Terça-feira, 16 de Setembro de 2014

Complemento a O palhaço de circo e a depressividade histérica

Complemento a O palhaço de circo e a depressividade histérica

 

Resume-se inicialmente o artigo O palhaço de circo e a depressividade histérica             ( Resende, 2012 ), para enquadrar a importância da influência historico-cultural do palhaço, com a sua função social de catarticamente modular a agressividade, no sentido de representar problemáticas femininas, em geral, como referido nesse artigo, com o realce aqui do palhaço ser alvo de risadas em massa e da importância da ansiedade narcísica no histérico, com a histeria mais tipicamente feminina, o que nos indicaria algum tipo de medo das mulheres em relação a palhaços.

 

Nesse artigo, considera-se o indicado no artigo de Yoram Carmeli, Circus play, Circus talk, and the Nostalgia for a Total Order, no sentido de o circo, e a actividade dos palhaços, serem representativos de aspectos humanos individuais e colectivos. Relacionam-se, depois, estes aspectos, com a particularidade de o circo, incluindo os palhaços, ser dirigido a crianças, mas executado por adultos, que reflectirão problemáticas que ao longo da vida de cada indivíduo o mesmo irá eventualmente encontrar e enfrentar. No caso dos palhaços, temos a agressividade, no contexto depressivo-histérico, a sexualidade feminina, ou mais geralmente, a psicossexualidade, como ainda características particulares da mulher, como a menstruação.

 

Assim, temos o falismo sobrecompensatório, que se poderá ver nos sapatos grandes do palhaço. Temos, relacionadamente, duas notas. Primeiro, são de notar os versos do famoso artista musical Prince, na célebre canção Kiss: “ Act your age, mama, not your shoe size “, indicando que a sobrecompensação fálica da mulher fá-la regredir ou estar fixada a um nível mais precoce, menos maduro. Para além disso, numa outra nota, refira-se o conto de fadas Gata Borralheira, tal como descrito por Bettelheim, em Psicanálise dos Contos de Fadas. Pode ver-se a associação entre o sapato e a sobrecompensação fálica, relacionada com o sentimento de perda do pénis, no exemplo, analisado pelo autor, de que não foi tanto o sapato que se ajustava ao pé que decidiu quem seria a noiva certa, mas antes o sangrar do pé no sapato que indicou quais eram as noivas erradas, o que se relaciona com a menstruação, associada em fantasia com o sentimento de perda do pénis, com o elemento sobrecompensatório no tamanho do sapato. Isto enquadrado na inveja do pénis, que se pode associar à mulher em geral.

 

Para mais, temos a angústia depressiva, em que o nariz vermelho apontará para o cheirar particular do sangue menstrual, da própria, e das outras mulheres, angústia essa vivida, então, reflectindo a certeza da perda, no passado, mais ou menos precoce, do pénis, que indicará ao indivíduo uma perda de amor do objecto, já que este é considerado, pelo sujeito, responsável pela perda do pénis. Este aspecto do sangue menstrual, confirmador em fantasia da perda do pénis, estará na base da raiva narcísica que despoletará a agressividade, pela violência da amputação imaginada naquela perda.

Há ainda o caso particular da água a ser esguichada da flôr da lapela, como que a agredir o outro, o que nos remete para a problemática do líquido vaginal a sair da vagina, no enquadramento da excitação sexual e seus clímaxes, representando a flôr o cheiro desse líquido vaginal, e em que mais especificamente a saída da água da flôr nos apontará para um aspecto da personalidade depressiva que é o de se constituir enquanto identidade em perda.

 

Quanto à relação entre depressividade e personalidade histérica, considerando o histerismo mais característico na mulher, remete-se para outro artigo meu, Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica, no qual indico que particularmente o histérico caracterizar-se-á por uma angústia depressiva, pela certeza da perda do pénis, ou mais geralmente, da perda do amor do objecto, no passado, apontando ainda a batalha anti-depressiva, na luta contra a tal identidade em perda e contra o afundamento na depressão. Isto, particularmente, e sobrecompensatoriamente, pela promiscuidade sexual, tentando obter mais líquido vaginal, acrescente-se, e pela verbalização externalizada agressiva, para que a agressividade introjectada anteriormente, que deu ao indivíduo o sentimento de perda do amor do objecto, não se vire mais contra o próprio.

