Domingo, 10 de Agosto de 2014

Generosidade fálica na mulher: sua importância no seu poder criativo

Generosidade fálica na mulher: sua importância no seu poder criativo

 

Para melhor enquadrar o presente artigo, resume-se parte de um artigo meu, Inveja do clitóris e criatividade ( Resende, 2014 ), para depois se elaborar acerca da generosidade fálica na mulher, com sua importância no poder criativo da mesma.

 

Este resumo inclui a indicação da importância do distanciamento relacional do pai em relação à mãe e do útero feminino enquanto espaço de ilusão e da identificação com o pai, figura paterna, enquanto tempo de desilusão, com saída da relação omnipotente anterior, promovendo a criatividade.

 

Assim, nesse artigo, refere-se outro artigo meu, A inveja do pénis e a inveja do clitóris e suas implicações políticas, onde avanço que a inveja do clitóris, na comparação pénis-clitóris, se caracteriza pelo sentimento de subcompensação narcísica, em que há uma necessidade de tentativa de diminuição narcísica, com características contrárias ao falismo. Sendo uma inveja mais tipicamente masculina, é mais característica do obsessivo e de um sistema político mais obsessivo como o comunismo.

 

Há ainda referência a outro artigo meu, Aspectos criativos e evolutivos da inveja do clitóris, onde é indicado que a subcompensação narcísica, característica da inveja do clitóris, deriva do sentimento de superioridade narcísica advindo da comparação pénis-clitóris. Para mais, indica-se que a tentativa de diminuição narcísica, mais típica no homem, terá uma crucial importância evolutiva no sentido do estabelecimento e manutenção de relações amorosas e sexuais, entre homens e mulheres. Estas últimas caracterizar-se-ão sobretudo pela inveja do pénis, com tentativas de sobrecompensação falo-narcísicas correspondentes, baseadas em raiva narcísica, que surgirá do sentimento de perda falo-narcísica do pénis, que é reforçado pela menstruação, que introduz aspectos depressivos de perda já concretizada. Ainda relativamente à subcompensação narcísica do homem como base e origem da psique humana, considera-se a expressão bíblica: “ No princípio era o Verbo! “. Ora, psicanaliticamente considera-se que Deus não é mais do que um pai exacerbadamente idealizado, sendo a ideia religiosa de Deus uma criação humana baseada na exacerbação das características paternas. Temos ainda a noção psicanalítica de que são as ideias de parentalidade e parentais da mãe e do pai, relativamente ao filho, que estão na base da concepção do filho, em particular, desejo genuinamente parental de ter um filho. Em relação a este desejo genuíno, entra a tomada de iniciativa, efectiva, na aproximação amorosa e sexual entre mulher e homem. Tradicionalmente, e tendencialmente, esta tomada de iniciativa efectiva é feita pelo homem e não pela mulher. Enquadra-se, depois, esta iniciativa masculina no meu artigo Masturbação feminina no dia-a-dia: suas implicações psicológicas e comportamentais, onde se conclui que as características masturbatórias femininas do dia-a-dia têm como consequência a diminuição da tomada de iniciativa efectiva na aproximação amorosa e sexual. Tem-se, então, que para surgir o filho terá que haver primeiro esta aproximação sexual entre homem e mulher e tenderá a ser o homem a ter a iniciativa. Assim, a expressão bíblica “ No princípio era o Verbo! “, dirá respeito, sobretudo, à tomada de iniciativa verbal por parte do homem em relação à mulher, para uma aproximação sexual, em que posteriormente surgirá o filho. Tenha-se ainda a noção de que a tendência evolutiva daquela tomada de iniciativa verbal como que é sintetizada no pai e na mãe, do filho em consideração. Perspectiva-se, para mais, a influência verbal do pai para a criança, ainda no útero da mãe, considerando-se aqui a noção das características introjectivas do início e primeiras fases do desenvolvimento psíquico humano, em que o bebé no útero introjecta as tendências evolutivas de maior poder criador e criativo do homem, pelas tendências históricas desse poder, que baseará as características subcompensatórias do homem, na comparação com a falta de poder histórica da mulher.

