Quinta-feira, 2 de Outubro de 2014

A internalização da lei do pai e comportamentos desviantes

A internalização da lei do pai e comportamentos desviantes

 

No presente artigo, considera-se a noção da internalização da lei do pai, no estabelecimento da noção de limite, e suas relações com comportamentos desviantes, no quadro de tendências histéricas e obsessivas.

Assim, considera-se a referência de Silva ( 2014 ), quando ele se refere à questão freudiana da importância da internalização da lei do pai no que diz respeito à noção de limite, no sentido edipiano de que o filho não poderá possuir a mãe e, acrescente-se aqui, de que a filha não poderá possuir o pai nem a mãe, em que essa internalização, em consequência, levará à noção de limite, ao estabelecimento e vivência de regras, evitando-se o cumprimento das mesmas.

Ora temos, em geral, o obsessivo, mais tipicamente masculino, de organização anal, que será uma organização analo-genital, por aquela internalização da lei do pai, na triangulação edipiana, que se pode ver, por exemplo, na tendência do obsessivo para a noção de limite, de regras e do cumprimento das mesmas. Ora, isto indicar-nos-ia que o obsessivo tenderá a ter menos comportamentos desviantes, ou tendências desviantes, do que, por exemplo, o histérico.

Em relação à histeria, com a histeria mais tipicamente feminina, importa mais, quanto àquela internalização da lei do pai, a relação da filha com o pai e com a mãe. Realça-se, neste contexto, o catar sexual feminino, ou o sentimento de estar a sugar sexualmente outra mulher, nas relações sociais tipicamente sexualizadas entre mulheres, em que este catar, com condicionamento hipnótico orgástico, nesta psicocinese sexual, caracterizará a relação entre mãe e filha. Ora, neste sentido, nem haverá uma internalização da lei da mãe, já que a mãe está acessível pela filha e, não tendo havido limite a esta acessibilidade, aquele catar passa para o pai, com a excitação sexual com condicionamento hipnótico da constelação familiar anterior, no catar sexual, a perdurar, em que o pai, pelo comportamento e funcionamento tipicamente sexualizado da rapariga e mulher, também não consegue impor limites e uma lei impedindo, para a filha, a acessibilidade sexual em relação à mãe e ao pai.

Esta caracterização aproxima-se mais do complexo de Electra Junguiano, que, pela necessidade de mudança de objecto de amor da mãe para o pai, surgirá mais tarde na rapariga do que o complexo de Édipo para o rapaz, cujo objecto de amor permanece em geral o mesmo. Pelo descrito, haverão vivências pré-edipianas mais acentuadas na rapariga, com eventuais e plausíveis fixações e regressões a esse nível, mais acentuadamente na rapariga e mulher. Pelo dito, dir-se-á que a instância superegóica é menos estruturada na histérica, considerando que classicamente se tem o superego como herdeiro do complexo de Édipo ( ou Electra ), em que se constitui pela interiorização das exigências e interdições parentais, como nos indicam Laplanche & Pontalis ( 1990 ).

Destas considerações, presume-se, pelas consequências que tem ao longo da vida do indivíduo, que a base do comportamento desviante é o funcionamento psicológico feminino, e suas tendências histéricas, e/ou a identificação acentuada com a mãe, estando isto enquadrado importantemente na fraca internalização da lei do pai.

Assim, em relação ao toxicodependente, que para além da sua toxicodependência ter frequentemente associados comportamentos desviantes, considera-se, em geral, que muito da sua problemática deriva da fraca internalização da figura paterna, que vai também na linha da não internalização da lei do pai, como já considerado. Ora, acrescente-se aqui, pelo já dito, a importância da identificação acentuada do toxicodependente com a mãe, figura materna, agudizada, precisamente, pela ausência da figura paterna e da não internalização da sua lei. A identificação acentuada com a mãe, ou figura materna, levará a que o indivíduo desenvolva mais tendências histéricas, mais femininas, em que o indivíduo se caracterizará mais, então, pelas características já mencionadas entre filha e mãe e pai, com fraca noção de limite, dificuldade de internalização de regras e do seu cumprimento, levando pois aos comportamentos desviantes. Um exemplo de tendências mais histéricas do toxicodependente é relativo à organização oro-fálica do histérico, em que temos as clássicas fixações orais do toxicodependente, na inalação de drogas, por exemplo, e no seu sentido incorporativo, com o exemplo da seringa para injectar a poder ser considerada enquanto falo. Outro aspecto a considerar das tendências desviantes do histérico, e do toxicodependente em particular, é a habitual mitomania e a manipulação. Em relação à mitomania, ver interessantemente Discurso circunstanciado no histérico e catar sexual feminino ( Resende, 2014 ), onde enquadro a mesma no discurso circunstanciado típico do histérico, com este a constituir uma muralha verbal que será uma tentativa do histérico de reconstituir o escudo para-excitações, que será deficitário no histérico, em que há a perda do valor afectivo das palavras e há uma tentativa mais ou menos delirante do histérico de reconstituir o seu mundo relacional, considerando que o escudo para-excitações constitui um protótipo da relação do indivíduo com o mundo exterior.