 

É de relacionar esta externalização verbal agressiva e sobrecompensatória do histérico com as actuações habituais dos palhaços, em que, para além do esguichar agressivo da água da lapela, dão pontapés e chapadas nos outros palhaços, fazendo-os eventualmente cair.

 

Refira-se aqui uma função social importante dos palhaços, que é a de, na infância, promover e satisfazer catarticamente a agressividade, através do riso, fenómeno facilmente identitário na infância, para que em posteriores fases da vida, a mesma esteja modulada, e possa ser utilizada, particularmente, a nível sublimatório, e não descompensadamente, como amiúde acontece.

 

Para finalizar o resumo, refira-se a vestimenta hiperbolizadamente garrida e excêntrica do palhaço, que reflectirá um exagero representativo da exuberância da indumentária pouco sóbria habitualmente existente no histérico e histérica, havendo ainda outra relação hiperbolizada entre o palhaço e a mulher que é a pintura exagerada do palhaço e a utilização de cosméticos faciais habitualmente associados à mulher.

 

Assim, indicar-se-á o palhaço, em geral, como uma síntese de problemáticas femininas, como a sexualidade feminina, o característico falismo sobrecompensatório, a menstruação e a agressividade envolvida na depressividade histérica, e humanas, em geral. Ademais, generalizadamente, considera-se a função social do palhaço, como catarticamente modular a agressividade.

 

Para o presente artigo, acrescentam-se também as referências ao negro e negra, com a sua cabeleira encaracolada, de tendência afro, eventualmente, tendência essa usada habitualmente pelos palhaços.

 

Considera-se, ainda, o fenómeno histérico de massas do desporto e das audiências que vão aos estádios e pavilhões desportivos, com a utilização frequente de cabeleiras afro às cores, que será no sentido risível, de união das massas da mesma tendência desportiva. Tendo em conta o já dito, e dado que quem utiliza as cabeleiras afro, referentes ao palhaço, não utiliza outras referências do mesmo na cara, como a pintura cosmética ou como o nariz vermelho, indica-nos uma relação fóbica de aproximação/evitamento com o palhaço, com este enquanto objecto parcial, em que a ausência de referência ao nariz vermelho nos indica uma relação traumática com a menstruação, simbolizada no nariz vermelho, em que teríamos que quanto mais utilização destas cabeleiras, maior medo se terá do palhaço, e mais traumática será a menstruação para histéricos, em geral, e mulheres, em particular. Pelo dito, o negro será utilizado como bode expiatório, em que a utilização da cabeleira afro será alvo de deslocamento de satisfação catártica, de alívio catártico, em relação às referências femininas no palhaço, ou à sua ausência, como já descrito, em particular o nariz vermelho, com referência à menstruação. O fenómeno histérico de massas com medo em relação a palhaços estará representado culturalmente no filme de Hollywood It, enquanto filme de uma sociedade histérica capitalista, no contexto do capitalismo global contemporâneo, filme de Stanley Kubrick, mundialmente famoso, que representa a chegada à Terra de uma raça extraterrestre que são individualmente palhaços, que perseguem e torturam humanos.

 

Continuando, no contexto, considera-se a tendência histórica de colonização de África, de maioria negra, e a também opressora e repressora vivência societal, particularmente no Ocidente, de homens em relação a mulheres, em que temos, pois, aquela importância histórico-cultural do palhaço, para modular a agressividade catarticamente, no sentido de contemporaneamente não haver um seguimento de ciclo vicioso de eventuais tentativas agressivas de vingança em relação ao sucedido historicamente, como de no sentido de não perpetuar aquela agressividade por parte de indivíduos não negros e por parte de homens em relação a mulheres, em que se tem em conta o sentimento de necessidade de castigo, numa eventual culpabilidade e tendências masoquistas mais ou menos acentuadas.

 

Temos, então, uma função do palhaço de tendência pacifista e não beligerante.

