Sexta-feira, 28 de Setembro de 2012

Pequeno complemento a A religião enquanto fenómeno Borderline - perspectiva psicodinâmica

Neste artigo, faz-se um resumo a A religião enquanto fenómeno Borderline – perspectiva psicodinâmica ( Resende, 2010 ), para depois complementá-lo com o aspecto importante relativo ao Segundo Advento, ou Segunda Vinda, particularmente de Jesus Cristo na religião cristã. É um aspecto que mais fundamenta o artigo já referido. Dá-se, depois, um exemplo ilustrativo do dia-a-dia, relativo ao jogador de futebol.

 

Assim, consideram-se as características que fazem justificar um quadro borderline, particularmente as características psicóticas e neuróticas, para aplicá-las à religião.

 

Tem-se, pois, a clivagem do self com o mundo exterior, que se fará através da instância superegóica, havendo uma clivagem entre a imago superegóica materna e a imago superegóica paterna. A imago materna caracterizar-se-à pela idealização positiva, que faz com que haja o contacto e a propagação da religião, através da conhecida característica contagiosa do histerismo, lá está, mais característico nas mulheres, contágio esse efectuado através da identificação histérica. A imago paterna caracterizar-se-à pela idealização negativa, em que há a identificação com um Deus      ( por exemplo, no Cristianismo ), a quem é devido temor e servidão, havendo também identificação com características vingativas, como no caso de não se acreditar na fé religiosa, com a consequência da ida para o Inferno.

 

Teremos a linha neurótica, que se vê no medo de retaliação por parte de Deus, condenando o indivíduo ao Inferno, o que no remete para a angústia de castração, tão característica da neurose. A linha neurótica também está presente no histerismo com a sua identificação histérica.

 

É neste sentido que se fará o contacto do self com o mundo exterior.

 

O self estará ele próprio clivado, remetendo-nos para as características psicóticas do quadro borderline religioso. Parte do self caracteriza-se pela idealização positiva, com necessidades afectivas, buscando-se satisfazer as mesmas, o que far-se-à pelo contacto e permanência das ligações religiosas, sejam elas sociais, grupais ou institucionais. Por outro lado, a outra parte do self terá características de idealização negativa, com medo de retaliação e caracterizada por sentimentos masoquistas de necessidade de castigo.

 

Vemos, pois, as relações entre as idealizações positivas da imago superegóica materna e parte do self, em que a necessidade de satisfazer as carências afectivas se relacionam com a ligação e propagação religiosa. Veêm-se, também, as relações entre as idealizações negativas da imago superegóica paterna e a outra parte do self, com as necessidades masoquistas de castigo ligadas à angústia de castração.

 

Referindo-nos agora ao Segundo Advento, da religião cristã, com a vinda de Jesus realizando o Juízo Final, reparamos na vinda anterior do Salvador, implicando, esta diferença, no afastamento desta figura divina, e central na religião cristã, dos seus crentes cristãos.

 

Ora este afastamento temporário remete-nos para uma angústia de separação, que é característico, precisamente, de um quadro borderline. Temos, pois, que esta angústia, presente, particularmente na religião cristã, vem fundamentar o fenómeno religioso borderline, descrito no artigo já referido e neste.

 

Dá-se, agora, um exemplo ilustrativo do dia-a-dia, que é o jogador de futebol religioso enquanto borderline. Refira-se Desmond Morris, que, no seu A tribo do futebol ( 1981 ), nos indica que o estádio de futebol é um templo no qual os adeptos vão adorar os deuses, e que os deuses são os jogadores de futebol. Mas analisemos esses deuses. No golo, o jogador comemora, levantando os braços para o céu, louvando e agradecendo à divindade adorada, mas pensando infirmativamente, quando o mesmo jogador falha o golo, não há essa comemoração, ou há uma indicação, pensamos nós, de que o jogador sentir-se-à culpabilizado por não ter tido a fé suficiente, o que revela um raciocínio circular, já que o jogador não está a admitir que, nesse momento, a divindade não esteve com ele. Teremos presente que a presença da divindade a ajudar ou a guiar o jogador não é constante, ou é intermitente, o que nos leva a pensar numa angústia de separação, característica, precisamente, da organização borderline. Assim, isto levar-nos-à a pensar que o jogador de futebol religioso constituirá um correlato desportivo corroboratório do artigo referido anteriormente, da religiosidade enquanto fenómeno borderline. Num acrescento final, o levantar aos céus dos braços, na comemoração do golo, faz lembrar a criança que olha para cima, para o pai, por exemplo, querendo colo, o que é coerente com a consideração psicanalítica de Deus enquanto figura paterna exacerbada. Neste contexto, faz sentido a procura, do jogador de futebol religioso, da admiração da figura paterna, revelando-se carente e a necessitar de afecto.