 

Ainda do artigo inicialmente mencionado, cito outro artigo meu, Influência da inveja do clitóris na sistematização política por género. No mesmo, avanço que a mulher se caracterizará tanto pela inveja do pénis como pela inveja do clitóris, considerando que baseando o sistema histérico de relacionamentos, com a histeria mais típica da mulher, está a inveja que cada mulher sentirá da excitação sexual que o clitóris, de outra mulher, proporciona a essa mulher, nos relacionamentos sociais particularmente sexualizados entre mulheres. Diz-se mais, que o poder criativo diminui na mulher quanto mais se dilui esta inveja do clitóris nos relacionamentos histéricos típicos na mulher, particularmente sexualizados, dizendo-se ainda que para que a mulher sinta verdadeiro poder criativo e criador, deverá dessexualizar os relacionamentos, invertendo a histeria relacional, através da concentração da inveja do clitóris.

 

Continuando o resumo referido, cito ainda outro artigo meu, O poder criativo e as características subcompensatórias do homem derivadas da inveja do clitóris: culpabilidade fálica, onde se diz que a inveja do clitóris surgirá da culpabilidade fálica, em relação ao sentimento de superioridade sentido pelo homem na comparação pénis-clitóris, com possíveis motivos filogenéticos, num sistema de equilibração evolutivo em relação ao sentimento de inveja do pénis, tipicamente sentido pela mulher, e suas características sobrecompensatórias. Culpabilidade fálica, precisamente, em relação às características sobrecompensatórias associadas ao sentimento de superioridade referido. Diz-se ainda que considerando que o homem verdadeiramente criativo não se caracteriza pelo exibicionismo nem pela vaidade, características tipicamente fálicas, diz-se então que faz sentido quando se diz que o artista prefere que os outros não vejam a sua obra antes de ela estar acabada, controlando, precisamente, exibicionismos e vaidades.

 

Ainda do resumo, tem-se outro artigo meu, O pénis enquanto objecto transicional na criatividade, onde se indica que a inveja do clitóris, e suas características subcompensatórias, surgirá, importantemente, do reconhecimento do homem do poder inspirador que lhe surge através da identificação com as mulheres. Para mais, destaca-se, quanto à inveja do clitóris, que a subcompensação narcísica, presente nessa inveja, caracteriza-se por uma tentativa de diminuição narcísica, derivada do sentimento de superioridade narcísica advindo da comparação pénis-clitóris. Ter-se-á, então, em conta que o sentimento de superioridade narcísica referido estará relacionado com o sentimento de masculinidade. Ora, tem-se que a tentativa de diminuição narcísica surgirá no sentido da diminuição do sentimento de masculinidade, diminuição esta que terá importância evolutiva nas relações entre homens e mulheres. Tendo em conta que há um sentimento de masculinidade inicial, derivado da comparação pénis-clitóris, dir-se-á que as características subcompensatórias que caracterizam a inveja do clitóris, estarão mais relacionadas com o sentimento de feminilidade inconsciente no homem, ou seja, com o arquétipo anima. Assim, pelo dito, na produção criativa do homem haverá uma diminuição do sentimento de masculinidade e uma acentuação do sentimento de feminilidade inconsciente.

 

Acrescente-se aqui, que, por contraponto, intui-se que para maior produção criativa da mulher, esta deverá identificar-se com o homem inspirado e inspirador, com a acentuação do seu sentimento de masculinidade inconsciente, e não apenas aquela externa ou externalizada.

 

Continuando o resumo, já aparte da referência a outros artigos, fazem-se agora elaborações, com destaque para os já referidos aspectos vivenciais e imaginários da vivência fetal, na relação com a mãe, e no útero desta, e com o pai.

