista ( Resende, 2010 ). Aí, indico que o histérico capitalista, considerando o histerismo mais característico na mulher, caracteriza-se por uma Sombra com sobrecompensação anal, tendo em conta a importância do dinheiro na sociedade capitalista, perspectivando que o dinheiro tem caracterizações anais, e isto pelas suas características transitivas, do que está fora e do que está dentro, funcionando como meio de relação com o exterior. Relacione-se este aspecto sobrecompensatório da Sombra anal, e sua relação com o dinheiro, com o já indicado acerca da diminuição da Máscara, em que haverá uma maior dependência de estímulo externos, maior dependência de campo, o que nos leva a pensar que estas mulheres estarão mais susceptíveis de serem influenciadas por propaganda e publicidade comercial, no sentido de posteriormente fazerem compras. É de dizer ainda que, neste último artigo referido, indico que o histérico capitalista caracteriza-se por uma Máscara com sobrecompensação oral e fálica, pelas organizações psicossexuais típicas do histérico, em particular, capitalista. Tendo em conta o já dito, a utilização da sombra nos olhos da mulher, revelando uma sobrecompensação da Sombra, com diminuição da Máscara, indicará, nestas mulheres, uma diminuição de características orais e fálicas. Pelo agora explanado, a tendência destas mulheres em fazerem compras, como amiúde acontece, não estará tão relacionado com características oro-fálicas, mas estar-se-à mais ao nível do narcisismo anal, em que os produtos comprados serão considerados uma extensão do narcisismo do próprio, em que sobrecompensatoriamente se tentará lidar com um sentimento de inferioridade narcísica. Esta complementação narcísica estará ao nível anal, falando nós, pois, em falhas do narcisismo anal.

 

Este tipo de complementação narcísica, ao sentimento de inferioridade narcísica, a nível sobrecompensatório, poderá ser encontrado, por exemplo, ao nível dos acessórios, geralmente atribuídos e associados à mulher. Como exemplo, poderemos indicar que uns brincos etnograficamente associados a África, poderá corresponder a um sentimento histórico associado à colonização de África, em que a mulher se sente  “ colonizada “, no mesmo sentido em que o famoso artista musical Prince utiliza no título de uma canção sua, “ Colonized Mind “, em que esses brincos representam uma sobrecompensação em relação a uma subcompensação colonizante. Serão utilizados, eventualmente, no contexto do Capitalismo global, no contexto do neo-colonialismo capitalista. Esses mesmos brincos poderão reflectir uma culpabilidade inconsciente dessa mulher em relação ao afastamento, ao distanciamento, relativamente àquilo que é considerado o berço da Humanidade, que é África, em relação, pois, às origens da Humanidade. Outro exemplo, também em relação aos brincos, será no sentido da utilização de brincos de etnia cigana, que, tendo em conta a história do povo cigano, de migrações constantes, e de estarem dispersos, por exemplo, por toda a Europa, reflectirá um sentimento sobrecompensatório em relação ao sentido pela mulher, que será o sentir-se pouco enraizada, pouco identificada com os valores nacionais, ou ao nível de blocos estratégicos. Em geral, a utilização de acessórios estará correlacionada positivamente com o sentimento de inferioridade narcísica, como se pode ver ainda, por exemplo, na utilização excessiva de acessórios, com o exemplo preferencial do consumo excessivo de sapatos, por parte da mulher.

 