 

Podemos fazer ainda uma consideração importante do porquê da persistência e intensidade da instilação de agressividade dirigida aos negros, no contexto, por exemplo, de sociedades e sistemas fascistas e nazis, com um sentimento premente de inferioridade dos negros, em particular em relação aos brancos. Essa continuidade ser-nos-á dada pelo sentimento histórico da Humanidade, ou parte dela, relativamente ao Universo, e à sua escuridão, particularmente como visto da Terra, com a importância da noite e ao imaginado durante o dia. Neste contexto, aquele sentimento de inferioridade atribuída aos negros derivará de uma fixação psíquica de espécie relativamente a um período da Humanidade em que se considerava que a Terra era o centro do Universo, com o Sol a girar à volta da Terra, com o Homem enquanto centro do Universo, em que essa fixação seria, portanto, relativa a um período pré-Copérnico, à revolução Copernicana, indicando-nos que essas pessoas fixadas, ao nível psicológico do contacto de espécie, não terão ultrapassado essa primeira ferida narcísica da Humanidade, sentindo que a negritude do espaço sideral e de eventuais seres habitando além-Terra, no Cosmos, transmite aos próprios a inferioridade desses seres em relação aos mesmos. Esta historicidade da psique do indivíduo no contexto colectivo é semelhante aos considerandos transpessoais de Stanislav Grof ( 2007 ), em A psicologia do futuro, ou aos considerandos Junguianos relativos ao inconsciente colectivo, com este a constituir os vestígios de experiências passadas da Humanidade   ( Jung, 1988 ).

 

As tendências conservadoras geralmente associadas à direita política, e às sociedades fascistas e nazis, em particular, já referidas, com sentimentos de inferioridade respeitantes aos negros, dizem-nos, neste contexto, que a fixação psíquica de massas numa época pré-Copérnico indica precisamente um conservadorismo acentuadamente exacerbado.

 

É ainda de reparar que a perspectiva dos sistemas nazis, particularmente o alemão, dos anos 30 e 40 do séc. XX, indicava que tinham os povos eslavos, de predominância branca, como inferiores, o que nos dá uma relação da perspectiva dos humanos da Terra relativamente às estrelas observadas, num enquadramento da era pré-Copérnico.

 

Considerem-se agora, importantemente, sondagens contemporâneas que nos revelam percentagens significativas de populações a acreditarem no geocentrismo, pré-Copérnico, portanto. Assim, sondagens pela Gallup nos anos 90 do séc. XX, mostraram que 16% dos alemães, 18% dos estado-unidenses e 19% dos britânicos consideram que o Sol revolve à volta da Terra. Já um estudo feito em 2005, pelo Dr. Jon D. Miller da Universidade Northwestern, verificou que um em cada cinco adultos estado-unidenses pensa que o Sol revolve à volta da Terra ( Heliocentrism, Google Livros, por utilizadores da Wikipédia ).

 

Estas altas percentagens apoiam a ideia da fixação psíquica a uma era pré-Copérnico, como indiquei.

 

Note-se que estas sondagens revelam algo mais a nível manifesto enquanto que a minha análise anterior revela algo mais a um nível mais ou menos inconsciente.

 

Já os fenómenos de massas, ao nível do futebol, no contexto histérico, em que se atribuem epítetos de que os negros são macacos, indicam que certas camadas das massas não ultrapassaram a segunda ferida narcísica da Humanidade, já que consideram, agressivamente, que a associação entre humanos e macacos é apenas atribuível a negros, desconsiderando a noção darwinista, no contexto da teoria da evolução, de que todos temos antepassados comuns com macacos ( Dawkins, 2009 ), embora, infelizmente, o que muitos consideram é que descendemos dos macacos.

 

Com estas duas primeiras feridas narcísicas da Humanidade não ultrapassadas, intui-se, sobremaneira, que a terceira ferida narcísica da Humanidade, ou seja, a noção freudiana de que dependemos e somos controlados por motivações inconscientes, neste caso, acrescente-se, particularmente transpessoais e colectivos, como os aspectos psíquicos relativos à não ultrapassagem das duas primeiras feridas narcísicas da Humanidade, essa terceira ferida, dizia eu, não foi ultrapassada, realçando-se a noção de largas camadas da população que assumem que construímos conscientemente a nossa própria realidade, particularmente nas sociedades histéricas matriarcais capitalistas, no âmbito do capitalismo global contemporâneo, descurando as influências inconscientes no consciente.

 

Temos, pois, grandes camadas da população que não terão ultrapassado as três feridas narcísicas da Humanidade.

 

No todo, diríamos que, relativamente à primeira ferida narcísica referida, o palhaço tem estado afastado da sua função, o que é coerente com a menor importância atribuída ao palhaço de circo, e ao circo em geral, nas sociedades capitalistas globais contemporâneas, sendo de dizer que seria interessante o trabalhar por parte do palhaço de circo dos aspectos referidos relativamente às três feridas narcísicas da Humanidade.

