Necrofilia televisiva: sua importância na mulher
Propõe-se o conceito de necrofilia televisiva, associada ao catar sexual feminino, de mulheres em relação a outras mulheres, na televisão, com psicocinese sexual, em que a eventual situação de as mulheres televisionadas estarem já mortas, ou com o catar imaginado de outras mulheres num futuro, às presentes televisionadas, nesse futuro já mortas, entre outros aspectos, dá um contorno necrofílico a essas mulheres, enquadrando-se também isso nos hábitos televisivos das mesmas.
Para começar, considerem-se dois artigos meus, a saber, Masturbação feminina no dia-a-dia: suas implicações psicológicas e comportamentais ( Resende, 2008 ) e Orgasmo feminino enquanto “ pequena morte “ ( la petite mort ) ( Resende, 2012 ). O primeiro deles refere-se ao hábito diário do comportamento masturbatório feminino, e às suas implicações comportamentais e psicológicas, com o hábito da fêmea humana de se excitar e de se masturbar em qualquer local que se encontre, através da sua musculatura vaginal e pélvica, até atingir o clímax, num movimento paroxístico. Indica-se que já Freud, nos Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, nos falava da satisfação sexual sentida pela rapariguinha contraindo os brações entre as pernas, como contraforça, realçando-se a prevalência deste tipo de comportamento. Mais se refere, que na observação quotidiana, associadas a estes comportamentos masturbatórios estão as eventuais ocorrências de um “ engolir em seco “, aquando do clímax e, muito importante, as ocorrências de comportamentos sonolentos, como o bocejar, aquando do clímax, em que a mulher ou a rapariga começam a ficar com sono, sendo de realçar a proximidade entre o clímax e os comportamentos sonolentos. Ainda Freud, no mesmo livro, assim, se refere, nos fala da satisfação sexual associada ao sono, como sendo uma regressão, em que a mulher regressa como que a um estado intra-uterino, em completa dependência de outrem. Destaca-se, nestes comportamentos, que por mais satisfação sexual que se obtenha, a capacidade multi-orgásmica, os comportamentos de “ engolir em seco “ e do comportamento sonolento não diminuem, indicando que a plena satisfação sexual não é obtida, persistindo os comportamentos masturbatórios. Isto leva a crer que diminui a capacidade de procura efectiva de satisfação sexual, na relação, importantemente, o que nos leva à noção, mais ou menos presente, pelo menos na cultura ocidental, de menor iniciativa sexual da mulher, em termos de comportamentos efectivos de procura de satisfação sexual. Ora, quanto a esta menor iniciativa, e quanto à dependência, referida anteriormente, é de notar que Jung, em The Archetypes and the Collective Unconscious, indica que a mulher que não se identifica com o Eros materno perde a capacidade de iniciativa. É como se a mulher, nesse comportamento sexual típico de masturbação se identificasse mais com o Tanatos materno. Já no segundo dos meus artigos referidos, acrescenta-se que considerando que a resolução é a fase de resposta sexual humana que se segue ao orgasmo, teríamos aqui que a irresolução crónica na mulher estará associada à morte, sendo neste contexto que se enquadra a famosa expressão francesa do orgasmo feminino enquanto “ la petite mort “, a pequena morte.
Tendo nós, então, a sexualidade feminina associada ao instinto de morte, consideremos agora o meu artigo Catar sexual feminino enquanto fobia social ( Resende, 2012 ), catar esse enquanto sentimento de estar a sugar sexualmente outra mulher, nos relacionamentos sociais tipicamente sexualizados entre mulheres, que também se caracteriza pelo sentimento de estar a sugar sexualmente o sangue de outra mulher, na eventual menstruação desta, que faz lembrar à mulher o sinal depressivo de perda já efectuada do pénis, que é confirmada em fantasia pela menstruação, com sentimento de perda do amor do objecto, já que fantasia que foi o objecto na relação precoce que lhe amputou o pénis, com raiva narcísica associada, pela agressividade imaginada na amputação. Será esta situação que desencadeará a fobia social, em que considerando a histeria tipicamente feminina, temos esta fobia social relacionada com a superficialidade típica dos relacionamentos histéricos, com uma contrafobia relacionada com a sociabilidade também típica desses relacionamentos.
Temos, ainda, a referência de Lacan ( 1996 ) da associação entre catar sexual feminino e instinto de morte.