 

Assim, considerando na criatividade, derivada da inveja do clitóris, a tentativa de diminuição narcísica, temos, imaginariamente, na identificação com o pai ou figura paterna, como que uma retrogressão, do feto em relação à distância relacional do pai em relação à mãe, em que poderemos enquadrar aqui a culpabilidade fálica, como que uma crítica psicológica do homem em relação à mulher, por esta, na inveja do pénis típica, ver o pénis enquanto falo. É importante a diferença relacional do feto em relação à mãe e do feto em relação ao pai. Já que a tentativa de diminuição narcísica advém do sentimento de superioridade sentido pelo homem na comparação pénis-clitóris, temos que naquela distância e diferença relacional, na retrogressão, o artista, na identificação com o pai, terá aquele sentimento como que advindo do próprio clitóris, daí a inveja do clitóris, já que não é um sentimento fálico, mas advindo, pelo contrário, da culpabilidade fálica do homem em relação à mulher, contrariando o falismo, tendo, deste modo, a mãe, e posteriormente, a mulher em geral, como referência de inspiração e criatividade, enquanto musa. Ocorrerá uma dupla identificação, com o pai, e com o próprio, imaginadamente no útero da mãe, em que temos, numa linha Winnicottiana, o útero enquanto espaço de ilusão por excelência, enquanto objecto transicional. Naquele distanciamento relacional referido, surge-nos então, o famoso gesto do artista utilizando o polegar, para medir distâncias e proporções, em relação à sua musa, paisagem, etc., em que temos que a relação entre o artista e a sua musa implicam um distanciamento relacional.

 

No distanciamento e diferença relacional referidos, temos um trabalho de diferenciação psíquica, em relação ao qual podemos enquadrar a contribuição de Margaret Mahler, como se pode ver no Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente, de Houzel, Emmanuelli & Moggio, que nos descreve uma fase de separação-individuação, como sendo dois processos complementares, permitindo à criança sair da fusão simbiótica com a mãe, que caracteriza os primeiros meses de vida, em que até aos três anos passará por uma série de fases sucessivas durante as quais a criança investiria progressivamente a mãe e as funções do seu ego, adquirindo assim uma representação interiorizada de si própria, ligada mas distinta da representação do objecto.

 

Continuando o resumo, repare-se que, referindo-nos à conceptualização do objecto transicional por Winnicott, como indicado no Dicionário já mencionado, o objecto transicional, na criatividade, implica uma fase ou tempo de ilusão e uma fase ou tempo de desilusão, em que nesta última surge o objecto mais objectivado, numa verdadeira relação de objecto, partindo de uma fase de ilusão, em que os objectos são considerados extensões do ego, com um controlo omnipotente, numa relação fusional. Ora, na desilusão, ocorrem frustrações entre o que é esperado e o que é apresentado. Se da ilusão, começa-se a construir o espaço transicional, o objecto transicional, com estas frustrações, na desilusão, a relação de controlo omnipotente atenua-se para se instaurar progressivamente uma relação de objecto, entre seres separados e distintos, em que a área transicional torna-se progressivamente uma área partilhada, área intermediária de experiência, em que fenómenos, espaço e objectos trnasicionais começarão a ser desinvestidos e dissolvidos no domínio cultural, em que a experimentação interna subsistirá enquanto imaginação e trabalho criativo.

 

Ora, a vivência imaginada no feto, e a identificação do sujeito, do artista, com esta, está na linha do espaço de ilusão, da vivência de ilusão, numa relação fusional, e a identificação com o pai, que implica a frustração da saída da relação omnipotente no útero, na relação fusional, na diferença relacional relativamente à mãe e ao feto, enquanto próprio, está na linha da desilusão, em que o espaço transicional que terá sido o útero começa a ser desinvestido e começa a haver trabalho imaginativo e criativo, em que a mãe, e a mulher, em geral, nas identificações secundárias, continuam a ser fonte de inspiração, com o útero feminino enquanto espaço de ilusão e, precisamente, pela triangulação edipiana ocorrida, em que a mãe é vista enquanto ser separado e distinto, e o próprio imaginariamente no útero da mãe também é visto enquanto separado, e em que na identificação com o pai, e outros homens, nas identificações secundárias, ocorre uma desenfetização e uma desuterização.