 

 

Bibliografia

 

Dawkins, R. ( 2009 ). O espectáculo da vida – a prova da evolução. Casa das letras

 

Grof, S. ( 2007 ). A psicologia do futuro. Via Óptima

 

Jung, C. G. ( 1988 ). A prática da psicoterapia in Obras Completas de C. G. Jung, Vol. XVI ( tradução portuguesa ). Petrópolis: Editora Vozes ( edição original: 1971 )

 

Resende, S. ( 2012 ). O palhaço de circo e a depressividade histérica in www.psicologado.com ( proposto a 12/2012 )

 

 

 

Referência de Internet

 

Heliocentrism, por utilizadores da Wikipédia, in books.google.pt/books?id=csr4Qrei4r8C&pg=PA26&lpg=PA26&dq=contemporary+polls+heliocentrism+geocentrism&source=bl&ots=dch-1n5P5C&sig=o-llVWbpnzLcz-t656APCbyzzEE&hl=pt-PT&saX&ei=D1wIVPrQNuaf7Aa3sYHwBg&ved=OCEsQ6AEWBA#v=onepage&q=contemporary%20polls%20heliocentrism%20geocentrism&f=false, consultado em 04/09/2014

  

publicado por sergioresende às 11:24
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Quarta-feira, 19 de Dezembro de 2012

O palhaço de circo e a depressividade histérica

Considerando, inicialmente, o circo, e a actividade dos palhaços, em particular, como representativo de aspectos humanos individuais e colectivos, faz-se, posteriormente, uma análise psicológica mais aprofundada dos palhaços, em que se identificam nos mesmos características femininas particulares, no contexto depressivo e histérico, realçando-se ainda a função social dos palhaços quanto à modulação da agressividade.

 

É de indicar, de início, a análise feita ao circo realizada por Yoram Carmeli, no seu artigo Circus play, Circus talk, and the Nostalgia for a Total Order ( 2001 ).  O autor, que passou quinze anos em trabalho de campo, num circo britânico, refere que a antecipação dos espectadores, do desempenho circense, de auto-referências, leva a antecipar uma exclusão particular, a exclusão de uma pessoa real fora das relações e fora do tempo real, mas, mais tarde, a percepção da actividade circense é de tal modo que engloba a sua totalidade, que inclui a totalidade das vidas fora do palco dos actuantes. Mais elaborando, Carmeli indica que o olhar fixo dos espectadores do circo conjura uma comunidade em que há uma ilusão de história e de biografia colectiva e pessoal, em que a história circense não desaparece depois do espectáculo. Ou seja, temos a actividade circense, e a dos palhaços, em particular, como representativo de aspectos humanos individuais e colectivos, ao nível da sociedade. Um exemplo desta última representatividade é a existência do palhaço rico e do palhaço pobre. Continuando, em particular, este autor refere-se à importância da actividade do circo no desenvolvimento da identidade humana e nas problemáticas que lhe estão relacionadas. Isto, quando diz ( p. 158 ): “ When a human body is played and perceptually objectivated, the ontological bases of human identity are experientially problematized. “.

 

É de relacionar, agora, estes aspectos com a particularidade de o circo, incluindo os palhaços, ser dirigido a crianças, mas executado por adultos, que reflectirão problemáticas que ao longo da vida cada indivíduo irá eventualmente encontrar e enfrentar. No caso dos palhaços, temos a agressividade, no contexto depressivo-histérico, a sexualidade feminina, ou mais geralmente, a psicossexualidade, como ainda características particulares da mulher, como a menstruação.

 

Assim, temos o falismo sobrecompensatório, que se poderá ver nos sapatos grandes do palhaço. Neste  contexto, são de referir duas notas. Primeiro são de notar os versos do famoso artista musical Prince, na célebre canção Kiss: “ Act your age, mama, not your shoe size “, indicando que a sobrecompensação fálica da mulher fá-la regredir ou estar fixada a um nível mais precoce, menos maduro. Para além disso, numa outra nota, refira-se o conto de fadas Gata Borralheira, tal como descrito por Bettelheim em Psicanálise dos Contos de Fadas ( 2006 ). Pode ver-se a associação entre o sapato e a sobrecompensação fálica, relacionada com o sentimento de perda do pénis                     ( sentimento descrito a seguir, quanto à angústia depressiva ), no exemplo, analisado pelo autor, de que não foi tanto o sapato que se ajustava ao pé que decidiu quem seria a noiva certa, mas antes o sangrar do pé no sapato que indicou quais eram as noivas erradas, o que se relaciona com a menstruação, associada em fantasia com o sentimento de perda do pénis, com o elemento sobrecompensatório no tamanho do sapato.