Já em Identidade de percepção e Identidade de pensamento ( Resende, 2014 ) refere-se que o catar sexual feminino do dia-a-dia está associado a uma capacidade psicocinética sexual, com a ocorrência de uma dependência psicocinética sexual, associada às características fisionómicas próprias da mulher, com condicionamento hipnótico.
Realça-se, agora, a importância da psicocinese sexual feminina, com condicionamento hipnótico, em meios como televisão, cinema, rádio, CDs, DVDs, em filmes gravados, portanto, em que se destaca o aspecto de programas gravados, relativos ao passado.
Com isto dito, destaca-se a hierarquização feminina nestes meios, em que aquelas que surgem nos mesmos terão estatuto hierárquico superior, já que serão menos, em que aquelas que não surgem nesses meios serão muitas mais, em, hipnoticamente, algumas destas tentarão surtir mais efeito psicocinético do que as restantes, em que as reacções das presentes nesses meios controlarão sobremaneira esses efeitos, em que, nesse controlo, manifestarão, eventualmente, que estão a sofrer esses efeitos, não o estando de facto.
Voltando aos programas gravados, e ao passado, teremos destacadamente a presença de pessoas já mortas, em particular, e em especial, mulheres, em que teremos uma psicocinese sexual mais associada ao instinto de morte, em que haverão afectações psicológicas numa luta entre a telespectadora que se sentirá mais viva e as mulheres que já estarão mortas, que surgem nesses meios, em que, pelo condicionamento hipnótico, a mulher telespectadora se sentirá a morrer, digamos assim.
Dada a psicocinese sexual do dia-a-dia da mulher, teremos que esta psicocinese sexual relativa ao passado, será contrabalançada por essa psicocinese do dia-a-dia, em que este contrabalançamento indicará uma tentativa de contrabalançar o instinto de morte com o instinto de vida da psicocinese sexual do dia-a-dia, em que esta última é sentida assim mais por contraponto à psicocinese relativa ao passado, e à eventual situação da televisionada já ter morrido, embora tenha também identificação com o instinto de morte, como já vimos.
Realça-se agora que o directo desses meios estará mais associado com a tentativa contrabalançada do instinto de vida, por estar mais directamente ligado à psicocinese sexual do dia-a-dia, por ser directo, por contraponto aos programas gravados, mais associados ao instinto de morte, em que, resumidamente, no directo, teremos uma vivificação do instinto de morte. Estas ideias têm particular importância no telespectador feminino, em especial na televisão e cinema, diferenciadamente da relação estrita da psicocinese sexual do dia-a-dia, em que pelo já dito, pela sua associação com o instinto de morte, promoverá uma identificação com aquelas televisionadas, mais ligadas ao instinto de morte, como vemos a seguir.
Pelas diferenças hierárquicas, já referidas, teremos que as televisionadas representarão mais o instinto de morte, já que mais tarde ou mais cedo as mesmas morrerão, e farão parte daquela psicocinese associada ao instinto de morte, enquanto que as telespectadoras representarão mais o instinto de vida, em que quanto mais afectadas se sentirão na psicocinese sexual associada ao passado, e ao instinto de morte, mais tentarão vivificar os mesmos, com correlatos de relativo sucesso dos directos.
Para finalizar, diríamos que a visualização de televisão, e outros meios, particularmente os directos, por parte da mulher, diminui a identificação com o instinto de morte do catar sexual feminino do dia-a-dia, que é intensificada com a visualização de programas gravados, tendo-se sempre a noção da eventual psicocinese sexual num futuro, por parte de uma mulher, e em particular, de outra, ou outras, relativa à mulher televisionada, que nesse futuro poderá já estar morta, eventualidade e manifestações estas que influenciarão psicologicamente a mulher que assiste a televisão, cinema, etc., ou seja, tendo-se a noção mais ou menos presente, ou eventualmente inconsciente, da omnipresença do instinto de morte nesses meios, particularmente na perspectiva do público feminino.
Nesta espécie de necrofilia televisiva, e pelos contrabalançamentos psicocinéticos sexuais referidos, temos que a presença maciça e notória de imagens televisivas de assuntos relacionados com morte e destruição, quer seja em noticiários, telenovelas, reality-shows, publicidade, etc., e especialmente nos noticiários, de imagens de guerra, com mortos, ensanguentados ou não, terramotos, acidentes de viação, assassinatos, assassinos em série, assassinos em massa, etc., promoverão a adesão do telespectador a esses programas, e à televisão em geral, e especialmente pelo público feminino, realçando-se, ainda, o condicionamento hipnótico e a dependência psicocinética sexual feminina, em particular baseados nas características fisionómicas próprias da mulher, destacando-se o odor sexual tipicamente exalado pela mesma.