 

Ora, ocorre a inveja do clitóris por o clitóris ser sinal de fonte criativa, ser sinal de início do processo criativo, e ocorre o sentimento de superioridade no homem pela mais fácil identificação, na triangulação edipiana, enquanto género, com o pai, figura paterna, e outros homens, permitindo a continuação e conclusão do mesmo processo criativo. Na mulher, e como se disse anteriormente, deverá haver diminuição da inveja do clitóris, esta, particularmente pela excitação sexual imaginada noutra mulher através do clitóris da mesma, diminuindo-se a diluição do poder criativo, com a escolha de uma ou poucas figuras de eleição, havendo posteriormente a identificação com o pai ou figura paterna, para também na triangulação edipiana haver a continuação e conclusão do processo criativo. Do mesmo modo, para a mulher, o clitóris será sinal de fonte criativa, sendo, contudo, mais difícil para a mesma sair do início do processo criativo, quer pela diluição do poder criativo nos comportamentos histéricos particularmente sexualizados nas relações sociais entre mulheres quer por a identificação posterior com o pai ou figura paterna ser mais difícil, na triangulação edipiana, por em termos de género ser mais difícil a passagem de objecto de amor materno para objecto de amor paterno, porquanto no homem o objecto de amor permanece em geral o mesmo, o materno.

 

Finalizado o resumo, e já para o presente artigo, tenha-se a noção da predominância do oro-falismo na mulher, com essa organização básica no histerismo, com a histeria mais tipicamente feminina, e com o sistema histérico capitalista, no âmbito do capitalismo global contemporâneo, no âmbito das respectivas sociedades falocêntricas actuais, baseadas no matriarcado que se apoia na sexualidade e psicossexualidade femininas.

 

Ora, para a mulher potenciar o seu poder criativo deverá desenvolver uma generosidade fálica, em que no distanciamento relacional relativamente ao homem inspirado e inspirador, este enquanto muso, por contraponto às habituais musas, há uma identificação, em que, partindo da noção de inveja do pénis, em que o pénis é tido como poder fálico, ocorre um tempo de ilusão, em que também a mulher tem em si própria a vivência do pénis enquanto falo, este enquanto falo poderoso, neste caso, na sobrecompensação do clitóris, e numa relação omnipotente, dual, com esse homem, passando-se a um tempo de desilusão, na generosidade fálica, que caracteriza-se pela tentativa de diminuição falo-narcísica, do homem para a mulher, e pela mulher, no distanciamento relacional, em que progressivamente o homem é visto com o pénis enquanto genital e a mulher com a vulva e vagina enquanto genital, com o real reconhecimento da diferença anatómica entre os sexos, em que a desilusão é a perda da noção do pénis enquanto falo todo-poderoso. A generosidade fálica, por contraponto à inveja do pénis, caracteriza-se, então, pela perda fálica e pela tentativa de diminuição falo-narcísica, com diminuição de exibicionismo e vaidade, por exemplo, traços eminentemente fálicos, com promoção destas características nos outros, daí a generosidade fálica. Repare-se que isto envolverá a noção já referida de culpabilidade fálica em relação à própria, culpabilidade em relação aos factores falo-sobrecompensatórios na mulher, particularmente na inveja do pénis. Isto nos leva também à diminuição da inveja do clitóris, considerando a sobrecompensação fálica uma sobrecompensação relativa ao clitóris, que caracterizará cada mulher, inveja que está relacionada com a percepção da excitação sexual que cada mulher sentirá com o clitóris, e percebido pela outra mulher, no âmbito das relações sociais tipicamente sexualizadas entre mulheres, em que a excitação sexual na mulher está associada a um factor sobrecompensatório. Esta diminuição da inveja do clitóris, com concentração da mesma, em uma ou poucas figuras de eleição, e inversão da histeria relacional, também potenciará o poder criativo da mulher, em que se tentará diminuir a excitação sexual associada a um factor sobrecompensatório.

