Domingo, 20 de Abril de 2014

O sonho e as identidades de percepção e de pensamento

O sonho e as identidades de percepção e de pensamento

 

Considera-se, neste artigo, a relação entre sonho e as identidades de percepção e de pensamento, fazendo-se também um enquadramento societal capitalista e comunista.

 

Tenha-se em conta, antes de tudo, a definição de Laplanche & Pontalis ( 1990 ) de identidade de percepção e de identidade de pensamento, com realce para a identidade de percepção como se procurando reencontrar a imagem do objecto resultante da vivência da satisfação e para a identidade de pensamento enquanto identidade dos pensamentos entre si.

 

Assim, aqueles autores, ao caracterizarem identidade de percepção e identidade de pensamento, nos dizem que a primeira surge da tendência do processo primário e que a segunda surge da tendência do processo secundário, em que considera-se que o processo primário visa reencontrar uma percepção idêntica à imagem do objecto resultante da vivência da satisfação e que no processo secundário a identidade procurada é a dos pensamentos entre si. Em termos económicos, o processo primário caracteriza-se pela descarga imediata e o processo secundário pela inibição, adiamento da satisfação e desvio, mas ao nível da identidade de percepção temos equivalências estabelecidas entre representações, em que procurando a vivência da satisfação, liga uma descarga eminentemente satisfatória à representação de um objecto electivo. Assim, o indivíduo vai daí em diante repetir a percepção que está ligada à satisfação da necessidade. Considera-se, para mais, que a identidade de pensamento constitui uma modificação da identidade de percepção, não se deixando regular exclusivamente  pelo princípio do prazer, em que fazendo a ligação entre representações não se deixa iludir pela intensidade delas, sem tanta necessidade de satisfação imediata. Temos, então, que esta modificação constituirá a emanação daquilo a que a lógica chama princípio de identidade.

 

Aqueles autores indicam, ainda, que Freud considerou que o sonho está mais relacionado com a identidade de percepção e esta, portanto, com o inconsciente. Será no sentido do sonho ser a realização de um desejo inconsciente ( Freud, 1988 ), em que nessa realização haverá como que o conseguir reencontrar a imagem do objecto resultante da vivência da satisfação. Contrapõe-se que se há a tendência para realizar um desejo inconsciente é porque o mesmo não foi realizado na vida do indivíduo, e será nesse sentido em que a vivência da satisfação não existiu que não haverá, portanto, essa procura.

 

Continuando, propõe-se que o conteúdo manifesto, com sua mis-en-scéne, com os seus adereços, com representações imagéticas do dia-a-dia do indivíduo, estará mais relacionado com o aspecto perceptivo mais enquadrado na identidade de percepção, enquanto que o conteúdo latente, revelado pela interpretação do sonho, com seu trabalho e pensamento do sonho, com seus mecanismos como a condensação, em que há condensação de afecto relativo a outras representações, e a sobrerepresentatividade, com a figurabilidade ( Freud, 1988 ), em que Lacan ( 1996 ) também realça a importância da sobrerepresentatividade no sonho para Freud, indicam-nos maior relação com a identidade de pensamento, com a identidade das representações, dos pensamentos entre si, já que os vários aspectos latentes se relacionam e se identificam uns com os outros.

 

Para além disso, realçando-se o aspecto imagético, perceptivo, do conteúdo manifesto, relacionaríamos mais esse conteúdo com o histerismo, destacando-se em Identidade de percepção e Identidade de pensamento ( Resende, 2014 ) a relação da identidade de percepção com o capitalismo enquanto sistema histérico. Assim é, ao nível societal capitalista, temos acentuação da Máscara, esta enquanto arquétipo de adaptação externa, sobrecompensatoriamente, com enfoque excessivo do aspecto externo, com características histéricas de sedução, de tentar agradar, particularmente através da imagem do próprio perante os outros, com maior caracterização ao nível da identidade de percepção, com o exemplo cultural de filmes e reality-shows estado-unidenses, com capitalismo acentuado, a indicarem que tudo é percepção, o que interessa é a imagem transmitida aos outros. Para mais, temos, no capitalismo, a importância da satisfação, gratificação, imediata, muito ao nível do processo primário e do princípio do prazer. Para mais, e pela minúcia e pelo detalhe na interpretação do conteúdo latente do sonho, como se vê em particular em A interpretação dos sonhos, de Freud ( 1988 ), e por mecanismos como a sobrerepresentatividade, com a identidade dos pensamentos do sonho entre si, com o realce, já referido, que Lacan      ( 1996 ) nos indica acerca da importância da sobrerepresentatividade no sonho para Freud, mecanismo sobejamente obsessivo, ligaríamos, pois, o conteúdo latente à obsessão, também se destacando em Identidade de percepção e Identidade de pensamento ( Resende, 2014 ) a relação da identidade do pensamento e o comunismo  enquanto sistema obsessivo. No comunismo, por contraponto ao capitalismo, temos acentuação da Sombra, com eventual enfoque sobrecompensatório excessivo do aspecto interno, mais obsessivo, não importando tanto a imagem transmitida aos outros, com a caracterização ao nível da identidade de pensamento, com o exemplo específico do epíteto atribuído aos Partidos Comunistas, particularmente pela sua coerência ideológica, de partido de pensamento único, em que temos, pois,  a identidade dos pensamentos entre si, podendo isso ser generalizado aos restantes indivíduos comunistas, reconhecidamente politizados, e como se faz a análise política de, em geral, o eleitorado comunista ser relativamente fixo.

 

Assim, pela importância do significado do conteúdo latente, teríamos, em última instância, o sonho mais relacionado com a identidade de pensamento, com o inconsciente, pois, mais relacionado com a obsessão, considerando nós a famosa asserção de Freud de que o sonho é a “ estrada real “ para o inconsciente, em que teríamos a estrada real mais associada ao conteúdo manifesto e em que a interpretação do sonho e seu significado latente estariam mais ligados ao inconsciente, com o conteúdo manifesto mais associado ao histerismo e o conteúdo latente à obsessão. Destaca-se, relacionadamente, a consideração comum de quando uma pessoa tem um sonho, a nível relacional, profissional, etc., e quer realizá-lo, em que temos o sonho como uma fixação, lá está, como uma obsessão. Este sonho de vida estaria, então, associado a aspectos mais latentes do inconsciente do indivíduo, que reflectiria então diferenças a este nível entre as pessoas, e seus sonhos, como no exemplo, dado mais à frente, das diferenças entre o Sonho Americano e o Sonho Russo.

 

Continuando, teremos a noção de psicologicamente a identidade de pensamento ser mais evoluída do que a identidade de percepção, com os correspondentes processo secundário e princípio da realidade a serem mais evoluídos do que o processo primário e princípio do prazer, como se vê no artigo das identidades referido, em que na identidade de pensamento já não se funcionará tão egocentricamente, tão ao nível do auto-narcisismo, em omnipotência da relação precoce, portanto anterior em evolução, não apelando tanto à necessidade de satisfação, gratificação, imediata. Laplanche & Pontalis ( 1990 ) nos dizem que a oposição entre processo primário e processo secundário é correlativo da oposição entre princípio do prazer e princípio da realidade, em que este último, ao contrário do primeiro, tem em conta as condições impostas pelo mundo exterior. Temos também, como já visto, a associação da identidade de pensamento com o princípio da identidade.