Assim é, pois nesta adesão identificatória há o prevalecer do bom self, por contraponto ao mau self projectado na televisão, num enquadramento borderline, histero-psicótico, com self clivado e com a histeria mais tipicamente feminina, em que no sistema de idealidade o sujeito se auto-idealiza positivamente, com correspondentes ganhos narcísicos, o que continuará a promover a identificação de adesão com as imagens referidas, e com a televisão em geral, em que ocorre uma constância da necrofilia televisiva, à qual também estão associados aspectos relativos ao instinto de morte como o ódio e a destruição.
Bibliografia
Lacan, J. ( 1996 ). Escritos. Editora Perspectiva
Resende, S. ( 2008 ). Masturbação feminina no dia-a-dia: suas implicações psicológicas e comportamentais em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 12/11/2008
--------------- ( 2012 ). Orgasmo feminino enquanto “ pequena morte “ ( la petite mort ) em www.psicologado.com ( proposto a 05/2012 )
--------------- ( 2012 ). Catar sexual feminino enquanto fobia social em www.psicologado.com ( proposto a 06/2012 )
--------------- ( 2014 ). Identidade de percepção e Identidade de pensamento em www.psicologado.com ( proposto a 04/2014 )
No enquadramento da associação que se estabelece entre a mulher e a morte, relacionam-se, neste artigo, dois artigos escritos por mim, a saber, Masturbação feminina no dia-a-dia: suas implicações psicológicas e comportamentais ( Resende, 2008 ) e Orgasmo feminino enquanto “ pequena morte “ ( la petite mort ) ( Resende, 2012 ), com o dito por Jacques Lacan, no seu livro Escritos ( 1996 ). Destacam-se, ainda, aspectos sisíficos relativos à sexualidade feminina, relacionados particularmente com a morte, e o conflito estético na mulher na sua relação com o instinto de morte.
Resuma-se, então, aqueles meus artigos, para depois passar ao dito por Lacan.
Assim, o primeiro deles refere-se ao hábito diário do comportamento masturbatório feminino, e das suas implicações comportamentais e psicológicas, com o hábito da fêmea humana de se excitar e de se masturbar em qualquer local que se encontre, através da sua musculatura vaginal e pélvica, até atingir o clímax, num movimento paroxístico.
Indica-se que já Freud ( 1905 ), nos Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, nos falava da satisfação sexual sentida pela rapariguinha contraindo os braços entre as pernas, como contraforça, realçando a prevalência deste tipo de comportamento.
Mais se refere, que na observação quotidiana, associados a estes comportamentos masturbatórios, estão as eventuais ocorrências de um “ engolir em seco “, aquando do clímax, e, muito importante, as ocorrências de comportamentos sonolentos, como o bocejar, aquando do clímax, em que a mulher ou a rapariga começam a ficar com sono, sendo de realçar a proximidade entre o clímax e os comportamentos sonolentos.
Ainda Freud ( 1905 ) nos fala da satisfação sexual associada ao sono, como sendo uma regressão, em que a mulher regressa como que a um estado intra-uterino, em completa dependência de outrem.
Destaca-se, nestes comportamentos, que por mais satisfação sexual que se obtenha, a capacidade multi-orgásmica, os comportamentos de “ engolir em seco “ e do comportamento sonolento não diminuem, indicando que a plena satisfação sexual não é obtida, persistindo os comportamentos masturbatórios. Isto leva a crer que diminui a capacidade de procura efectiva de satisfação sexual, na relação, importantemente, o que nos leva à noção, mais ou menos presente, pelo menos na cultura ocidental, da menor iniciativa sexual da mulher, em termos de comportamentos efectivos de procura de satisfação sexual.
Ora, quanto a esta menor iniciativa, e quanto à dependência, referida anteriormente, é de notar que Jung ( 1968 ) indica que a mulher que não se identifica com o Eros materno perde a capacidade de iniciativa. É como se a mulher, nesse comportamento sexual típico de masturbação, se identificasse mais com o Tanatos materno.
Ainda neste artigo se propõe que preventivamente se deverá facilitar culturalmente, politicamente ( políticas de acesso ao crédito à habitação ), educativamente, etc., a tomada de iniciativa sexual por parte da mulher para que esta possa mais facilmente identificar-se com o Amor.