 

Um exemplo de generosidade fálica é o de na Universidade, professores permitirem, particularmente em aulas prácticas, alunos apresentarem aulas, diminuindo exibicionismos nos próprios, com culpabilidade fálica de eventuais factores sobrecompensatórios associados à reputação académica e ao lugar de professorado universitário, e fomentando exibicionismos nos alunos, tendo nós também o exemplo de professores permitirem participação activa dos alunos nas aulas. Ou seja, com aulas menos expositivas e mais interactivas.

 

Aquele real reconhecimento da diferença anatómica entre os sexos faz lembrar uns versos da banda musical Tuxedo Moon: “ In heaven everything is fine, in heaven everything is fine, you’ve got yours baby, I’ve got mine !“.

 

 

Bibliografia

 

Resende, S. ( 2014 ). Inveja do clitóris e criatividade em www.psicologado.com               ( proposto a 01/2014 )

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Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2014

Segundo complemento a O sobrecompensatório na mulher

Faz-se, neste artigo, um complemento ao meu artigo O sobrecompensatório na mulher ( Resende, 2012 ), no qual se indica que na linha da questão básica da mulher da inveja do pénis, ocorrem sobrecompensações várias, para compensar a falta do pénis, este enquanto falo, com sobrecompensações falo-narcísicas, com a histeria mais tipicamente feminina, tendo uma organização básica oro-fálica.

 

Refira-se, de Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente [ Houzel, Emmanuelli & Moggio ( Coord. ), 2004 ], que, segundo D. Anzieu, no contexto do ego-pele e envelopes psíquicos, na patologia histérica, ocorrem falhas ao nível do escudo para-excitações e individuação, que lhes estão associados, por constituirem a base destas funções, estabelecendo precocemente a relação do indivíduo com o mundo exterior. Exemplo sobrecompensatório relacionado com estes aspectos do ego-pele é a pintura cosmética, que servirá como barreira protectora e deflectora, tendo nós também o exemplo nessa linha das tatuagens e dos piercings.

 

Verificamos, assim, que no histérico, com estas falhas, há maior dependência de estímulos externos, com maior dependência de campo, portanto.

 

Ainda daquele meu artigo, há indicações que no uso de acessórios, em particular, brincos, colares e pulseiras, há a ocorrência das sobrecompensações referidas, em que se conclui que a utilização de acessórios estará relacionada com um sentimento de inferioridade narcísica, em que adornos e importância excessiva atribuída ao aspecto externo compensarão esse sentimento.

 

Assim, importantemente, para este artigo, temos que o gosto bastante predilecto de mulheres, de resto conhecido, em particular da histérica, sendo a histeria mais tipicamente feminina, de brincos, colares e pulseiras brilhantes, de diamantes, de ouro, etc., revela, na maior dependência dos estímulos externos, uma sobrecompensação em relação à assimilação excessiva da escuridão do espaço sideral, que contribuirá para tendências depressivas na histérica, que tentarão ser contrariadas pelo uso de tais acessórios. Quanto a estas tendências depressivas na histérica, refira-se o meu artigo Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica ( Resende, 2012 ), no qual digo que tendencialmente na mulher surge uma angústia depressiva, de uma angústia de certeza de perda do pénis já efectuada, o que só vem a ser confirmado em fantasia pela menstruação, o que nos remete para uma angústia de perda do amor do objecto, já que, em fantasia, o objecto terá sido responsável pela perda do pénis. Em relação ao sentimento de inferioridade narcísica, referido anteriormente, dir-se-à que as tendências depressivas originadas na escuridão do espaço sideral causarão uma diminuição correspondente da auto-estima, que surgirá, intui-se aqui, da vastidão desse mesmo espaço, em que temos, precisamente, a mulher a sentir-se pequena, ou demasiado pequena.