 

Realça-se o descrito mais à frente, de Houzel, Emmanuelli & Moggio ( Coord. ) ( 2004 ), com a indicação acerca de D. Anzieu considerar na patologia histérica, no contexto do ego-pele e dos envelopes psíquicos, haver dificuldades ao nível da constituição do escudo para-excitações, o que causará uma maior dependência de estímulos externos, o que se adequa com as características mais perceptivas do histérico capitalista. Essa maior dependência de estímulos externos do histérico capitalista, considerando as sociedades histéricas capitalistas matriarcais, no âmbito do capitalismo global contemporâneo, faz, em termos evolutivos, aproximar mais o histérico do que o obsessivo, este mais ligado ao comunismo, da referência acentuadíssima de outros animais relativamente à dependência em relação aos sentidos e aos estímulos externos. Isto, em conjunto com a violência social e humana da exploração capitalista, fará melhor enquadrar a famosa expressão do Capitalismo Selvagem. Temos, também neste sentido, a identidade de percepção menos evoluída do que a identidade de pensamento, com o comunismo psicologicamente mais evoluído do que o capitalismo e outros sistemas mais reaccionários, reactivos excessivamente aos estímulos externos, com dependência deles, como o fascismo, extremos do capitalismo, ou o socialismo reacionário, com políticas de direita, que, como o Manifesto Comunista        ( Marx & Engels, 1998 ) nos diz, promove a permanência dos habituais políticos e dirigentes de linha conservadora e de tendência burguesa. Em particular, no expansionismo espacial militarista fascista, teremos um enquadramento das características já apresentadas, com um acting out, com a passagem ao acto mais imediata, menos mentalizado, com relação mais directa entre estímulos externos e reacção comportamental, resposta comportamental.

 

Pelo dito, poderíamos aqui enquadrar o chamado Sonho Americano, que pelas características aduzidas, se caracterizará, então, mais por aspectos manifestos, mais externos, mais histéricos, apelando muito à identidade de percepção e ao reencontrar da imagem do objecto de satisfações anteriores, regulando-se muito pelo princípio do prazer e deixando-se então controlar pelas intensidades das representações, em que se destaca a importância excessiva atribuída a celebridades e à visualização das mesmas, e ao tentar ser bem sucedido como eles, a importância da gratificação imediata, o “ aqui e agora “ histérico, e o aspecto relativamente ilusório de ser bem sucedido, em que por cada caso de sucesso, muito divulgado imageticamente, há números significativos de indivíduos que são considerados falhados, não bem sucedidos, podendo nós dar o exemplo de números significativos de licenciados trabalharem em empregos básicos, não considerados de sucesso. Pelo descrito, será, então, um Sonho menos evoluído.

 

Podemos também enquadrar aqui um Sonho de uma sociedade mais progressista, embora ainda capitalista, como da sociedade russa, em que se poderá dizer que o Sonho Russo foi tema da Cerimónia de Abertura dos recentes Jogos Olímpicos de Inverno, realizados em Sochi, Rússia. Aspecto crucial, referente a uma menina a sonhar, foi o de haver a envolvência do alfabeto russo, com ligações das letras a feitos russos e à história russa. Neste aspecto, num âmbito mais obsessivo, no sentido linguístico, é de realçar a ligação da linguagem ao inconsciente, em que, como dissemos anteriormente, haverá uma maior ligação do inconsciente à obsessão, no sentido do aspecto latente, em que podemos denotar o destaque que Lacan ( 1996 ) faz quanto à linguagem enquanto base do inconsciente. Há aqui uma maior ligação à identidade de pensamento, pela identidade das representações linguísticas entre si, unidas pelos feitos russos e história russa, no quadro de uma sociedade mais progressista do que a estado-unidense.

 

Assim, pelo apresentado, teríamos que o Sonho Russo será mais evoluído do que o Sonho Americano.

 

Continuando, ainda é de relacionar o sonho com o mecanismo do recalcamento, em que se dirá que o material inconsciente é material recalcado, recalcamento como mecanismo mais predominantemente histérico, denotando-se, sobremaneira, que posteriormente há uma tendência, relacionada com a compulsão à repetição, do material inconsciente se manifestar, particularmente no sonho. Dir-se-á que nesta tendência para manifestação, e por contraponto ao recalcamento mais histérico, anterior, há mecanismos mais obsessivos, em que se nota a obsessão em particular no fenómeno da compulsão à repetição. Denotando ainda a referência que Jacques Lacan, em Escritos ( Lacan, 1996 ), faz, citando Freud, de que o deslocamento é apresentado como o meio mais eficaz de que dispõe o inconsciente a fim de ultrapassar a censura, dir-se-á, no contexto, que o deslocamento envolvido no sonho é predominantemente obsessivo, realçando-se novamente, e do mesmo livro de Lacan, a referência que o autor faz acerca da importância da sobrerepresentatividade no sonho para Freud, fenómeno patentemente obsessivo e, como é de ver, relacionado com o deslocamento, que permitirá, sobremaneira, aquela sobrerepresentatividade. Para sermos mais precisos, a característica de facilidade de deslocamento do afecto entre representações do histérico, com aquilo que foi dito antes, indica-nos que o deslocamento fará a passagem entre uma base histérica para um funcionamento obsessivo, já que no deslocamento e na sobrerepresentatividade o afecto eventualmente para, eventualidade mais para o deslocamento, e mais garantidamente no outro mecanismo, em que, portanto, a base histérica do deslocamento associa-se e baseia-se na utilização de aspectos imagéticos, principalmente do dia-a-dia e do passado, nos aspectos mais manifestos, mais relacionados com a identidade de percepção, do conteúdo manifesto do sonho.

 

Agora, acerca dos sonhos recorrentes, realce-se, particularmente em Freud ( 1988 ), o sonho enquanto realização de um desejo inconsciente, em que nos perguntamos acerca do porquê da recorrência do sonho. Se quisermos manter a regra do sonho enquanto realização de um desejo inconsciente, teremos que o sonho recorrente, ou o motivo ou temática recorrente, denota-nos que o mesmo não está relacionado estritamente com a realização de um desejo inconsciente, no sentido em que não será esse o tema central do sonho recorrente, já que teríamos que antes de se tornar recorrente, o desejo já deveria estar realizado e, por consequência, não se repetir. No mesmo sonho recorrente, dever-se-ão procurar aspectos do sonho aparentemente menos centrais e, numa tendência Junguiana, utilizar a técnica da amplificação, com realce desses aspectos menos centrais, e interpretá-los de acordo com as associações que o indivíduo que teve o sonho faz, relativamente a esses temas menos centrais. Esta maneira de ver o sonho recorrente é semelhante à maneira que Freud ( 1988 ), em seu A interpretação dos sonhos, aborda a angústia no sonho, dizendo que os aspectos que não se associam à angústia, embora aparentemente importantes, não serão o tema central do sonho, não sendo essa a mensagem do inconsciente, em que a mesma mensagem se relacionará com os aspectos angustiantes.

 

Para mais, considerando-se a indicação de Lacan ( 1996 ), de que para Freud o deslocamento é apresentado como o meio mais eficaz de que dispõe o inconsciente a fim de ultrapassar a censura, destaquem-se novamente as noções de identidade de percepção e de identidade de pensamento. Se como Laplanche & Pontalis ( 1990 ) dizem, a identidade de pensamento não se deixa iludir pela intensidade das representações, temos que a censura, no sonho, deixando-se iludir pela intensidade das representações, não tanto do processo primário e do princípio do prazer, ou seja, pela alta intensidade das representações, mas sim pela menor intensidade das representações, em que particularmente pelos mecanismos de deslocamento e de sobrerepresentatividade há o ultrapassar da censura, com a intensidade disfarçada, teremos que a censura está a meio caminho entre a identidade de percepção, já que a satisfação de tendências inconscientes, e a identidade de pensamento, em que há também o considerar das condições da realidade exterior e psíquica. Já que, como já se disse, o conteúdo latente do sonho está mais relacionado com a identidade de pensamento, teríamos que esse conteúdo estaria mais relacionado com um inconsciente, obsessivo, em que esse inconsciente estaria mais associado às representações da realidade, na linha do processo secundário e do princípio da realidade da identidade do pensamento, que nos daria uma ligação à potencialidade criativa do inconsciente, particularmente colectivo, de que Jung ( 1988 ) tanto nos fala, por precisamente o inconsciente estar associado aos fenómenos da realidade, estar associado às relações entre os fenómenos da realidade.