Já no segundo dos meus artigos referidos, acrescenta-se que considerando que a resolução é a fase da resposta sexual humana que se segue ao orgasmo, teríamos aqui que a irresolução crónica na mulher estará associada à morte, sendo neste contexto que se enquadra a famosa expressão francesa do orgasmo feminino enquanto “ la petite mort ), a pequena morte.
Cite-se, agora, Jacques Lacan, realçando-se a coerência do indicado por mim e o referido por Lacan nesta citação. Temos, então, que da “ descoberta das migrações da líbido nas zonas erógenas à passagem metapsicológica de um princípio de prazer generalizado até o instinto de morte, torna-se o binómio de um instinto erótico passivo modelado sobre a atitude das catadoras de piolhos, caras ao poeta, e de um instinto destrutivo, simplesmente identificado à motricidade. “ ( p. 111 ) ( Lacan, 1996 ), tendo nós, pois, a passividade erótica associada à menor iniciativa sexual.
É ainda de indicar que esta referência ao catar feminino, relaciona-se, por exemplo, com o meu artigo Catar sexual feminino enquanto fobia social ( Resende, 2012 ), podendo nós referenciar o indicado por mim e por Lacan com o comportamento mais primata de catar, em termos de limpeza, outros primatas, podendo nós intuir que o catar sexual feminino, ou o sentimento de estar a sugar sexualmente outra mulher, nos comportamentos sociais tipicamente sexualizados entre mulheres, derivou, de alguma forma, desse mesmo catar primata. Podíamos também intuir, neste contexto, que a limpeza, que estará implícita no catar sexual feminino, será a limpeza de aspectos mortíferos na mulher. Para mais, dir-se-à que, a caminho do clímax, os aspectos mortíferos vão sendo limpos, particularmente a nível psicológico, e que, aquando do orgasmo, surgirá a pequena morte, em que os aspectos mortíferos voltarão, o que confere uma vertente sisífica ao catar sexual feminino no dia-a-dia. Compare-se este sisifismo, relativo ao Mito de Sísifo, ao aspecto importante de quanto mais orgasmos a mulher obter, no dia-a-dia, menor iniciativa sexual terá.
Quanto a estes aspectos sisíficos, já num artigo de 2010, Implicações da castração edipiana na sociedade capitalista ( Resende, 2010 ), referenciei características sisíficas relativas a um enquadramento da histeria, nas sociedades capitalistas. Refere-se aí que a ameaça edipiana implícita em relação ao homem, e decorrente do mito, será a castração visual, castração visuo-narcísica, em que haverá uma tentativa de fazer regredir o homem psiquicamente, narcisicamente, considerando-se que o aspecto visual está associado à voracidade visual das primeiras fases de desenvolvimento do indivíduo. Ora, na mulher, tendo em conta a primazia da sexualidade na histeria, e o facto de esta ser mais característica na mulher, enquadrada nas características fisionómicas da mesma, ter-se-à que ocorrerá uma castração visuo-narcísica, com respectiva sobrecompensação narcísica, que estará subjacente às capacidades multi-orgásmicas da mulher, com dificuldade em obter verdadeira satisfação orgástica. Enquadre-se isto nos relacionamentos sociais tipicamente histéricos, particularmente entre mulheres, e com os homens, em consequência. Ter-se-à que a tendência, psicológica, em particular, multi-orgásmica, decorrerá da sobrecompensação visual associada à castração visuo-narcísica, vista socialmente, em espelho ou imaginada na própria. Considerando que a promiscuidade sexual é característica das mulheres, nas sociedades capitalistas, ter-se-à a tendência de procura e obtenção da visualização do orgasmo feminino. Assim, a mulher procurará restaurar-se narcisicamente pelo orgasmo, próprio e das outras mulheres. Temos, então, o enquadramento sisífico na promiscuidade sexual e na tendência de procura e obtenção da visualização do orgasmo feminino, associados às capacidades multi-orgásmicas da mulher, e isto no sentido da restauração narcísica estar associada ao orgasmo, e visualização do mesmo. O descrito agora faz ainda mais sentido se relacionarmos a castração visuo-narcísica, referida, ao catar sexual feminino, já referenciado quanto ao artigo parcialmente com essa expressão, em que nesse mesmo artigo considera-se que com a variação do surgimento da menstruação nas várias mulheres, ou seja, a mulher não saber quando a outra mulher está menstruada, indagando, eventualmente, de modo visual, sinais como a pintura cosmética, e em que há o sentimento de estar a sugar sexualmente o sangue de outra mulher, o catar sexual feminino surge como uma ameaça de castração, em que a menstruação fará lembrar o sinal depressivo de perda do pénis já efectuada. Para mais, o condicionamento hipnótico típico do catar sexual fará com que a ameaça de castração tenha uma significativa influência. Percebe-se, então, melhor, a relação sisífica entre a castração visuo-narcísica e a restauração narcísica decorrente do orgasmo, e sua visualização, perspectivando-se, ainda, a associação que se pode estabelecer entre a presença do sangue, menstrual, com a amputação precoce imaginada do pénis, e as conotações de morte que lhe estarão relacionadas, como feridas mortais de guerra, de acidentes e outras. Teríamos aqui, poder-se-ia dizer, o luto do pénis perdido, luto esse, pelo descrito, não resolvido.