 

Um aspecto mais que nos interessa, e referido naquele artigo d’O sobrecompensatório na mulher, é a sobrecompensação notória dos óculos escuros grandes. Naquele artigo, indico que a utilização dos mesmos indicam uma sobrecompensação em relação ao sentir-se observada, que podemos contextualizar no síndroma da mulher invisível, que nos diz que há uma grande carga de afecto da vivência da mulher no dia-a-dia, antes da menopausa, para ela sentir habitualmente essa diferença após a menopausa, no sentido de se sentir observada, sentido esse que estará relacionado com as características sedutoras da mulher. Ora, no contexto do presente artigo, o uso sobrecompensatório dos óculos escuros grandes denota, particularmente ao sentir-se observada, principalmente durante o dia, uma fuga, em que a mulher tentará, de certa maneira, utilizar a escuridão associada à noite, que corresponderá à visão tida com os óculos postos, e esconder-se atrás dos óculos.

 

Parece haver aqui algum equilíbrio entre a utilização depressiva da escuridão dos óculos escuros grandes e a sobrecompensação anti-depressiva do uso de acessórios brilhantes, sendo curioso que, com frequência, este tipo de óculos têm lentes com alguma claridade, o que poderá corresponder a tal equilíbrio, ou seja, entre o sentir-se observada e a assimilação depressiva de estímulos externos.

 

Outro exemplo importante das tendências sobrecompensatórias da mulher, derivadas da inveja do pénis, é o cabelo comprido, incluindo a moda e o hábito de usar extensões no cabelo, geralmente, nas mulheres mais jovens, por contraponto ao habitual cabelo curto das mulheres mais velhas, em geral, pós-menopáusicas, porquanto nos homens há o uso geral de cabelo curto.

 

Poder-se-à dizer que manifestamente a mulher mais velha terá o cabelo curto, por não querer demonstrar, particularmente em termos de idade e culturais, tendências em querer seduzir homens, mas também temos o contraexemplo de que as mulheres mais jovens, quando arranjam companheiro e/ou quando se casam, não têm a tendência de encurtar o cabelo.

 

Intui-se aqui que haverá uma sobrecompensação para fazer parecer a cabeça maior e, implicitamente, o cérebro, numa linha evolutiva adaptativa, à guisa de manifestações animais de engrandecimento do corpo para melhor enfrentar o adversário, neste caso, na guerra dos sexos, sobrecompensação essa, portanto, devida particularmente a algum trauma transpessoal histórico devido ao também histórico domínio tendencial dos homens em practicamente todas as culturas e ao exemplo de as obras científicas, literárias, filosóficas, artísticas, etc., que foram sendo deixadas serem de homens. Tenha-se também a noção da tendência anatómica de em geral o cérebro do homem ser maior do que o da mulher. Haverá um questionamento histórico por parte da mulher do porquê do domínio referido por parte dos homens, intuindo a mesma que parte importante da razão se deverá a diferenças ao nível do que foi sendo considerado elemento crucial para funcionar e produzir, ou seja, o cérebro. Ocorrerá, desta maneira, a sobrecompensação com o aumento do tamanho do cabelo, para fazer parecer aumentar a cabeça e o cérebro. Com a extensão do cabelo comprido para baixo, haverá como que uma miscegenização da cabeça e resto do corpo, em que o corpo também é utilizado sobrecompensatoriamente, e é tido como um corpo-falo por excelência, como que aumentando o engrandecimento da cabeça. Mas base importante para a sobrecompensação será a menstruação, que fará lembrar à mulher o sinal depressivo da perda do pénis já efectuada. E isto, importantemente, por a  mulher pós-menopáusica, perdendo o período no processo, ter a tendência de ter o cabelo curto, intuindo nós, que com a perda do período, perde o motivo, particularmente em termos de carga afectiva, para sobrecompensar a cabeça e o cérebro, já que se sentirá menos diminuída em relação ao homem.