 

Quanto àquele caminho, acima mencionado, da censura, será mais preciso dizer estar a meio caminho entre a identidade de pensamento e a identidade de percepção, num caminho contrário aos processos perceptivos mais conscientes, mais ao nível sensorial. Nesta delineação, teremos que a censura psíquica tem características inversas à censura externa, particularmente externalizada, realçando-se os meios de comunicação de massas, numa sociedade baseada, por exemplo, ao nível perceptivo, como o visual, o auditivo, etc., nos fenómenos de censura subliminar, ao nível das mensagens subliminares, e não tão subliminares, com maior ou menor reforço dos comportamentos, emoções, pensamentos, de reacção, de resposta, a essas mensagens, reforço esse positivo ou negativo. Teremos que quanto mais se acentua a censura externa, particularmente ao nível da intensidade das mensagens, especialmente emocionais, menos se acentua a censura psíquica, interna, precisamente pelo direcionamento contrário entre as mesmas. O agora descrito, e pelo apresentado anteriormente, indicar-nos-ia que quanto mais um indivíduo estiver controlado pela censura externa, menos o indivíduo se caracterizará  pela criatividade, enquanto advinda do inconsciente.

 

Tenha-se ainda em conta que, pelo descrito neste artigo, em que temos conteúdo manifesto, mais imagético e perceptivo, com identidade de percepção mais associada ao capitalismo enquanto sistema histérico, e em que temos conteúdo latente, com mecanismos inconscientes mais obsessivos e com identidade de pensamento mais associada ao comunismo enquanto sistema obsessivo, e com um inconsciente mais obsessivo, se deve perspectivar que aquela censura externa, como descrita, funcionará particularmente bem num sistema mais histérico, como o capitalismo e seu extremo, fascismo, realçando-se neste ponto o indicado por Houzel, Emmanuelli & Moggio          ( Coord. ) ( 2004 ) acerca de D. Anzieu considerar na patologia histérica, no contexto do ego-pele e dos envelopes psíquicos, haver dificuldades ao nível do escudo para-excitações, o que causará uma maior dependência  de estímulos externos, o que se adequa com as características mais perceptivas do histérico capitalista. Ora, a censura num sistema comunista funcionará mais ao nível de um controlo mais directo da censura interna, psíquica, que se caracterizará em particular pelo questionamento, do pôr em dúvida, da identidade dos pensamentos entre si, da sua coerência. Politicamente, desvios ideológicos ao comunismo são especiais alvos de censura.

 

É sintomático que num sistema capitalista, ou o seu extremo, fascismo, os inimigos são considerados como sendo externos, digamos assim, mais ao nível perceptivo, com fenómenos xenofóbicos relativos ao estrangeiro, em que temos o exemplo histórico dos Estados Unidos, em que houve a contínua mudança como inimigo externo do comunismo soviético e do movimento comunista internacional para os assim considerados fundamentalistas islâmicos, no âmbito do “ terrorismo islâmico “, com a consequente “ guerra ao terror “, enquanto que num sistema comunista, os inimigos são considerados como sendo internos, menos perceptivo e mais inconsciente, por assim dizer, com fenómenos como o considerado “ inimigo do povo “, num enquadramento ideológico de afastamento do ideal comunista.

 

Finalizando, foram estas, pois, as elaborações acerca da relação entre o sonho e as identidades de percepção e de pensamento, tendo-se feito também um enquadramento societal capitalista e comunista.

 

 

Bibliografia

 

Freud, S. ( 1988 ). A interpretação dos sonhos. Pensamento – Editores Livreiros, Lda.

 

Houzel, D., Emmanuelli, M. & Moggio, F. ( Coord. ) ( 2004 ). Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente. Climepsi Editores

 

Jung, C. G. ( 1988 ). A prática da psicoterapia ( tradução portuguesa ) in Obras Completas de C. G. Jung, Vol. XVI. Petrópolis: Editora Vozes

 

Lacan, J. ( 1996 ). Escritos. Editora Perspectiva

 

Laplanche, J. & Pontalis, J. B. ( 1990 ). Vocabulário da Psicanálise. Editorial Presença

 

Marx, K. & Engels, F. ( 1998 ). The Communist Manifesto. Signet Classic ( Publicação original, 1848 )

 

Resende, S. ( 2014 ). Identidade de percepção e Identidade de pensamento in www.psicologado.com ( proposto a 04/2014 )

publicado por sergioresende às 12:54
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Quinta-feira, 3 de Abril de 2014

Identidade de percepção e Identidade de pensamento

Identidade de percepção e Identidade de pensamento

 

Neste artigo, pretende-se relacionar identidade de percepção e identidade de pensamento no enquadramento societal capitalista e comunista, relacionando-se também essas identidades ao nível da percepção extra-sensorial e psicocinese.

 

Assim, Laplanche & Pontalis ( 1990 ), ao caracterizarem identidade de percepção e identidade de pensamento, nos dizem que a primeira surge da tendência do processo primário e que a segunda surge da tendência do processo secundário, em que considera-se que o processo primário visa reencontrar uma percepção idêntica à imagem do objecto resultante da vivência da satisfação e que no processo secundário a identidade procurada é a dos pensamentos entre si. Em termos económicos, o processo primário caracteriza-se pela descarga imediata e o processo secundário pela inibição, adiamento da satisfação e desvio, mas ao nível da identidade de percepção, temos equivalências estabelecidas entre representações, em que procurando a vivência da satisfação, liga uma descarga eminentemente satisfatória à representação de um objecto electivo. Assim, o indivíduo vai daí em diante repetir a percepção que está ligada à satisfação da necessidade. Considera-se, para mais, que a identidade de pensamento constitui uma modificação da identidade de percepção, não se deixando regular exclusivamente pelo princípio do prazer, em que fazendo a ligação entre representações não se deixa iludir pela intensidade delas, sem tanta necessidade de satisfação imediata. Temos, então, que esta modificação constituirá a emanação daquilo a que a lógica chama princípio de identidade.

 

Ao nível societal capitalista, temos acentuação da Máscara, esta enquanto arquétipo de adaptação externa, sobrecompensatoriamente, com enfoque excessivo do aspecto externo, com características histéricas de sedução, de tentar agradar, particularmente através da imagem do próprio perante os outros, com maior caracterização ao nível da identidade de percepção, com o exemplo cultural de filmes e reality-shows estado-unidenses, com capitalismo acentuado, a indicarem que tudo é percepção, o que interessa é a imagem transmitida aos outros. Para mais, temos, no capitalismo, a importância da satisfação, gratificação, imediata, muito ao nível do processo primário e do princípio do prazer.

 

Já no comunismo, por contraponto ao capitalismo, temos acentuação da Sombra, com eventual enfoque sobrecompensatório excessivo do aspecto interno, mais obsessivo, não importando tanto a imagem transmitida aos outros, com a caracterização ao nível da identidade de pensamento, com o exemplo específico do epíteto atribuído aos Partidos Comunistas, particularmente pela sua coerência, de partido de pensamento único, em que temos, pois, a identidade dos pensamentos entre si, podendo isso ser generalizado aos indivíduos comunistas, reconhecidamente politizados, e como se faz a análise política de, em geral, o eleitorado comunista ser relativamente fixo, pelo menos não tão variante como em relação a outros partidos.

 

Considerando nós que a identidade de pensamento é mais evoluída psicologicamente do que a identidade de percepção, em particular, considerando o processo secundário mais evoluído do que o processo primário e o princípio de realidade correspondente mais evoluído do que o princípio do prazer, dir-se-á que o comunismo é psicologicamente mais evoluído do que o capitalismo. Laplanche & Pontalis ( 1990 ) nos dizem, efectivamente, que “ A oposição entre processo primário e processo secundário é correlativa da oposição entre princípio do prazer e princípio de  realidade. “ ( p. 316 ), em que este último princípio, ao contrário do primeiro, tem em conta as condições impostas pelo mundo exterior, não se funcionando, portanto, tão egocentricamente, tão ao nível do auto-narcisismo e da omnipotência mais precoce, anterior no desenvolvimento psíquico, com a correspondente necessidade de satisfação imediata.