O uso excessivo de sapatos diferentes por parte da mulher poderá ser considerado noutra perspectiva, como se pode ver em Catar sexual feminino enquanto fobia social  ( Resende, 2012 ). Indica-se, aí, que na ocorrência variada do surgimento da menstruação nas várias mulheres, em que a mulher não sabe quando a outra está menstruada, há o sentimento de estar a sugar sexualmente o sangue de outra mulher, o catar sexual, o comportamento interrelacional sexualizado típico entre mulheres, surge como uma ameaça de castração, em que a menstruação fará lembrar o sinal depressivo de perda do pénis já efectuada. Ora, esta ameaça de castração remete-nos para algo fóbico, em que a mulher tentará evitar o contacto social, mas em que ocorrerá um deslocamento contra-fóbico, para a mesma, ou outras mulheres, fundamentando isso relacionamentos sociais tipicamente histéricos. Estas características indicam que haverá uma tentativa de controlar externamente a fobia social, já que assim será de mais fácil manejo. Este evitamento e fobia social, com fuga para a frente, ajudará a explicar a sociabilidade típica dos histéricos assim como a superficialidade também típica dos relacionamentos histéricos, em que o movimento contra-fóbico dará conta da sociabilidade, enquanto que o movimento fóbico dará conta da superficialidade. Isto, com a noção de que o histerismo é mais tipicamente feminino. Ora, relativamente ao exemplo do uso excessivo de sapatos, isso apontará manifestamente para uma dominação hierárquica sobre outras mulheres, já que indicará, aparentemente, que não necessita delas para funcionarem como objecto contra-fóbico. Mas dir-se-à que o afecto do objecto contra-fóbico nas outras mulheres é deslocado sobre os sapatos, em que estes continuam a funcionar como objectos contra-fóbicos. Ou seja, a ansiedade social permanece, em que o conteúdo latente indica fobia social, relacional, semelhante às restantes mulheres. Neste exemplo do excesso de sapatos diferentes, temos que o seu uso sobrecompensatório por parte da mulher nos remete para ansiedade e fobia social, e tendo em conta o já dito quanto à complementação narcísica do próprio, nos remete para um sentimento de inferioridade narcísica.

 

Outra sobrecompensação, envolvendo sapatos, são os sapatos de salto alto, nos quais a mulher parece mais alta, indicando que a mulher se sentirá inferiorizada, particularmente, em relação aos homens, por estes, geralmente, serem maiores e mais altos. Psicanaliticamente, dir-se-à que é a rapariga pequena que, na ponta dos pés, tenta alcançar a figura paterna, revelando-se carente e a necessitar de afecto.

 

Continuando, já a zona, entre os olhos e as sobrancelhas, ou no contorno dos olhos, pintada de azul, que representará, do mesmo modo, o domínio controlador manifesto, a partir dos céus, em observação, havendo uma indicação manifesta de o azul enquanto estando no Céu, havendo, pois, características divinizantes, indicará, particularmente, no contexto das sociedades cristãs, e sobrecompensatoriamente, a vivência latente dessa mulher num inferno, que se constituirá enquanto pouco ou nenhum controlo, da mulher, dos estímulos do dia-a-dia, que como já vimos acontece amiúde com mulheres deste tipo.

 

Na mesma linha, a pintura na mesma zona dos olhos da côr verde, em que o verde é geralmente atribuído à característica da esperança, indicará que a mulher estará sobrecompensatoriamente a revelar que, latentemente, a mulher perdeu a esperança, e se encontra em desespero, em desesperança, numa linha depressiva.

 

O sobrecompensatório também se pode ver nas unhas da mulher, no deixar crescer as unhas, como, em particular, por pintar as unhas. Realce-se aqui o facto “ geopsíquico “ de Portugal ter geologicamente a forma de uma cara, com uma boca na zona de Lisboa, sua capital. Agora, atente-se que o termo herói tem a significância psicolinguística, em que he – ou ele em inglês e rói, em português, indicar que o herói, particularmente masculino, rói, e o que mais se aproxima desse significado é roer as unhas. Para além disso, temos o termo heroína, que em português, e noutras línguas, poderá significar a droga, como aquela mulher que desenvolve actos heroicos, bravos, nobres, etc.. Tendo em conta o deixar crescer as unhas e o pintar das mesmas, das mulheres, parece verificar-se uma sobrecompensação em relação ao termo heroína, enquanto droga, e uma sobrecompensação à diminuição sentida relativamente à prevalência histórica de heróis masculinos, não tanto mitológicos, mas mais historicamente, podendo nós referir, por exemplo, o primeiro termo do hino nacional português, heróis, na expressão heróis do mar, com referência aos intervenientes dos Descobrimentos Portugueses, desconsiderando, dizia, completamente o significado de heroína enquanto actos heróicos. Psicologicamente, há uma condensação do afecto em relação à mesma representação, em que parece que esse afecto não permite à mulher fazer a distinção dos dois significados da mesma representação, o que impedirá a mulher de desenvolver mais acentuadamente actos heróicos, históricos e épicos.