Continuando, realce-se, antes de mais, o comportamento orgástico tipicamente associado ao dia-a-dia da mulher e as consequências que já mencionei ao nível da identificação da mulher com o instinto de morte.
Também aqueles meus artigos citados nesse sentido, com as referências já descritas, se relacionam com o indicado noutro artigo meu, a saber, O sobrecompensatório na mulher ( Resende, 2012 ), complementando-o importantemente. Neste, refiro, em particular, que o comportamento habitual manifestado, especialmente, por mulheres mais velhas, de pintar o cabelo, cobrindo o cabelo branco e grisalho, sinal manifesto de envelhecimento e velhice, revelam uma espécie de trauma transpessoal de género, o feminino, de não ter contribuído, assim o sentirão, tanto historicamente como os homens, para a sociedade, particularmente a Ocidental. Assim, tentarão sobrecompensatoriamente parecer mais novas, como que tentando afirmar que ainda vão a tempo, tentando denegar que nas suas vidas pessoais não se terão sentido como contribuindo tanto ou compensando tanto aquele sentimento histórico. Ora, o comportamento referido de pintar o cabelo, denegando a velhice, em conjunto com o indicado naqueles dois artigos mencionados primeiramente, como nas restantes descrições, revelarão, importantemente, e de maneira mais ou menos manifesta, um medo relativamente generalizado do género feminino da morte, e importantemente da proximidade da mesma.
Tenha-se em conta que a identificação da mulher com o instinto de morte, já referida, em conjunto com este medo do género feminino da morte, leva-nos a pensar no medo de morte da mulher dela própria, o que nos fornecerá contornos mitológicos Pandóricos, referentes à Caixa de Pandora. Este aspecto também estará presente na citação anterior que fiz de Lacan, quando ele fala em instinto destrutivo, associado ao instinto de morte. Assim é, pois a caixa de Pandora, na mitologia grega, refere-se ao comportamento de Pandora, primeira mulher criada por Zeus e pelos deuses, relativamente a uma caixa misteriosa, onde Zeus metera, em segredo, todos os flagelos e desastres. Esse comportamento, motivado pela curiosidade, foi desobedecer à recomendação de não abrir a caixa, e abri-la. Assim, escaparam-se da caixa os males que atormentam o mundo, acontecendo que quando procurou fechá-la apressadamente, só havia uma coisa lá dentro: a esperança ( Guedes et al., 2004 ). Relativamente ao já dito, quanto à relação entre a mulher e a morte, temos, pois, uma mensagem mitológica de esperança.
Repare-se ainda que Meltzer & Williams ( 1988 ), abordando a apreensão da beleza e o papel do conflito estético na violência, nos dizem que o conflito estético é uma fundação para o desenvolvimento normal, baseado na relação interna mãe-bebé. Ora, o que eu referi anteriormente quanto ao pintar do cabelo como denegação da velhice, tendo nós aqui um conflito estético, aponta consequentemente para um desenvolvimento patológico, tendo, lá está, maior relação com a violência destrutiva do instinto de morte, e com a proximidade dessa mesma morte. Realça-se, agora, o aspecto sincronístico entre uma citação desse mesmo livro de Meltzer & Williams, relacionando conflito estético e violência, e a utilização que eu fiz do mito de Pandora. A citação é: “ Formulation of the aesthetic conflict as an inside-outside problem, as a conflict between what could be perceived and what could only be construed, led directly to the problem of violence as violation: violation of the privacy of internal spaces and their representations. “. Assim, psicanaliticamente, podíamos associar esses espaços internos, e suas representações, assim como a caixa de Pandora, e de forma simbólica, à vagina, ao sexo feminino, o que seria coerente com as características sexuais, e suas consequências, relacionadas com a mulher, descritas neste artigo.