 

Continuando, tendo em conta que há acentuação da Sombra no comunismo, dir-se-á que o comunista lidará excessivamente com medos desconhecidos e com aquilo que o indivíduo não aceita em si próprio, particularmente através do juízo de condenação, adiando a gratificação, mais próprio do obsessivo, em que se pode dizer que para o equilíbrio dialéctico Máscara-Sombra, no sentido Junguiano, o indivíduo deverá Mascarar, por assim dizer, a sua personalidade, com mais gratificações imediatas e mais acentuação da imagem transmitida aos outros, com acentuação do aspecto externo, e da identidade de percepção, e com técnicas mais histéricas, como o recalcamento, recalcando mais pensamentos e emoções desagradáveis ao próprio.

 

Por outro lado, e também para aquele equilíbrio Máscara-Sombra, o capitalista, com acentuação da Máscara e do aspecto externo, lidará excessivamente com aquilo que é percepcionado, com a percepção, com excessiva influência de estímulos externos, podendo nós invocar o dito por D. Anzieu [ Houzel, Emmanuelli & Moggio ( Coord. )      ( 2004 ) ], no contexto do ego-pele e envelopes psíquicos, acerca de na patologia histérica haver dificuldades ao nível do escudo para-excitações, estando, pois, o indivíduo mais dependente da influência de estímulos externos, em que o capitalista, portanto, deverá Sombrear a sua personalidade, por assim dizer, não recalcando histericamente tudo o que lhe é desagradável, lidando mais com o pensamento sobre medos desconhecidos e sobre o que não aceita em si próprio, com técnicas mais obsessivas, como o juízo de condenação, adiando a gratificação, mentalizando mais a sua personalidade, com acentuação do aspecto interno e da identidade de pensamento.

 

Aquela maior dependência de estímulos externos do histérico capitalista, considerando as sociedades histéricas capitalistas matriarcais, no âmbito do capitalismo global contemporâneo, faz, em termos evolutivos, aproximar mais o histérico do que o obsessivo, este mais ligado ao comunismo, da referência acentuadíssima de outros animais relativamente à dependência em relação aos sentidos e aos estímulos externos. Isto, em conjunto com a violência social e humana da exploração capitalista, fará melhor enquadrar a famosa expressão do Capitalismo Selvagem. Temos, também neste sentido, a identidade de percepção menos evoluída do que a identidade de pensamento, com o comunismo psicologicamente mais evoluído do que o capitalismo e outros sistemas mais reaccionários, reactivos excessivamente aos estímulos externos, com dependência deles, como o fascismo, extremo do capitalismo, ou o socialismo reacionário, com políticas de direita, que, como o Manifesto Comunista ( Marx & Engels, 1998 ) nos diz, promove a permanência dos habituais políticos e dirigentes de linha conservadora e de tendência burguesa. Em particular, no expansionismo espacial militarista fascista, teremos um enquadramento das características já apresentadas, com um acting out, com a passagem ao acto mais imediata, menos mentalizado, com relação mais directa entre estímulos externos e reacção comportamental, resposta comportamental.

 

Num outro assunto, e considerando a diferença evolutiva entre identidade de percepção e identidade de pensamento, já referida, considere-se a temática da percepção extra-sensorial. Tenha-se em conta o fenómeno relativamente conhecido de, no que diz respeito aos cinco sentidos, quando um deles é diminuído mais ou menos significativamente, há um acréscimo de qualidade nos outros, como, por exemplo, quando um indivíduo cega, haver um acréscimo de qualidade auditiva. Transpondo isto para a relação entre percepção extra-sensorial e identidade de percepção e identidade de pensamento, acentuando-se, sobremaneira, o aspecto extra-sensorial, ou fora dos sentidos, teremos que para indivíduos caracterizando-se mais pela identidade de pensamento haverá uma diminuição da importância da identidade de percepção, sensorial, neste caso. Intui-se que haverá uma acentuação da percepção extra-sensorial ao nível da identidade de pensamento, em que teríamos uma evolução progressiva da importância da percepção para uma mentalização ao nível do pensamento, em que temos na percepção extra-sensorial uma fase pós-identidade de percepção, em que ciclicamente haverá correspondentes perceptivos para correspondentes de pensamento, no enquadramento da identidade de pensamento, considerando-se, como já se disse, que a identidade de pensamento consitui uma modificação da identidade de percepção.

 

Teríamos que a visualização remota, relacionando-se mais com visualização à distância, estaria no início evolutivo da percepção extra-sensorial, seguindo-se depois a psicocinese, ou capacidade de mover objectos à distância, estando mais relacionada com a psicomotricidade, embora a psicocinese não seja considerada estritamente como percepção extra-sensorial, por constituir uma manifestação objectiva do psiquismo, como podemos ler em Hemmert & Roudene, Correia ( Coord. ) ( ? ), em que a percepção extra-sensorial seria uma manifestação subjectiva desse psiquismo, em que teríamos uma evolução, ao nível da evolução dos humanos aquando do bebé, da importância dos olhos, para a psicomotricidade, em que já teríamos relações entre esquemas sensório-motores. Sequenciadamente, teríamos depois a telepatia, ou capacidade de transmitir e/ou receber pensamentos à distância, em que estaríamos mais ao nível de esquemas formais e/ou pós-formais do pensamento, estando, pois, essa telepatia mais enquadrada e mais identificada com a identidade de pensamento, com a identidade dos pensamentos entre si.

 

Pelo dito, e na sequência do psiquismo humano, da estrutura psicótica até à estrutura neurótica, passando pela organização borderline, teríamos que a visualização remota, pela importância perceptiva visual, se associaria à estrutura psicótica, a psicocinese, pela importância de relacionamentos sensório-motores, em que podemos enquadrar o catar sexual feminino, ou o sentimento de estar a sugar sexualmente outra mulher, nos relacionamentos sociais tipicamente sexualizados entre mulheres, tendo nós, ainda, neste contexto, o contributo de Jacques Lacan ( 1996 ), que associa este catar à psicomotricidade, em que teríamos o catar sexual feminino enquanto psicocinese ainda com alguma ligação à identidade de percepção, pela procura do reencontrar da percepção idêntica à imagem do objecto resultante da vivência da satisfação, a psicocinese, dizia eu, se associaria à organização borderline histérica, com a histeria mais tipicamente feminina, enquanto que a telepatia, pela importância dos pensamentos e da identidade dos pensamentos entre si, se associaria à estrutura neurótica obsessiva.

 

Intui-se, neste contexto, que o telepata, com características psicológicas mais evoluídas, terá a capacidade, particularmente em potência, de desenvolver o fenómeno psicocinético, e o fenómeno visual remoto, anteriores, portanto, este último eventualmente de forma inconsciente, como, por exemplo, ao nível do inconsciente colectivo, funcionando, eventualmente, ao nível do automatismo, por ser anterior em evolução. Também podemos supor que, inversamente, o visualizador remoto poderá ser treinável, digamos assim, para executar o fenómeno psicocinético e o telepático, e o psicocinético o telepático, mas será particularmente difícil, já que se associam a organizações psíquicas menos evoluídas, podendo não ter a capacidade psíquica para executar fenómenos psíquicos mais evoluídos, particularmente como eu os descrevi. Mas esse treinamento estaria ao nível do trabalhar dos esquemas sensório-motores e dos esquemas formais e/ou pós-formais do pensamento.

 

Nestas associações feitas, em particular, entre psicocinese e telepatia, é de referir que em Hemmert & Roudene, Correia ( Coord. ) ( ? ) se indica que Émile Boirac, em 1911, baseado em experiências feitas por ele, liga a telepatia e a teledinâmica ( telecinese ), onde a psicocinese está incluída, no sentido de efeitos objectivamente detectáveis.

 

Relativamente à visualização remota, Davis ( 2004 ) nos diz que houve um programa de visualização remota, desenvolvido pelos Estados Unidos, e patrocinado por entidades governamentais, que terá decorrido entre a década de 1970 e de 1990, avançando que a visualização remota envolve precognição e clarividência.