 

O aspecto sobrecompensatório também se pode verificar naquele que vai sendo um hábito em muitas mulheres, particularmente, pós-menopáusicas, que vão tendo cabelos brancos, que é o de pintarem os cabelos. Tendo em conta a fase da vida em que isto habitualmente acontece, será marcante o facto de se ter cabelos brancos, já que é uma altura em que se poderá avaliar o que essa mulher conseguiu de significativo na vida. O que aqui se transmite é que o mascarar sobrecompensatório do pintar o cabelo, indica o não saber lidar com o envelhecimento, não tão bem, por exemplo, como os homens, que habitualmente não pintam o cabelo, e revela o esconder do sentir-se diminuída enquanto mulher, historicamente, e enquanto mulher, na sua vida pessoal. Historicamente, por, nas sociedades ocidentais, particularmente, haver ou ter havido um grande domínio por parte dos homens nos vários campos do saber e das artes, em relação às mulheres. A mulher, mascarar-se-à, portanto, pintando o cabelo, geralmente parecendo mais nova, dando indicações manifestas que, mesmo nessa fase da vida, ainda poderá alcançar algo de significativo e de contribuidor para a sociedade, em geral. Repare-se, ainda noutra perspectiva, como este pintar dos cabelos brancos, parecendo mais nova, poderá relacionar-se, sobrecompensatoriamente, enquanto tentativa de lidar com o já referido fenómeno da mulher invisível.

 

Também é de realçar, voltando à pintura cosmética, a pintura exagerada das mulheres aquando da menstruação, o que revelará, no mesmo sentido, uma tentativa sobrecompensatória de esconder algo com o qual se sentem diminuídas, a menstruação. Esse algo, pelo menos em parte, poderá estar relacionado com aquela falta de privacidade, já referida quanto à excitação sexual, que, neste caso, reportará, para além do cheiro indicativo, às feições faciais, que se alterarão, particularmente, por influências hormonais associadas à menstruação.

 

A outro nível sobrecompensatório, poder-se-à pensar na mala, que é utilizada sobremaneira pelas mulheres, em que a mesma é relativamente grande, que refectirá uma utilização sobrecompensatória relativamente ao sentimento de falta de controlo dos estímulos da realidade externa, à qual já se fez referência neste artigo, em que tentará controlar essa falta de controlo pela sobrecompensação utilitária da mala grande. A associação entre a mala grande e os estímulos externos advirá do facto de que todos os humanos nascem de um útero, com passagem pela vagina, com associação estrita entra a mala e o útero e vagina, portanto.

 

Para mais, a contínua utilização e preferência, das mulheres, de vestidos brancos de casamento, revelando, os mesmos, a pureza e a castidade, das mulheres que os utilizam, representará, no contexto societal capitalista, uma sobrecompensação em relação ao comportamento habitual, nestas sociedades, da promiscuidade sexual, como já se referiu. Haverá uma identificação latente, com eventuais comportamentos manifestos, com o comportamento de promiscuidade sexual.

 

Ainda, a fantasia habitual de se considerar as raparigas e mulheres, nas sociedades capitalistas, enquanto princesas, revelará o sentimento sobrecompensatório das mulheres enquanto não tendo contribuído para a sociedade, particularmente nas sociedades histéricas capitalistas. Repare-se que não é habitual a atribuição da designação de príncipe, a rapazes ou a homens. Isto, tendo em conta o domínio das contribuições dos homens a nível artístico, científico e intelectual, ao nível histórico, revelando um sentimento único de reiniciar a história para as mulheres, considerando que as mesmas quererão equilibrar o desenvolvimento que as mesmas sentirão em relação aos homens. Isto, tendo em conta que, em muitas sociedades, a monarquia é considerada oficialmente num plano meramente simbólico. Repare-se, contudo, que esta consideração e designação de princesas em relação a raparigas e mulheres, reflectirá sobrecompensatoriamente uma baixa auto-estima dessas raparigas e mulheres, facto esse que será utilizado para vender revistas côr-de-rosa, lidas particularmente por donas-de-casa, revistas essas que fazem referências frequentes à monarquia, e a fenómenos que terão características semelhantes, como outras celebridades.

 

Atentemos, ainda, à característica organização oro-fálica da histérica, com fortes fixações a este nível, derivado de frustrações, e relacioná-la com o aspecto da língua enquanto falo, representando uma síntese da frustração oro-fálica, o que nos fornece uma base interessante para os lapsos inconscientes de linguagem, com uma associação a uma maior ou menor intensidade verborraica, precisamente mais caracteristicamente histérico. Isto, claro está, considerando a histeria mais característica na mulher. Em quaisquer dos casos, é conhecida a maior fluência verbal na mulher.