 

Para mais, continuando, temos a angústia depressiva, em que o nariz vermelho apontará para o cheirar particular do sangue menstrual, da própria, e das outras mulheres, angústia essa vivida, então, reflectindo a certeza da perda, no passado, mais ou menos precoce, do pénis, que indicará ao indivíduo uma perda de amor do objecto, já que este é considerado, pelo sujeito, responsável pela perda do pénis. Este aspecto do sangue menstrual, confirmador em fantasia da perda do pénis, estará na base da raiva narcísica que despoletará a agressividade, que é referida mais à frente quanto aos mecanismos anti-depressivos.

 

Há ainda o caso particular, por exemplo, da água a ser esguichada da flôr da lapela, como que a agredir o outro, o que nos remete coerentemente para a problemática do líquido vaginal a sair da vagina, no enquadramento da excitação sexual e seus clímaxes, representando a flôr, o cheiro desse líquido vaginal, e em que mais especificamente a saída da água da flôr, nos apontará para aquilo a que Coimbra de Matos, psicanalista português, refere quanto à personalidade depressiva, que é o de se constituir enquanto identidade em perda.

 

Quanto à relação entre depressividade e personalidade histérica, considerando o histerismo mais característico na mulher, ver, por exemplo, Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica ( Resende, 2012 ), em que indico, como já referido neste artigo, que particularmente o histérico caracterizar-se-à por uma angústia depressiva, pela certeza da perda do pénis, ou mais geralmente, da perda do amor do objecto, no passado, apontando-se, ainda, a batalha anti-depressiva relativamente sisífica, na luta precisamente contra a tal identidade em perda e contra o afundamento na depressão. Isto, particularmente, e sobrecompensatoriamente, pela promiscuidade sexual e verbalização externalizada agressiva, para que a agressividade introjectada anteriormente, que deu ao indivíduo o sentimento de perda do amor do objecto, não se vire mais contra o próprio.

 

É de relacionar esta externalização verbal agressiva e sobrecompensatória do histérico com as actuações habituais dos palhaços, em que, para além do esguichar agressivo da água da lapela, dão pontapés e chapadas nos outros palhaços, fazendo-os eventualmente cair, com o pormenor destas actuações corporais estarem relacionadas com a citação feita acima, onde se indica que a percepção objectivada do corpo humano promove a identificação humana nas suas problemáticas experienciais. Podemos referir, aqui, uma função social importante dos palhaços, que é a de, na infância, promover e satisfazer catarticamente a agressividade, através do riso, fenómeno facilmente identitário na infância, para que em posteriores fases da vida, a mesma esteja modulada, e possa ser utilizada, particularmente, a nível sublimatório, e não descompensadamente, como amiúde acontece.

 

No contexto, é de referir, num outro  ponto de vista cultural, no caso, cinéfilo, o filme It, de Stanley Kubrick, que representa a relação dos humanos com o além-Terra, ou, mais precisamente, o imaginário humano quanto à relação do além-Terra com os humanos. No filme, surgem seres extraterrestres, com a sua nave, que têm a particularidade de serem palhaços. Ora, os mesmos perseguem e torturam os humanos, agressividade esta que extrapola representativamente a actividade circense dos palhaços, só que de um ponto de vista mais tenebroso e assustador. Representará, precisamente, aquela descompensação agressiva referida anteriormente, já que o filme não é propriamente uma comédia, mas mais um filme de terror, com a agressividade representada pouco modulada.

 

Continuando a análise do palhaço circense, temos, para além disso, a vestimenta hiperbolizadamente garrida e excêntrica do palhaço, que reflectirá um exagero representativo da exuberância da indumentária pouco sóbria habitualmente existente no histérico e histérica.