 

Quanto à psicocinese, Davis ( 2004 ) ainda nos diz que a mesma é essencialmente a influência directa da mente sobre a matéria sem qualquer instrumentação ou energia física intermediária conhecida, avançando que a teleportação psíquica é uma forma de psicocinese, realçando as asserções de Uri Geller ( 1975 ) e de Ray Stanford ( 1974 ) acerca de terem sido teleportados em várias ocasiões, e ainda as investigações científicas de Vallee ( 1988, 1990, 1997 ) acerca de um pequeno número de relatórios credíveis de indivíduos que relataram terem sido teleportados para/e de OVNIs. Eric Davis ainda destaca experiências laboratoriais, rigorosamente controladas e repetíveis, realizadas na China, referindo-se a Shuhuang et al. ( 1981 ), que relata que crianças dotadas causaram a aparente teleportação de pequenos objectos, de um local para outro, sem os tocar de antemão, e a Kongzhui et al. ( 1990 ), Jinggen et al. ( 1990 ) e Banghui ( 1990 ), em que utilizando crianças e jovens adultos dotados, com capacidade psicocinética, verificou-se a teleportação nos vários casos e que os especímenes utilizados ficavam completamente inalterados relativamente ao estado inicial, após a teleportação. Há ainda o realce, por parte de Davis ( 2004 ), de relatórios governamentais sobre pesquisa parapsicológica da União Soviética, e dos seus aliados do Pacto de Varsóvia, dando as referências bibliográficas de LaMothe ( 1972 ), Maire & LaMothe ( 1975 ) e Relatório DIA ( 1978 ). Assim, os soviéticos, considerando a psicotrónica como envolvendo fenómenos psíquicos como psicocinese, telecinese, percepção extra-sensorial, projecção astral, clarividência, precognição, etc., identificaram dentro dessa psicotrónica duas capacidades discretas: bioenergética, relacionada com a produção de efeitos objectivamente detectáveis, como psicocinese, telecinese, efeitos de levitação, transformação de energia, ou seja, alterando ou afectando a matéria, e bioinformação, relacionada com o obter de informação por outros meios que não os canais sensoriais normais ( P. E.-S. ), como telepatia, precognição e clarividência, isto é, usando a mente para abordar os pensamentos dos outros ou para adquirir informação presente ou futura sobre eventos objectivos no mundo.

 

Ainda quanto à psicocinese, e no livro de Hemmert & Roudene, Correia ( Coord. ) ( ? ), é indicado que Charles Richet, partindo do estudo de médiuns, distinguiu duas categorias de sujeitos: os médiuns de efeitos físicos e os médiuns de efeitos psíquicos. Os primeiros produzem teledinamismos ( ou deslocamentos de objectos à distância e sem contacto ), vozes, odores, materializações. Os segundos são dotados de criptestesia, ou seja, da faculdade de perceber o que é irreconhecível pelos sentidos, sendo capaz de uma lucidez anormal. Indica-se, para mais, que sendo os médiuns de efeitos psíquicos muito comuns, os médiuns de efeitos físicos parecem ser raros, podendo nós aqui contrapor, como já indicado, na associação entre psicocinese e catar sexual feminino, que o comportamento sexual feminino, em geral, numa espécie de psique colectiva feminina, indica-nos que os fenómenos de efeitos físicos à distância são relativamente prevalentes.

 

Tendo em conta esta prevalência do catar sexual feminino, na sua associação com a psicocinese, ou enquanto psicocinese, é de considerar o já dito, quanto à sequenciação do psiquismo humano, da visualização remota à telepatia, passando pela psicocinese, para se perspectivar, como já foi dito em relação aos sentidos, que diminuindo a psicocinese, ou a tendência para a mesma, aumentar-se-á a tendência para a telepatia, para o fenómeno telepático, em que nessa diminuição considera-se o trabalhar da diminuição da dependência psicocinética sexual, associada às características fisionómicas próprias da mulher, envolvida no catar sexual feminino. Deste modo, considere-se a inveja do clitóris, como caracterizando o catar sexual feminino, e enquanto estando na base de poder criativo, diferenciadamente para homens e mulheres. Esta base pode ver-se, por exemplo, em Aspectos criativos e evolutivos da inveja do clitóris ( Resende, 2010 ), em Influência da inveja do clitóris na sistematização política por género ( Resende, 2010 ), em Exemplos específicos das características subcompensatórias do homem derivadas da inveja do clitóris ( Resende, 2010 ) ou em Inveja do clitóris e criatividade ( Resende, 2014 ).

 

Deste último artigo, considere-se a noção psicológica do objecto transicional no fundamento da criatividade, com um tempo de ilusão e um tempo de desilusão. Temos que a vivência imaginada no feto e a identificação do sujeito com esta, está na linha do espaço de ilusão, da vivência de ilusão, numa relação fusional, e a identificação com o pai, que implica a frustração da saída da relação omnipotente, no útero, na relação fusional, na diferença relacional relativamente à mãe e ao feto, enquanto próprio, está na linha da desilusão, em que o espaço transicional que terá sido o útero começa a ser desinvestido e começa a haver trabalho imaginativo e criativo, em que a mãe, e a mulher, em geral, nas identificações secundárias, continuam a ser fonte de inspiração, com o útero feminino enquanto espaço de ilusão e, precisamente, pela triangulação edipiana ocorrida, em que a mãe é vista enquanto ser separado e distinto, e o próprio imaginariamente no útero da mãe também é visto enquanto separado, e em que na identificação com o pai, e outros homens, nas identificações secundárias, ocorre uma desenfetização e uma desuterização. Ora, ocorre a inveja do clitóris por o clitóris, pela associação com o útero feminino enquanto espaço transicional, ser sinal de fonte criativa, ser sinal do início do processo criativo, e ocorre um sentimento de superioridade no homem, que caracteriza a inveja do clitóris no homem, pela mais fácil identificação, na triangulação edipiana, enquanto género, com o pai, figura paterna, e outros homens, permitindo a continuação e conclusão do mesmo processo criativo. Na mulher deverá haver diminuição da inveja do clitóris, esta, particularmente, pela excitação sexual imaginada noutra mulher através do clitóris da mesma, diminuindo-se a diluição do poder criativo, com a escolha de uma ou poucas figuras de eleição, havendo posteriormente a identificação com o pai ou figura paterna, para também na triangulação edipiana haver a continuação e conclusão do processo criativo. Do mesmo modo, para a mulher, o clitóris será sinal de fonte criativa, sendo, contudo, mais difícil para a mesma sair do início do processo criativo, quer pela diluição do poder criativo nos comportamentos histéricos particularmente sexualizados nas relações sociais entre mulheres quer por a identificação posterior com o pai ou figura paterna ser mais difícil, na triangulação edipiana, por em termos de género ser mais difícil a passagem de objecto de amor materno para objecto de amor paterno, porquanto no homem o objecto de amor permanece em geral o mesmo, o materno.

 

No contexto da diminuição do catar sexual feminino enquanto psicocinese, está também o proposto por mim, particularmente no artigo da Influência da inveja do clitóris acima mencionado, de que para que a mulher sinta verdadeiro poder criador e criativo, deverá dessexualizar os relacionamentos, invertendo a histeria relacional, através da concentração da inveja do clitóris. Para além da inveja do pénis, que habitualmente se associa como caracterizando a mulher, temos que a inveja do clitóris também caracteriza os sistemas de relacionamento típicos do histerismo, considerando a histeria mais típica da mulher. É que baseando o sistema histérico de relacionamento está a inveja que cada mulher sentirá da excitação sexual que o clitóris, de outra mulher, proporciona a essa mulher, nos relacionamentos sociais particularmente sexualizados com outras mulheres. O facto de cada mulher caracterizar-se pelas duas invejas referidas terá importante sentido evolutivo, sendo que cada uma das invejas se constituirá como facilitadora psíquica da maternidade, da mulher ter cada bebé dentro de si, macho ou fêmea. Quanto ao poder criador e criativo da inveja do clitóris na mulher, dir-se-á que este poder diminui quanto mais se dilui esta inveja nos relacionamentos histéricos típicos na mulher, particularmente sexualizados. Sendo assim, será também na utilização deste poder criativo da dessexualização dos relacionamentos histéricos femininos, com a concentração da inveja do clitóris, que se diminuirá o catar sexual feminino enquanto psicocinese e se acentuará a tendência para a telepatia na mulher.