 

Uma vertente sobrecompensatória particularmente é o comportamento sexualizado tipicamente feminino, no dia-a-dia da mulher, relacionado com as suas características fisionómicas e capacidades multi-orgásmicas, em que haverão predominantemente orgasmos clitoridiano-fálicos sobrecompensatórios, e não tanto orgasmos vaginais, genitais, mais maduros.

 

Antes do comentário final, é de fazer uma análise extremamente importante. É respeitante à pintura sobrecompensatória das pestanas, realçando-as, e, porventura, alongando-as. Isto corresponderá a um sentimento latente de que a capacidade visual é diminuta, e no contexto edipiano, corresponderá a um sentimento de que a ameaça presente no mito de Édipo, em que este vaza os olhos, cegando, se cumpriu, sentindo-se a mulher, pois, cega. Isto, corresponde, neste artigo, à angústia já referida, a angústia depressiva, à certeza da perda do pénis, ou mais geralmente, à perda do amor do objecto. Como se pode ver em Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica ( Resende, 2012 ), essa angústia estará mais ao nível borderline, e não tanto neurótico, de castração, portanto. Isto, porque a ameaça, em fantasia, já se cumpriu. Isto implica aspectos regressivos importantes da linha neurótica para a linha borderline, ou uma forte fixação nesta última. 

 

Finalizando, e em resumo, dir-se-à que as características sobrecompensatórias, descritas neste artigo, e respeitantes a várias fases da vida da mulher, nos indicam que a inveja do pénis é o tema e a base central, que leva às tendências sobrecompensatórias, na vida psicológica da mulher, o que nos reporta para as sociedades falocêntricas em que vivemos, particularmente as sociedades histéricas capitalistas matriarcais.

 

 

Bibliografia

 

Coimbra de Matos, A. ( 2007 ). O Desespero: Aquém da Depressão ( 2ª edição ). Climepsi Editores

 

Houzel, D., Emmanuelli, M. & Moggio, F. ( Coord. ) ( 2004 ). Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente ( tradução portuguesa ). Climepsi Editores

 

Jung, C. G. ( 1988 ). A prática da psicoterapia in Obras Completas de C. G. Jung, Vol. XVI ( tradução portuguesa ). Petrópolis: Editora Vozes. ( Edição original, 1971 )

 

Resende, S. ( 2010 ). Características sobrecompensatórias das fases psicossexuais da Máscara e Sombra da histeria capitalista em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 29/11/2010

 

Resende, S. ( 2012 ). Catar sexual feminino enquanto fobia social em www.psicologado.com ( proposto a 06/2012 )

 

Resende, S. ( 2012 ). Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica em www.psicologado.com ( proposto a 12/ 2012 )

 

Resende, S. ( 2012 ). O palhaço de circo e a depressividade histérica em www.psicologado.com ( proposto a 12/2012 )

publicado por sergioresende às 10:11
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Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2012

Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica

Resumindo, inicialmente, o meu artigo Desenvolvimento da personalidade histérica para uma verdadeira estrutura de personalidade ( Resende, 2008 ), onde indico as características pseudo-genitais do histerismo, complemento essa ideia com a noção da angústia depressiva, que marcará mais a personalidade histérica do que propriamente a angústia de castração. Avanço ainda com algumas características que mais enquadrarão a personalidade histérica no fenómeno borderline.

 

Assim, enuncia-se a personalidade histérica enquanto organização pseudo-genital, sem uma verdadeira estrutura genital, portanto, com características pré-edipianas predominantes, como marcadas fixações e regressões oro-fálicas. É de indicar que segundo Bergeret ( 1997 ), a personalidade histérica é uma estrutura verdadeira de personalidade, com angústia de castração predominante, como ainda com recalcamento predominante. Nesse artigo, inicialmente referido, considera-se a observação clínica e quotidiana de histéricos, onde se desenvolve a noção da personalidade histérica como pseudo-genital. Para além de fortes fixações e regressões oro-fálicas predominantes, o recalcamento, como mecanismo de defesa predominante, indica um menor desenvolvimento da personalidade, já que o indivíduo histérico tende a não lidar conscientemente com as problemáticas que lhe são mais conflituais, ao contrário do mais evoluído juízo de condenação do obsessivo. Para além disso, muitas das características genitais que são apontadas, por exemplo, por Bergeret ( 1997 ), como reciprocidade, valoração do outro e constância objectal, não estarão presentes no histérico, se tivermos em consideração aquelas observações referidas. Edipianamente, considera-se, sobretudo, o pseudo-Édipo positivo, com a ambivalência homossexual pré-edipiana predominante, na rapariga e na mulher, que desenvolveu-se na relação pré-edipiana com a mãe.