Antes de finalizar, cito um verso, que se refere a uma mulher, de um artista musical estado-unidense famoso, Prince, na sua canção “ Thunder ”: “ Only the children born of me will remain! “.
Finalizando, dir-se-à que a mensagem de esperança, referida no artigo, é de que a mulher deverá ter Amor por ela própria e pelos outros, particularmente, na identificação com o Eros materno.
Bibliografia
Freud, S. ( 1905 ). Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade ( tradução portuguesa ). Edição “ Livros do Brasil “
Guedes, F. et al. ( 2004 ). A Enciclopédia, Vol. 15, p. 6399. Editorial Verbo, S. A.
Jung, C. G. ( 1968 ). The Archetypes and the Collective Unconscious ( 2ª edição ). Routledge & Kegan Paul Ltd.
Lacan, J. ( 1996 ). Escritos. Editora Perspectiva
Meltzer, D. & Williams, M. H. ( 1988 ). The Apprehension of beauty: the role of aesthetic conflict in development, art and violence. Perthshire: Clunie Press. In Google Livros ( consultado em Novembro de 2013 )
Resende, S. ( 2008 ). Masturbação feminina no dia-a-dia: suas implicações psicológicas e comportamentais em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 12/11/2008
--------------- ( 2010 ). Implicações da castração edipiana na sociedade capitalista em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 16/11/2010
--------------- ( 2012 ). Orgasmo feminino enquanto “ pequena morte “ ( la petite mort ) em www.psicologado.com ( proposto a 05/2012 )
--------------- ( 2012 ). Catar sexual feminino enquanto fobia social em www.psicologado.com ( proposto a 06/2012 )
--------------- ( 2012 ). O sobrecompensatório na mulher em www.psicologado.com ( proposto a 12/2012 )
Resumo, neste artigo, um artigo anterior meu, a saber, Masturbação feminina no dia-a-dia: suas implicações psicológicas e comportamentais ( Resende, 2008 ), para depois fazer a associação entre o orgasmo feminino e a conhecida expressão francesa do orgasmo feminino enquanto “ petite mort “.
Tem-se inicialmente o hábito quotidiano da fêmea humana de se excitar e de se masturbar, em qualquer local em que se encontre, através da sua musculatura vaginal e pélvica, até atingir o clímax. Ainda na observação quotidiana, tem-se a associação entre estes comportamentos masturbatórios e a ocorrência eventual de um “ engolir em seco “, aquando do clímax, e as ocorrências de comportamentos sonolentos, como o bocejar, aquando do clímax, realçando-se a proximidade destas associações. Já Freud ( 1905 ) fala-nos na satisfação sexual associada ao sono, como sendo uma regressão, em que a mulher regressa como que a um estado intra-uterino, em completa dependência de outrem.
Para além disso, nota-se que por mais satisfação sexual que se obtenha, na capacidade multi-orgásmica, bem conhecida da mulher, os comportamentos de “ engolir em seco “ e de comportamento sonolento não diminuem, com indicação de que a plena satisfação sexual não é obtida, persistindo os comportamentos masturbatórios. Isto leva a crer que diminui a capacidade de procura efectiva de satisfação sexual, na relação, importantemente. Isto leva-nos à noção da menor iniciativa sexual da mulher, em termos de comportamentos efectivos de procura de satisfação sexual.
Quanto a esta menor iniciativa, e quanto à dependência, referida anteriormente, é de notar que Jung ( 1968 ) indica que a mulher que não se identifica com o Eros materno perde a capacidade de iniciativa. É como se a mulher, nesse comportamento sexual típico de masturbação, se identificasse mais com a agressividade materna, e seus impulsos destrutivos, ou seja, com o Tanatos materno, ou pulsões de morte maternas.
Para além disso, considerando que a resolução é a fase de resposta sexual humana que se segue ao orgasmo, teríamos aqui que a irresolução crónica na mulher estará associada à morte.
Ora, é neste contexto que se enquadra a famosa expressão francesa do orgasmo feminino enquanto “ la petite mort “, a pequena morte.
Bibliografia
Freud, S. ( 1905 ). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade ( tradução portuguesa ). Edição “ Livros do Brasil “
Jung, C. G. ( 1968 ). The archetypes and the collective unconscious ( 2ª edição ). Routledge & Kegan Paul Ltd
Resende, S. ( 2008 ). Masturbação feminina no dia-a-dia: suas implicações psicológicas e comportamentais em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 12/11/2008
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