 

Se considerarmos agora o comportamento sexual feminino enquadrado numa espécie de psique colectiva feminina, que podemos designar por psica, será de realçar o fenómeno da religião, em particular a Santa Trindade cristã, ou o Pai, Filho e o Espírito Santo, num contexto matriarcal histérico capitalista, particularmente no capitalismo global contemporâneo. É que uma das bases do capitalismo é a divinização do dinheiro, com a sacralização matriarcal da sexualidade feminina, que será uma das vertentes mais influentes daquele capitalismo. A sacralização da sexualidade feminina será, em particular, na psica já designada, associada ao Espírito Santo, já que Pai e Filho serão masculinos, em que Espírito Santo será uma maneira influente de unir as pessoas, que se associa, neste contexto, aos eflúvios odoríficos femininos tipicamente exalados pela mulher, aspecto muito importante nas relações sociais entre as pessoas, particularmente no contexto histérico matriarcal capitalista. Assim, no contexto, para se diminuir o catar sexual feminino enquanto psicocinese e acentuar o fenómeno telepático, dever-se-á também diminuir a influência da religião nas sociedades, desmistificando e dessacralizando a sexualidade feminina, diminuindo, de alguma maneira, a psica, e acentuando o psico, ou psique colectiva masculina.

 

Quanto à plausibilidade da existência do fenómeno da telepatia, temos de base os trabalhos de J. B. Rhine [ Hemmert & Roudene, Correia ( Coord. ) ( ? ) ], que começa por submeter a percepção extra-sensorial a critérios quantitativos, em que, procurando um método de investigação muito rigoroso, escolhe as cartas Zener e o método Fischer. Os resultados são positivos: a transmissão do pensamento ultrapassa as coincidências possíveis. Entre os cientistas que continuaram a obra de Rhine está o inglês W. Carington, cujas experiências deixaram supor que existe nos seres humanos um fundo comum de subconsciência, o que equivale ao subconsciente colectivo de Jung. Carington imagina “ psychons “, espécie de partículas psíquicas que atravessam o tempo e o espaço. Também o francês René Warcollier abordou o assunto, tendo verificado que o acaso foi matematicamente ultrapassado. É de dizer que os meios oficiais começaram a se interessar pelo assunto, sobretudo nos Estados Unidos e na União Soviética. No primeiro caso, refiram-se duas experiências, que foram, em grande parte, bem sucedidas. A primeira, realizada em 1959, tinha por finalidade uma tentativa de transmissão de pensamento entre dois homens, um dos quais se encontrava a bordo do submarino atómico Nautilus, em imersão sob os gelos polares, e o outro localizado no Pentágono, em Washington. Quanto à segunda, desenrola-se em 1971, entre a cápsula Apolo XIV, em viagem para a Lua, e a cidade de Chicago. No caso dos soviéticos, destaca-se Leonid Vassiliev, muito conhecido pelas investigações sobre o fenómeno de “ sugestão à distância “, que parece ser da mesma natureza que a telepatia, pois ambas supõem a existência de “ ondas “ cerebrais. Estas indicações são do mesmo livro, já referido, de Hemmert & Roudene, Correia ( Coord. ) ( ? ).

 

Também daqui se precisa que a faculdade telepática parece ser apanágio de um pequeno número de indivíduos, em grupos de dois, formando, de certa maneira, pares complementares, constituídos por um indutor ( o que emite o pensamento ) e por um percepiente ( aquele que o capta ), e ainda que a mesma faculdade parece permitir uma transmissão instantânea do pensamento. Para mais, quanto às associações subconscientes na telepatia, M. Tyrrell precisa que é necessário um certo estado de sonho, uma ligeira abdicação do estado normal da consciência. Da mesma fonte, e relacionando estes fenómenos com o psiquismo, temos Paul Chauchard, que nos indica que há, em primeiro lugar, o infraconsciente, domínio dos maquinismos íntimos da actividade motriz, que podíamos relacionar com a psicocinese e com o catar sexual feminino já referido, e a menos menos elementar, já no plano do consciente, o paraconsciente, que compreende toda a actividade que originariamente era consciente, mas que se tornou automática com o hábito, que podíamos relacionar com a inconsciencialização do fenómeno visual remoto do telepata, já referida, e proposta por mim. Segundo Chauchard, a consciência propriamente dita apenas engloba o que é “actualizado “ das recordações acumuladas fora da consciência e que podem, em determinadas circunstâncias, ressurgir para dar origem a pensamentos e actos inexplicáveis. Se essas recordações forem “ interditas “ à consciência devido à sua carga afectiva ou ao seu significado doloroso, tornar-se-ão origem de neuroses. Mais profundas no psiquismo, estão as mais antigas recordações, as que remontam à vida infantil e até mesmo à vida pré-natal, ao momento em que o organismo estava nos primeiros estádios da sua formação, em que este inconsciente, segundo Chauchard, reproduz-se no nosso pensamento, de tal maneira que as nossas imaginações, intuições, vêm de um trabalho psicológico inconsciente, e é este trabalho que nos aparece no sonho. No mesmo livro, é indicado que para além do infraconsciente e  paraconsciente se juntará o transconsciente, a que alguns chamam superconsciente, que será fonte de êxtase e de união mística com a divindade, como de poderes, em que temos no psiquismo humano, então, os níveis inconsciente, consciente e superconsciente, sendo indicado que interessa para os fenómenos paranormais o inconsciente e o superconsciente.

 

Finalizando, foram estas, pois, as considerações identitárias ao nível da percepção e do pensamento, no enquadramento societal capitalista e comunista, como também ao nível da percepção extra-sensorial e psicocinese.

 

 

Bibliografia

 

Davis, E. ( 2004 ). Teleportation Physics Study. Special Report, Air Force Research Laboratory, Air Force Materiel Command, Edwards Air Force Base in www.fas.org/sgp/eprint/teleport.pdf, consultado em 25/03/2014

 

Hemmert, D. & Roudene, A., Correia, M. ( Coord. ) ( ? ). O espírito humano – 1 in Grandes Enigmas do Homem. Amigos do Livro, Editores, Lda.

 

Houzel, D., Emmanuelli, M. & Moggio, F. ( Coord. ) ( 2004 ). Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente. Climepsi Editores

 

Lacan, J. ( 1996 ). Escritos. Editora Perspectiva

 

Laplanche, J. & Pontalis, J. B. ( 1990 ). Vocabulário da Psicanálise ( tradução  portuguesa ) 7ª edição. Editorial Presença

 

Marx, K. & Engels, F. ( 1998 ). The Communist Manifesto. Signet Classic ( Publicação original, 1848 )

 

Resende, S. ( 2010 ). Aspectos criativos e evolutivos da inveja do clitóris em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 17/11/2010

 

--------------- ( 2010 ). Influência da inveja do clitóris na sistematização política por género em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 25/11/2010

 

--------------- ( 2010 ). Exemplos específicos das características subcompensatórias do homem derivadas da inveja do clitóris em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 28/11/2010

 

--------------- ( 2014 ). Inveja do clitóris e criatividade em www.psicologado.com               ( proposto a 01/2014 )

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Domingo, 29 de Dezembro de 2013

O medo e a identidade difusa

Comparam-se, neste artigo, comportamentos observados por mim, para partir daí e analisar a relação entre medo e identidade difusa.

 

Assim, temos comportamentos observados de adolescentes no autocarro, em grande número, a falar alto entre si, muito grupal, com manifestação de alguma exuberância. Também, comportamentos observados de indivíduos, muito plausivelmente emigrantes, em particular, no caso, cabo-verdeanos, a falar alto entre si, no autocarro, na sua língua-mãe. Ainda, comportamentos observados de indivíduos estudantes universitários Erasmus, no metro, em grupo, a falar alto entre si, na língua-mãe respectiva. Nestes dois últimos grupos, também alguma exuberância.