 

Já para o presente artigo, tenha-se a noção de que o histerismo é mais característico em mulheres. Considere-se, sobretudo, que ao invés da angústia de castração, estaremos a falar, isso sim, de uma angústia depressiva, de uma angústia de certeza de perda do pénis, o que só vem a ser confirmado em fantasia pela menstruação, o que nos remete para uma angústia de perda de amor do objecto, já que em fantasia, o objecto terá sido responsável pela perda do pénis. A angústia de perda do amor do objecto implicará uma diminuição significativa da auto-valoração narcísica. Esta diminuição levará, por seu turno, à já referida desvaloração do outro, pois, num sistema de equilibração narcísica, desvalorizando o outro, o próprio será autoperspectivado a um nível mais valorativo, por precisamente o auto-narcisismo ser dimuído. Podíamos ver aqui, também ao nível das massas, a génese de sistemas xenófobos. Continuando, essa angústia referida será, pois, depressiva e fará enquadrar mais a personalidade histérica no fenómeno borderline, tendo em conta que este caracteriza-se, sobretudo, por desenvolvimentos depressivos. Esta angústia depressiva também caracterizará o homem histérico, em que falaremos mais em erecções fálicas sobrecompensatórias, já que haverá essa certeza de perda de amor do objecto, tal como sentido em fantasia, mentalmente, o que em conjunto com a histérica, que terá predominantemente orgasmos clitoridiano-fálicos sobrecompensatórios, e não tanto orgasmos vaginais, genitais, mais maduros, o que só aí nos indica o menor desenvolvimento do histerismo, nos remete, dizia, para o fenómeno da promiscuidade sexual característica nas sociedades histéricas capitalistas. Estaremos a falar, pois, em sobrecompensações anti-depressivas. Em particular, o homem histérico ter-se-à sentido diminuído oro e falo-narcisicamente, ou seja, com frustrações orais e fálicas, em que podemos ver a língua como um falo, tendo nós a mesma como síntese da frustração oro-fálica, o que nos fornece uma base interessante para os lapsos inconscientes de linguagem, com uma associação a uma maior ou menor intensidade verborraica, precisamente mais caracteristicamente histérica. Continuando, terá experienciado, portanto, situações a esse nível oro-fálico, em que terá sentido a perda do amor do objecto. Temos, então, quer no caso da histérica, quer do histérico, características carências afectivas.

 

O enquadramento do histerismo no fenómeno borderline poderá ser, por exemplo, consultado em A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Klein ( Resende, 2010 ). Aí, desenvolvo a noção, relacionando a posição depressiva de Klein com a depressividade, de que a depressividade se caracterizará mais pela projecção do que pela introjecção. Isto é baseado na noção de que a economia depressígena básica, de afecto dado e não correspondido, terá características projectivas, já que o afecto é dado, é externalizado. É feito, ainda, o enquadramento da depressividade nos quadros borderline. Assim, tendo-se em conta as características projectivas referidas, considere-se a externalização verbal agressiva fálica, típica no histérico [ ver, por exemplo, Complexo de Anti-Cristo – Perspectiva Psicodinâmica ( Resende, 2007 ) ], podendo nós falar aqui em projecção histérica, de modo mais ou menos maciço. Um exemplo paradigmático da externalização verbal agressiva, típica no histérico, é o fenómeno das chamadas “ mean girls “, ou “ raparigas más “, típico na adolescência, nas escolas secundárias, particularmente em regiões capitalistas, em que habitualmente são feitos comentários pejorativos, denegridores, desvalorativos, etc., do outro. Continuando, mais classicamente, teríamos, pois, projecção maciça de características histéricas, ou dito de outra maneira, meios de relacionamento histéricos com bases psicóticas, o que caracterizará  a organização borderline.