 

 

Bibliografia

 

Morris, D. ( 1981 ). A tribo do futebol ( tradução portuguesa ). Publicações Europa-América, Lda.

 

Resende, S. ( 2010 ). A religião enquanto fenómeno Borderline – perspectiva psicodinâmica em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 09/03/2010 

publicado por sergioresende às 14:56
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Quarta-feira, 26 de Setembro de 2012

Segundo complemento a Uma aproximação à Teoria do Tudo em Psicologia: correlatos politico-económicos

Baseio-me em dois artigos escritos por mim, a saber, Uma aproximação à Teoria do Tudo em Psicologia ( Resende, 2011 ) e Complemento a Uma aproximação à Teoria do Tudo em Psicologia ( Resende, 2011 ), para resumi-los, e para depois descrever alguns correlatos politico-económicos.

 

Assim, relaciono a procura das forças fundamentais que governam o Universo, da Teoria do Tudo em Física, com a procura das forças e processos fundamentais que governam a mente, esta procura relacionada com a Teoria do Tudo em Psicologia. Considera-se que somos nós, humanos, que pensamos as ideias e teorias, devendo-se ter isso em conta ao pensar na influência que o Universo exerce sobre o pensamento humano, como sobre as emoções, relacionamentos, etc..

 

Parte-se, então, da ideia de maior atracção que uma estrela exerce sobre um planeta do que um planeta exerce sobre ela, relacionando isto com o amor dado não correspondido, ou pouco correspondido, em que um dos elementos da questão atrai mais do que o outro. Teremos, então, que o elemento depressígeno do amor não correspondido como que caracteriza a relação entre estrelas e planetas. Deste modo, os sistemas solares caracterizam-se pela depressividade, em que, pelos movimentos de translacção, teremos uma depressividade cíclica. Sendo assim, teremos uma entrada e saída da depressão, correspondendo isso, pois, a movimentos relacionais maníaco-depressivos. Assim, tendo em conta que a patologia maníaco-depressiva constitui-se enquanto psicose, teremos que os sistemas solares exercem uma influência psicotizante sobre o ser humano.

 

Faz-se agora um aparte, para resumir a sequência a estas ideias, tendo a noção de que os correlatos politico-económicos, que serão descritos, estão mais relacionados com o agora descrito do que com estas sequências. A seguir à influência psicotizante da patologia maníaco-depressiva, teremos sequenciadamente, no desenvolvimento humano, o afastamento e aproximação das galáxias umas das outras, e a expansão do Universo, com o afastamento dos seus limites, como estando relacionados com a angústia de separação característica da patologia borderline. Relaciona-se, também, a simetria como proposta final para a completa unificação de todas as partículas, como defendido pela maioria dos físicos, com características neuróticas genitais como o respeito pelo outro, capacidade de dádiva e capacidade de união afectiva, como, ainda, com o sentimento de reciprocidade e a cooperação.

 

Voltando novamente à influência psicotizante, no quadro da patologia maníaco-depressiva, que os sistemas solares exercem sobre o ser humano, indicam-se agora correlatos politico-económicos, que consubstanciam as ideias descritas neste artigo e nos outros dois referidos.

Considera-se, pois, no âmbito do Capitalismo global actual, e não só, características do capitalismo, que se têm verificado historicamente. Estou a referir-me à ciclicidade do desenvolvimento capitalista, em que surgem não só recessões, como, para além disso, depressões económicas, por um lado, e, por outro, euforias, mais relacionadas com as bolhas especulativas, como acontece frequentemente, relativamente ao ramo imobiliário, por exemplo. Temos o exemplo histórico da Grande Depressão, dos anos 30 do séc.XX, como temos a referência recente das bolhas económicas eufóricas, com as grandes recessões que lhes seguiram.

 

Resumidamente, parece haver, pois, consubstanciação da ideia da ciclicidade maníaco-depressiva, com a sua influência no ser humano, através da referida ciclicidade que historicamente parece verificar-se no Capitalismo, com as suas bolhas especulativas e euforias e recessões e depressões.

 

 

Bibliografia

 

Resende, S. ( 2011  ). Uma aproximação à Teoria do Tudo em Psicologia em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi ( em apreciação ) ( proposto em 15/03/2011 )

 

Resende, S. ( 2011 ). Complemento a Uma aproximação à Teoria do Tudo em Psicologia em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi ( em apreciação ) ( proposto em 12/08/2011 )

publicado por sergioresende às 15:15
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