 

Considere-se, antes de mais, o fenómeno de identidade difusa na adolescência. Em Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente [ Houzel, Emmanuelli & Moggio ( coord. ) ( 2004 ) ], fala-se numa certa recusa da identidade, dizendo que o mesmo fenómeno será bastante respeitante aos estados-limite e psicoses. São de notar a este respeito as referências de Bergeret ( 1997 ) e de Coimbra de Matos             ( 2007 ) quanto à grande e crescente extensão do fenómeno borderline nas sociedades contemporâneas, particularmente sociedades histéricas capitalistas matriarcais, no âmbito do capitalismo global. A identidade difusa ainda será relativa a dificuldades de individuação, como se vê mais à frente em relação ao ego-pele de Anzieu, o que nos remete para comportamentos de associativismo grupal, em termos de sobrecompensação quanto à individuação, ou falhas na mesma individuação. Aquele Dicionário ainda refere que o fenómeno da identidade difusa se pode ver na problemática da personalidade múltipla, podendo nós aqui fazer a comparação que o que se conclui neste artigo quanto a fenómenos de grupo se refere a uma espécie de personalidade grupal.

 

Temos, pois, problemas identitários na adolescência, dificuldades de integração, muito particularmente ao nível grupal e extra-grupal, o que nos leva a um sentimento de ameaça externa, precisamente porque as fronteiras ego-corporais estão difusas, o que nos levará, como se diz mais à frente, a sentimentos xenófobos, no sentido do termo de medo do diferente. Essas características também serão uma das bases do conflito de gerações, em que os adolescentes terão particular medo dos adultos, do que eles representam, e essa será uma das razões porque se verifica frequentemente ajuntamentos invulgarmente grandes de adolescentes, como por exemplo nos transportes públicos, o que será um mecanismo de defesa que utilizarão para se defenderem do medo sentido, e em que há uma sobrecompensação relativamente às dificuldades de integração.

 

Quanto aos comportamentos observados, temos semelhança de comportamentos nos grupos referidos, com manifestação de exuberância comportamental, na linha histérica, em que se compara, em particular, adolescente com o turista, estrangeiro, emigrante, etc., particularmente, no sentido de problemas identitários, perante a população local, ou autóctone, com dificuldades de integração. Com estes problemas identitários, de dificuldades de integração, haverá, no comportamento de falar alto, como também alguma exuberância, sobrecompensação ao nível do sentimento de pertença, que se manifesta ao nível da presença física nesses locais, em que o indivíduo manifestará latentemente que não se sente como pertencendo onde está, em que as sobrecompensações serão defesas relativamente a ameaças sentidas no ambiente à volta do sujeito.

 

Temos, ainda, que no histérico, mais feminino, há sobrecompensações típicas, como se pode ver, por exemplo, em O sobrecompensatório na mulher ( Resende, 2012 ), principalmente derivadas da inveja do pénis, em que nas sociedades histéricas capitalistas matriarcais, haverão essas manifestações de falar alto, com gritos e exuberâncias, muito particularmente visível em talk-shows televisivos ou concursos, em que, no contexto do artigo, estas sobrecompensações revelarão, nestas sociedades, problemas identitários, dificuldades de integração, a nível global, planetário, com ausência de sentimento de pertença, com algum vazio ( fazendo lembrar o livro de Lipovetski, A Era do vazio ), no sentido de as sobrecompensações referidas revelarem um sentimento latente de não pertença àquele local físico, indicando sentimentos de vazio locais. Tendo em conta o capitalismo global, no contexto histérico, dir-se-à que essas sobrecompensações levarão aos sentimentos nacionalistas exacerbados, típicos dos sistemas xenófobos. Daí o sucesso da chamada guerra ao terror estado-unidense, contemporânea, relativamente a países árabes, muçulmanos, em particular, em que se revelam, precisamente, sentimentos xenófobos, no contexto do extremo do capitalismo, o militarismo expansionista fascista, sentimentos esses relativos à ameaça externa sentida quanto à difusidade das fronteiras ego-corporais, já referida. Poder-se-ia dizer que nos sistemas fascistas nacionalistas xenófobos, há, precisamente, e em sobrecompensação, a identificação do indivíduo com o país, ao nível das fronteiras, em que se sentirá a ameaça externa ao nível da difusidade fronteiriça, ego-corporal no indivíduo.

 

Continuando, naqueles sentimentos de vazio, dir-se-à mesmo que ocorrem dúvidas existenciais, que, no contexto do existencialismo, em particular francês, influenciado por Jean-Paul Sartre, são reveladas na famosa canção francesa, cantada em particular por Joe Dassin, Et si tu n’existe pas, em que se diz na canção Et si tu n’existe pas et si moi n’existerai, fazendo a referência hipotética da situação da mulher não existir e de o homem não existir no futuro. Isto remete-nos para o famoso lema das sociedades histéricas capitalistas matriarcais de viver o momento, que será precisamente uma sobrecompensação à dúvida existencial presente, quanto ao momento presente, com, exactamente, a sua sobrecompensação, enquanto que a situação de o homem não existir no futuro nos remete para falhas, que serão existenciais, de o homem não se imortalizar simbolicamente, tendo em conta a situação histórica de as obras científicas, literárias, artísticas e culturais, que foram sendo deixadas ao longo da história humana, serem precisamente de homens, reflectindo a necessidade de imortalidade simbólica no mesmo, em que precisamente nesta era do vazio já referida, essa necessidade estará a ser colocada em causa, devido às tendências mais contemporâneas das sociedades histéricas capitalistas matriarcais, particularmente com o actual capitalismo global. Isto poderá estar enquadrado no afamado desejo contemporâneo de fama e dinheiro rápidos, que estará associado, precisamente, ao delírio existencial momentâneo, com a sua sobrecompensação.

 

Voltando aos comportamentos observados, eles serão manifestamente histéricos, o que nos leva, quanto à difusão da identidade, às referências a Didier Anzieu, no Dicionário de Psicopatologia já mencionado, quanto às dificuldades sentidas, no contexto do ego-pele e envelopes psíquicos, sendo estes protótipos da relação do indivíduo com o mundo exterior, na patologia histérica, relativamente ao escudo para-excitações e individuação, quanto à sua constituição e desenvolvimento, em que temos, pois, que os estímulos externos são excessivos para o sujeito, ou, como neste caso, para os sujeitos. Estas considerações de Anzieu estão no enquadramento do já dito, quanto a sentimentos xenófobos, pela ameaça externa sentida pela difusidade das fronteiras ego-corporais, e ao medo sentido no conflito de gerações pelos adolescentes, pelas mesmas razões. Estas ideias nos levam a uma base da formação de comportamentos de gangue, em particular, pelas dificuldades de individuação referidas, mas também ameaça relativamente ao escudo para-excitações, com sobrecompensações, como ao típico comportamento em grupo de grupos neo-nazis, que terão este funcionamento em gangue, e terão as características já aduzidas, quanto à xenofobia, em que haverá sentimentos sobrecompensatórios relativamente ao sentimento de não pertença, que levará a sentimentos nacionalistas exacerbados, típicos dos sistemas xenófobos. Este comportamento grupal neo-nazi será, como já dito, um mecanismo de defesa para se defenderem do medo sentido, em que se pressupõe que o outro, do grupo, será visto como uma extensão do próprio, numa linha particularmente narcísica, constituindo, como já se disse, uma personalidade grupal.

 

Para mais, sendo o sistema neo-nazi um sistema matriarcal, a difusidade ego-corporal dos seus integrantes nos remete, identitariamente, para a difusidade ego-corporal relativa aos odores sexuais tipicamente exalados da mulher, com a importância da sexualidade feminina, particularmente, nas relações histéricas sexualizadas nos sistemas capitalistas, e seu extremo, fascismo, num contexto em que o neo-nazi, o fascista, se identifica acentuadamente com a mãe castrada, sentindo o mesmo que foi responsável pela amputação do pénis da mãe, com culpabilidade, já que sentirá que a mãe se quer vingar, como se pode ver em A guerra militar no homem fascista                 ( Resende, 2013 ). Acontecerá que o homem fascista será um filho-falo por excelência, que ao nascer terá amputado o pénis da mãe, cujos vestígios são o clitóris, havendo sentimento de perda de amor do objecto, por aquele desejo de vingança da mãe. Aquela identificação referida do homem fascista será ao nível da identificação fusional psicótica, como se vê naquele artigo agora referido.