Continuando, os delineamentos feitos quanto ao desvio poderão ser generalizados para comportamentos, funcionamentos e tendências desviantes de delinquentes em geral, como nos roubos, assassínios, vandalizações, fraudes financeiras, tendências mitómanas e manipulativas de políticos, não cumprindo promessas eleitorais, por exemplo, etc..

Ora, aquela identificação acentuada com a mãe, com as características já mencionadas em relação à fraca internalização da lei do pai, também caracterizará fenómenos como a arbitragem desportiva, e as profissões de advogado e de juíz.

Assim, para a arbitragem desportiva, e na selecção de árbitros, dever-se-ão considerar comportamentos particularmente histéricos, no homem e na mulher, considerando, sobremaneira que o comportamento tendente da mulher histérica e homem histérico, com relações sociais tipicamente sexualizadas, é, pelo já dito, geralmente desviante, não sendo a melhor escolha para uma profissão relacionada com regras e seu cumprimento, em particular em funções de ajuizamento. A particular tendência que se tem notado no futebol, em particular, no campeonato nacional português, inglês, e outros campeonatos nacionais, como de competições a nível europeu, e a nível mundial, de ajuizamento não cumprindo as regras, com particular prejudicar de actuações ao nível das regras dos jogadores e equipas, e do beneficiar dos infractores, e isto tudo num enquadramento societal histérico capitalista, vem apoiar estas considerações.

O mesmo raciocínio poderá ser aplicado às profissões de advogado e de juíz, com a sensação de impunidade e de injustiça por vezes prevalente, que leva amiúde a manifestações de revolta popular, lembrando-nos, por exemplo, da absolvição dos polícias no caso Rodney King, nos E. U. A., como no caso, no mesmo país, da absolvição de Lorena Bobbit. E isto no sentido dessas profissões não impedirem o continuar de um tal sistema de justiça, ao nível governamental, com uma importância exagerada de ajuizamento por parte de jurados, que poderá ser mais ou menos enviesado, em particular na manutenção do status quo, num enquadramento de fenómenos de massas. Assim, as tendências desviantes daquelas profissões estariam num quadro de conivência. Mesmo num sistema de justiça sem jurados, como o caso português, mantém-se o perigo dessa manutenção do status quo, desta feita, ao nível da diferença de classes, em particular socio-económicas e socio-profissionais.

E da mesma maneira podemos falar sobre o jornalismo, sobre o desvirtuamento da verdade nas notícias, e dos comentários noticiosos e desportivos, em particular.

Para finalizar, lembrando que para profissões como piloto de avião comercial, de passageiros e de caças militares, não se escolher habitualmente, neste caso mulheres, devendo isso ser devido às velocidades envolvidas e às tendências anatómicas e fisiológicas multi-orgásmicas da mulher, que impediriam uma maior segurança da própria e de outros, o que foi descrito aqui serão características psicológicas que impedirão o bom cumprimento de regras, a fiscalização do seu funcionamento e o reforço do que está implícito no evitamento de comportamentos desviantes.

Ainda é de dizer que, coerentemente, em sociedades histéricas matriarcais capitalistas, como a dos E. U. A., bastião do capitalismo, apela-se muito à desregulamentação da banca e do mercado, por parte de políticos, empresários e banqueiros, o que constitui e poderá levar a comportamentos desviantes acentuados, o que de facto se tem verificado ao nível dos últimos anos, com a crise económica, com as fraudes que lhe estão relacionadas e com os escândalos financeiros da AIG, HSBC, Deutsche Bank, Autonomy, do outros bancos centrais, etc.. Os resgates financeiros a estas e outras instituições, por parte de governos, também contribuiu, como se sabe, para aquela sensação de impunidade sentida pelas populações. Os escândalos e fraudes referidos podem ser acompanhados, por exemplo, em vídeo, no canal RT do YouTube, no programa Keiser Report, programa tri-semanal do canal televisivo russo Russia Today   ( RT ), que, como já disse, tem os seus vários episódios no YouTube.

Estas várias análises têm particular importância e realce no contexto de uma sociedade matriarcal capitalista, mais histérica, e não tanto no de uma sociedade patriarcal socialista, ou comunista, mais obsessiva, em que o indivíduo, identificando-se mais com aquele tipo de sociedade mais matriarcal e histérico, será mais influenciado ao nível cultural e ao nível das massas no sentido da tendência desviante. De facto, são particularmente conhecidos os ditos populares, neste tipo de sociedades, com a indicação de que o mundo é dos espertos e de que se deve enganar para não ser enganado ou antes de ser enganado.