 

Esta noção de projecção histérica é considerada por mim como um tipo de mecanismo de ataque, que em conjunto com o controlo histérico, são tidos como dois tipos base de mecanismos de ataque. Estes mecanismos de ataque contrapõem-se aos mecanismos de defesa, no sentido em que ao invés de se destinarem à defesa do ego, como os de defesa, destinam-se sobretudo à preservação de relacionamentos interpessoais e à preservação de fenómenos de massas [ ver Mecanismos de defesa e Mecanismos de ataque ( Resende, 2010 ) e Enunciação de Mecanismos de ataque         ( Resende, 2010 ) ]. Estas características enquadram-se bem com a sociabilidade típica do histérico. Já um tipo particular de projecção histérica será o ataque preemptivo, que podemos ver num exemplo relativamente a fenómenos de massas. Esse ataque preemptivo será feito, particularmente, por sociedades histéricas capitalistas, com o seu extremo, militarismo expansionista, em que num exemplo recente, terá sido feito com fundamentos falsos, em que, posteriormente, através desses fundamentos falsos, terá sido indicado que essas sociedades histéricas capitalistas estariam sob risco de ataque, o que levou, precisamente, como indicado a nível governamental, ao ataque externo para não ser atacado internamente. Em consequência, isso levou a um sentimento de insegurança a nível das massas, e a que as pessoas cedessem mais facilmente direitos cívicos a troco de segurança. Ora, isto remete-nos para outro mecanismo de ataque, que é o controlo histérico, pois, precisamente, terão sido utilizados fundamentos falsos para atingir o objectivo deste controlo das massas.

 

Quanto àquela externalização, projecção, verbal agressiva típica no histérico, é de considerar, no contexto da depressividade, a noção clínica da prévia introjecção de agressividade, particularmente em relacionamentos precoces, e a posterior agressividade voltada sobre o próprio. Assim, como já indicado exemplarmente em relação à promiscuidade sexual, teremos, aqui, a externalização agressiva como fenómeno anti-depressivo, na luta do indivíduo contra o afundamento na depressão.

 

Considerando a externalização verbal agressiva referida, característica do histérico, e num enquadramento borderline, é de referir, sobremaneira, a tendência para a sedução do histérico, que, relacionados os fenómenos, nos remete para o estilo de relacionamento clivado amor/ódio, típico dos relacionamentos borderline. Isto mais corrobora o enquadramento da personalidade histérica no fenómeno borderline.

 

É de realçar, pelo já dito, que as bases psicóticas, referidas, estarão relacionadas precisamente com a angústia depressiva, já que há uma angústia de certeza de perda do pénis, ou mais geralmente, de perda de amor do objecto, no passado mais ou menos precoce, o que em conjunto com o já dito sobre o histérico, nos remete para fortes fixações precoces e regressões a esse nível.

 

Deste modo, pelo explanado neste artigo, teremos, pois, a personalidade histérica bem enquadrada no fenómeno borderline, em que a mesma se caracterizará mais por uma angústia depressiva, com sentimento de perda do amor do objecto, consubstanciando o enquadramento referido, já que a linha depressiva, ou, os quadros depressivos são centrais no fenómeno borderline, havendo ainda as já indicadas fortes fixações e regressões a um nível precoce. Por isto, fundamenta-se a pseudo-genitalidade e a pseudo-estruturação da personalidade histérica, considerando-se, claro está, a organização borderline enquanto aestruturação.

 

 

 

Bibliografia

 

Bergeret, J. ( 1997 ). A personalidade normal e patológica. Climepsi Editores

 

Resende, S. ( 2007 ). Complexo de Anti-Cristo – Perspectiva Psicodinâmica em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 28/10/2007

 

Resende, S. ( 2008 ). Desenvolvimento da personalidade histérica para uma verdadeira estrutura de personalidade em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 30/12/2008

 

Resende, S. ( 2010 ). Mecanismos de defesa e Mecanismos de ataque em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 15/10/2010

 

Resende, S. ( 2010 ). A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Klein em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 08/11/2010

 

Resende, S. ( 2010 ). Enunciação de Mecanismos de ataque em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 14/11/2010

publicado por sergioresende às 11:40
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