 

Ainda com sobrecompensações falo-narcísicas, derivadas da inveja do pénis, temos o exemplo do uso, por parte da mulher, de sapatos de salto alto, em que a mulher quererá parecer maior, em que, por assim dizer, quererá nas pontas dos pés chegar à figura paterna, à guisa da criança que tenta chegar ao pai, querendo fazer-lhe parecer de que é maior do que realmente é, revelando sentir-se diminuída perante essa figura, sentimento que derivará da inveja do pénis e revelando ao mesmo tempo carências afectivas, ao tentar chegar à figura paterna.

 

Estes foram, portanto, mais alguns exemplos das tendências sobrecompensatórias da mulher, derivadas da inveja do pénis.

 

 

Bibliografia

 

Houzel, D., Emmanuelli, M. & Moggio, F. ( Coord. ) ( 2004 ). Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente. Climepsi Editores

 

Resende, S. ( 2012 ). Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica em www.psicologado.com ( proposto a 12/2012 )

 

--------------- ( 2012 ). O sobrecompensatório na mulher em www.psicologado.com          ( proposto a 12/2012 )

publicado por sergioresende às 10:53
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Quinta-feira, 4 de Abril de 2013

O poder criativo e as características subcompensatórias do homem derivadas da inveja do clitóris: culpabilidade fálica

Destaco alguns artigos que escrevi acerca da inveja do clitóris, e sua relação com aspectos criativos, para posteriormente fazer a consideração de que a mesma surgirá da culpabilidade fálica.

 

Assim, em A inveja do pénis e a inveja do clitóris e suas implicações políticas ( Resende, 2010 ), considero que a inveja do clitóris, na comparação pénis-clitóris, se caracteriza pelo sentimento de subcompensação narcísica, em que há uma tentativa de diminuição narcísica, com características ao falismo, sendo uma inveja tipicamente masculina.

 

Em Aspectos criativos e evolutivos da inveja do clitóris ( Resende, 2010 ), considero que aquela tentativa de diminuição narcísica é derivada do sentimento de superioridade narcísica advindo da comparação pénis-clitóris. Para mais, indica-se que a tentativa de diminuição narcísica, mais típica no homem, terá uma crucial importância evolutiva, no sentido do estabelecimento e manutenção de relações amorosas e sexuais, em particular entre homens e mulheres, por contraponto às características sobrecompensatórias da inveja do pénis, mais típico na mulher. Dá-se ainda um exemplo quanto à tendência histórica do maior poder criativo do homem, em relação à mulher, em que se tem em conta uma descrição cinéfila de Miguel Ângelo, em que na mesma esse artista é tido como considerando que a obra já está feita à partida, sendo tarefa do artista, particularmente, do escultor, tirar o que está a mais. Neste exemplo escultural, realçam-se as características subcompensatórias do poder criativo do homem, podendo-se fazer uma generalização desta noção a outras áreas artísticas.