 

Outra relação hiperbolizada, e representativa, entre o palhaço e a mulher, que se pode fazer, é a pintura exagerada do palhaço e a utilização de cosméticos faciais habitualmente associados à mulher. Isto, no contexto deste artigo, e intuitivamente, apontar-nos-à para uma agressividade inerente da pintura cosmética habitualmente associada à mulher. Para mais, a pintura cosmética da mulher apontará para algo que não é genuíno, e no contexto, indicará algo de acrescento, algo de mascarar, associando-se precisamente o sobrecompensatório ao mascarar cosmético, como por exemplo o pintar sobrecompensatório dos lábios de vermelho, sobrecompensatório por sentir-se diminuída sexualmente, pintura esta que Desmond Morris nos revela que indica excitação sexual, e que portanto, no contexto, e globalmente, nos elucida que essa mulher quer esconder a excitação sexual. O lip gloss, nos lábios, tão habitualmente utilizado entre raparigas e mulheres, e representando o transparente molhado da excitação sexual do líquido vaginal nos lábios vaginais, irá no mesmo caminho do sobrecompensatório mascarado, devido ao sentimento de diminuição sexual. Isto levar-nos-à a pensar nas características fisionómicas da mulher e da excitação sexual e capacidades multi-orgásmicas da mulher no dia-a-dia, revelando que a mulher, geralmente, quer, de algum modo, esconder a excitação sexual que será manifesto para quem esteja a observar. Este esconder mascarado estará associado à excitação sexual no dia-a-dia, característico de raparigas e mulheres, que é revelada particularmente pelo avermelhamento da face e pelos lábios tornarem-se mais vermelhos e carnudos, sendo claramente manifesto, portanto, e será essa falta de privacidade que as raparigas e mulheres quererão esconder.

 

Agora, num aparte, mas dentro deste contexto, repare-se como a pintura tipicamente egípcia, de o lápis no canto externo do olho subir, reflectindo, pois, uma sobrecompensação visual, está relacionada com a pirâmide ( daí o elo egípcio, para além da longa duração do império egípcio ), associada, por exemplo, a sociedades secretas, e que está desenhada nas notas de dólar, em que no topo da pirâmide, temos um olho aberto, que representará o olho que tudo vê. Este símbolo, patentemente sobrecompensatório, e que está associado por investigadores a um governo secreto, os Illuminati, composto por treze famílias, muito ricas e poderosas, que controlarão os destinos a nível global, da Terra, representa, precisamente, o símbolo, a influência subcompensatória a nível visual naqueles governados por este governo secreto, em que haverá uma tendência psicológica para ver menos, observar menos, o que se passa, o que tornará mais fácil o controlo particular das massas. Realce-se que esse símbolo da pirâmide no dólar, está precisamente incluído numa sociedade histérica capitalista matriarcal, como é a dos E. U. A., com a particularidade de o dólar ser actualmente a divisa que é a reserva mundial nas transacções internacionais. Mas repare-se que, quanto àquele controlo subcompensatório, estar-se-à a falar a nível manifesto, porquanto a nível latente indicará um sentimento por parte dos próprios Illuminati de se sentirem observados. Senão note-se. Os Illuminati invocam que são descendentes directos de seres extraterrestres que, no passado, terão interferido na evolução da espécie humana, indicando que isso lhes dá legitimidade de controlo sobre os restantes humanos. Dada esta importância, indica-se, aqui, que haverá por parte dos Illuminati um sentimento particularmente importante de se sentirem observados e, eventualmente, controlados, por esses extraterrestres.

 

Finalizando, pelo explanado, indicar-se-à o palhaço, em geral, como uma síntese de problemáticas femininas, em particular, como a sexualidade feminina, o característico falismo sobrecompensatório, a menstruação e a agressividade envolvida na depressividade histérica, e humanas, em geral. Ademais, generalizadamente, considera-se a função social do palhaço, como catarticamente modular a agressividade.

 

 

Bibliografia

 

Bettelheim, B. ( 2006 ). Psicanálise dos Contos de Fadas ( tradução portuguesa ). Bertrand Editora

 

Carmeli, Y. ( 2001 ). Circus play, Circus talk, and the Nostalgia for a Total Order in Journal of Popular Culture, Winter 2001, Vol. 35 Issue 3, p. 157, 8 p.

 

Resende, S. ( 2012 ). Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica em www.psicologado.com ( proposto a 12/2012 )

publicado por sergioresende às 18:51
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