 

Destaca-se, sobremaneira, em relação à difusidade ego-corporal relativa aos odores sexuais tipicamente exalados da mulher, o meu artigo A mulher e a morte ( Resende, 2013 ). Considera-se, no mesmo, o comportamento sexual típico da mulher no dia-a-dia, com comportamentos masturbatórios, sem resolução sexual, a fase após o orgasmo, daí as capacidades multi-orgásmicas, em que quanto mais orgasmos obtém, menor iniciativa sexual manifestará. Ora Jung diz-nos que a mulher que não se identifica com o Eros materno, perde capacidade de iniciativa, o que nos leva a pensar que há maior identificação com o Tanatos materno, ou instinto de morte. Fazendo referência que Jacques Lacan também associa sexualidade feminina e instinto de morte, é de considerar, realçadamente, a minha descrição do comportamento habitual e típico de mulheres mais velhas de pintarem o cabelo branco e grisalho, sinal manifesto de envelhecimento e velhice, denegando a velhice, o que contextualizando o agora dito revela-nos, importantemente, um medo relativamente generalizado do género feminino da morte e da proximidade da mesma. Relacionando a identificação da mulher com o instinto de morte com este medo do género feminino da morte, leva-nos a pensar no medo de morte da mulher dela própria. Ora, no contexto deste artigo, o medo relativo à difusidade sexual que a mulher sente, será, então, em relação a ela própria, em que será ela que se sente diferente, no sentido xenófobo, do medo do diferente, vendo nós então melhor a relação da mulher enquanto mãe com o homem fascista, e ao nível das personalidades grupais descritas neste artigo, e isto quanto à xenofobia. No contexto, o indivíduo identificando-se fusionadamente com a mãe, de modo acentuado, portanto, desenvolve ele próprio sentimentos xenófobos, em que fará a passagem de uma identificação introjectiva acentuada, de tipo fusional, para uma identificação projectiva também acentuada, em que, pelo já dito, teremos nas personalidades grupais descritas relações fusionais, havendo a recusa da identidade, característica da identidade difusa, da imago materna, que quanto mais acentuada fôr mais acentuadas são as relações grupais, explicando isto a passagem das características introjectivas para as características projectivas.

 

Deste modo, em geral, aqueles comportamentos observados, pelas dificuldades regredidas ao nível da individuação e escudo-para-excitações, em particular, como por tudo já dito, nos remetem para uma identificação acentuada com a mãe, numa linha pré-edipiana, como acontece precisamente com a histeria, que, pelas características fusionais já descritas, será no âmbito borderline, com organização acentuada ao nível oral e fálico, em que podemos comparar o nível oral com os comportamentos de falar alto e o nível fálico, com as sobrecompensações, fálicas, típicas no histerismo, e já referidas no artigo. Estas sobrecompensações estarão no enquadramento daquela recusa da identidade, que caracteriza a identidade difusa, como referido inicialmente, e serão defesas relativamente a medos, ameaças, sentidas no ambiente à volta do sujeito.

 

 

Bibliografia

 

Bergeret, J. ( 1997 ). A personalidade normal e patológica. Climepsi Editores

 

Coimbra de Matos, A. ( 2007 ). O Desespero: aquém da depressão. Climepsi Editores

 

Houzel, D., Emmanuelli, M. & Moggio, F. ( Coord. ) ( 2004 ). Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente. Climepsi Editores

 

Resende, S. ( 2012 ). O sobrecompensatório na mulher em www.psicologado.com         ( proposto a 12/2012 )

 

--------------- ( 2013 ). A guerra militar no homem fascista em www.psicologado.com        ( proposto a 01/2013 )

 

--------------- ( 2013 ). A mulher e a morte em www.psicologado.com ( proposto a 12/2013 )

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Quarta-feira, 5 de Junho de 2013

Exopsicologia e contacto extraterrestre

Baseando-me no meu artigo Características psicológicas da teleportação psíquica          ( Resende, 2013 ), relaciono, por serendipidade, ou seja, a descoberta de algo quando procurava descobrir outra coisa, as características aí indicadas, com o fenómeno do contacto extraterrestre aberto e global, como considerado, por exemplo, pela exopolítica de Alfred Webre, em seu Exopolitics: Politics, Government and Law in the Universe ( Webre, 2005 ), que fala da reintegração da Humanidade com a sociedade do Universo, em geral.

 

As características referidas são aquelas relacionadas com o fenómeno da teleportação psíquica, como eu as propus, particularmente, a projecção inicial, associada ao desejo de teleportação, com posterior introjecção, associada à inveja do clitóris, e suas características subcompensatórias, envolvendo tentativa de diminuição narcísica e com renúncia da identidade, finalizando com projecção, associada à inveja do pénis, e suas características sobrecompensatórias.

 

A projecção inicial estará associada ao desejo de contacto extraterrestre, por parte da Humanidade.

 

Naquela inveja do clitóris, com características subcompensatórias, e, particularmente, com tentativa de diminuição narcísica e renúncia de identidade, é que está a associação com o contacto aberto e global, já que no mesmo haverá contacto com raças alienígenas mais evoluídas, mentalmente, espiritualmente, intelectualmente e tecnologicamente, com grande probabilidade de contactarem entre si telepaticamente. Este tipo de contacto dentro e entre as espécies alienígenas está descrito em várias fontes literárias ovnilógicas, como, por exemplo, Sequestro, de John Mack ( 1994 ), The Keepers – An Alien Message for the Human Race, de Jim Sparks        ( 2006 ), The Custodians – Beyond Abduction, de Dolores Cannon ( 2001 ) ou ainda no livro básico do Movimento Raeliano, que pode ser descarregado gratuitamente no Website www.rael.org, Intelligent Design – Message from the Designers ( Rael, 2005 ), no qual se indica, por exemplo, no contexto da Teoria do Astronauta Antigo, que a Humanidade confundiu, ou tomou, a raça extraterrestre Elohim por deuses, indicando eles que estão na base de todas as religiões da Terra.

 

Realça-se, pois, que o contacto da Humanidade com seres altamente avançados e evoluídos envolverá uma diminuição narcísica nos elementos da Humanidade, estando, de certa maneira, implícita nesse contacto, e em que a renúncia da identidade, que no artigo referido esclarece-se que é feito no caminho para o Enlightenment, ou Esclarecimento, será necessária para mudança radical de paradigma e de perspectiva da Humanidade perante si própria e o restante Universo, no contexto do contacto extraterrestre aberto e global, e após o mesmo contacto, contacto este, que, no contexto, constituir-se-à enquanto ferida narcísica da Humanidade.

 

É de pressupor que a renúncia da identidade, referida, está relacionada com o contacto aberto e global com outras espécies do Universo, no contexto da sociedade universal.

 

O contexto exopsicológico mais preciso, e relacionado com a exopolítica de Webre, já referida, está na alegada intenção da sociedade do Universo em reintegrar a Humanidade com o restante Universo, utilizando, para isso, o processo psicológico acima descrito, em particular, diminuição narcísica da identidade humana pré-contacto e com renúncia de identidade, para que haja a possibilidade de mudança identitária radical e paradigmática.

 

 

Bibliografia

 

Cannon, D. ( 2001 ). The Custodians – Beyond Abduction. Ozark Mountain Publishers

 

Mack, J. ( 1994 ). Sequestro. Lisboa: Temas da Actualidade, D. L.

 

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Resende, S. ( 2013 ). Características psicológicas da teleportação psíquica em www.psicologado.com ( proposto a 04/2013 )

 

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publicado por sergioresende às 11:16
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