 

Já em Exemplos específicos das características subcompensatórias do homem derivadas da inveja do clitóris ( Resende, 2010 ), para além daquele exemplo de Miguel Ângelo, introduzo outro paradigma que é relativo à guerra, e tem tanta relevância quanto a mesma tem tido crucial importância, desde tempos idos, na formação de nações, blocos estratégicos e ideologias. Os exemplos são retirados de A Arte da Guerra, de Sun Tzu, autor chinês que terá escrito o dito livro há cerca de 2500 anos. O livro tem influenciado, para além de militares, empresários e empreendedores, destacando-se, pois, em outras guerras para além das militares. Realça-se, ainda, quanto às características subcompensatórias da inveja do clitóris no homem, o facto de as guerras militares, e as empresariais, entre outras, serem protagonizadas por homens. Assim, exemplos paradigmáticos das características subcompensatórias são a indicação, por Sun Tzu, de que o clímax da capacidade em batalha é submeter o inimigo sem lutar e, ainda, que se deve fingir incapacidade para iludir o inimigo. Caracterizando o perito na guerra, o autor reconhece que, por vezes, se deve sacrificar uma porção da sua força guerreira para obter um objectivo mais valioso. Outros exemplos são quando ele diz que onde o inimigo é forte, é de evitá-lo, e, ainda, pretender inferioridade, encorajando a arrogância do inimigo. Terminando o resumo deste artigo, invoca-se outro exemplo paradigmático das características subcompensatórias do homem, no caso, a máxima socrática, “ Só sei que nada sei! “.

 

Ainda noutro artigo, dá-se um pequeno exemplo das características subcompensatórias do homem derivadas da inveja do clitóris, como se pode ver em O cavalheirismo como manifestação das características subcompensatórias do homem derivadas da inveja do clitóris ( Resende, 2011 ). Assim, no campo do estabelecimento e manutenção de relações amorosas e sexuais entre homens e mulheres, dá-se o exemplo paradigmático do cavalheirismo. Deste modo, quando um homem deixa passar uma mulher à frente, numa qualquer passagem, estará a perder prioridade de passagem em relação a ela. Quando, por exemplo, o homem arrasta a cadeira da mulher, numa mesa, está a fazer de servente, diminuindo-se. Outra diminuição subcompensatória, ao nível do narcisismo, bastante paradigmática, é quando o homem se ajoelha para pedir a mulher em casamento, como acontece frequentemente. O homem diminui-se perante a mulher, portanto. Vê-se, então, que na proposta de casamento típica, em que o homem se ajoelha perante a mulher, o homem está a contrabalançar a sobrecompensação falo-narcísica típica da mulher, sendo a mesma advinda do sentimento de inferioridade narcísica, relacionada com a inveja do pénis, portanto.

 

Depois destes resumos feitos, para melhor enquadrar a relação das características subcompensatórias da inveja do clitóris com o poder criativo, em particular, dir-se-à que a inveja do clitóris surgirá da culpabilidade fálica, em relação ao sentimento de superioridade sentido pelo homem na comparação pénis-clitóris, com possíveis motivos filogenéticos, num sistema de equilibração evolutivo em relação ao sentimento de inveja do pénis, tipicamente sentido pela mulher, e suas características sobrecompensatórias. Culpabilidade fálica, precisamente, em relação às características sobrecompensatórias associadas ao sentimento de superioridade referido.

 

Dir-se-à que o homem verdadeiramente criativo não se caracteriza pelo exibicionismo nem pela vaidade, características tipicamente fálicas.

 

Faz, então, sentido, quando se diz que o artista prefere que os outros não vejam a sua obra, antes de ela estar acabada, controlando, precisamente, exibicionismos e vaidades.

 

 

 

Bibliografia

 

Resende, S. ( 2010 ). A inveja do pénis e a inveja do clitóris e suas implicações políticas em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 15/10/2010

 

Resende, S. ( 2010 ). Aspectos criativos e evolutivos da inveja do clitóris em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 17/11/2010

 

Resende, S. ( 2010 ). Exemplos específicos das características subcompensatórias do homem derivadas da inveja do clitóris em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 28/11/2010

 

Resende, S. ( 2011 ). O cavalheirismo como manifestação das características subcompensatórias do homem derivadas da inveja do clitóris em www.psicologado.com ( proposto a 12/2011 )

publicado por sergioresende às 09:09
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