Assim, em geral, propõe-se que para lugares de ajuizamento, envolvendo cumprimento de regras e sua fiscalização, e evitamento de comportamentos desviantes, dever-se-ão selecionar indivíduos de tendência obsessiva.

 

Bibliografia

Laplanche, J. & Pontalis, J. B. ( 1990 ). Vocabulário da Psicanálise ( tradução  portuguesa ) ( 7ª edição ). Editorial Presença

Resende, S. ( 2014 ). Discurso circunstanciado no histérico e catar sexual feminino em www.psicologado.com ( proposto a 07/2014 )

Silva, J. ( 2014 ). A psicodinâmica da família como um possível sintoma da contemporaneidade in psicologado.com/abordagens/psicanalise/a-psicodinamica-da-familia-como-um-possivel-sintoma-da-contemporaneidade, consultado em 18/05/2014

 

publicado por sergioresende às 11:37
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Terça-feira, 26 de Agosto de 2014

Complemento a Inteligência artificial e o pensamento

Complemento a Inteligência artificial e o pensamento

 

Para melhor enquadrar o presente artigo, resume-se inicialmente o meu artigo Inteligência artificial e o pensamento ( Resende, 2014 ), para depois se fazer um complemento ao mesmo, que apoia as ideias descritas nesse artigo.

 

Assim, no artigo mencionado, descreve-se uma contribuição das ciências psicanalíticas para as ciências da computação, e em particular para a inteligência artificial.

 

Começando pela noção mais contemporânea nas ciências da computação, de computação quântica e de estados sobreimpostos, superimpostos ou sobrepostos, diremos que estes dizem respeito à consideração lógica da simultaneidade do estado falso e estado verdadeiro de uma asserção, mas antes de ser medido, pois quando medido ou observado o sistema se mostra em um único estado, como se pode ver na Wikipédia, em Sobreposição Quântica. Mais especificamente, a sobreposição dos estados é nulificada e o valor esperado de um operador é o valor esperado do operador nos estados individuais, multiplicado pela fracção do estado sobreposto que está nesse estado, como se pode ver na Wikipedia, em Quantum Superposition. Repare-se que, como muito importante, já se fala aqui em nulificação de um estado ou sua sobreposição, apelando eu a seguir a uma extensão desta noção.

 

Considera-se, depois, uma contribuição das ciências psicanalíticas para a computação, e em particular para a inteligência artificial.

 

Assim, temos o não enquanto organizador psíquico, com a noção psicológica da negatividade de uma asserção, e temos o não-seio, enquadrado na teoria do pensar de Wilfred Bion, em que temos o pre-conceito associado a uma frustração dando origem ao conceito, em que o não-seio é potenciador e criador de pensamento, tendo origem na noção de que o bebé quando frustrado quanto baste em relação à necessidade do seio materno potenciará o seu pensamento, tendo o mesmo como falta da satisfação desejada, como se pode ver em O pensamento clínico de Wilfred Bion, de Symington & Symington.

 

Deste modo, em termos de inteligência artificial, ao nível da computação, chegamos à noção de estados subimpostos, em que quer o estado verdadeiro quer o estado falso são negados, levando-nos à noção de que essa negação estará relacionada com o tempo lógico, no sentido de ser uma negação e estados temporalmente provisórios. Em termos de pensamento, em particular de pensamento científico, remete-nos para a noção de Karl Popper da provisoriedade das verdades científicas e no sentido de elas serem refutáveis. Isto fará caracterizar uma inteligência artificial com um pensamento de nível científico, uma inteligência artificial enquanto cientista. Para mais, naquela temporalidade provisória da negação e estados subimpostos, e ao nível de uma árvore de decisões computacional, teríamos que aquela negação inicial levaria a uma regressão na árvore, com reinício do processo, em que teríamos uma espécie de tentativa e erro. Com um processo continuado de negações e reinícios, teríamos algo ao nível da reflexão, de uma capacidade reflexiva, em que tendo em conta o registo em memória das tentativas, e seus resultados, teríamos algo ao nível de uma aprendizagem, de uma capacidade de aprender. Diz-se mais, que no seguimento é importante referir outro desenvolvimento Bioniano, que é a ideia de os pensamentos estarem à “ espera “ do pensador para os pensar, e isto no contexto teórico de os conteúdos do pensamento, para Bion, surgirem antes do continente, ou aparelho para pensar, tornando isto mais valorativo o input computacional. É de dizer que embora a resposta seja importante, a pergunta é essencial. Estas considerações vão na linha da importância atribuída à introjecção, na vida mais precoce do bebé, no enquadramento da perspectiva teórica das relações de objecto internalizadas, perspectiva micro-sociológica, e não psicogenética, esta mais Kleiniana, que valoriza mais a projecção inicial na vida precoce do bebé.

 

Continuando o resumo, é de dizer que os processos já descritos fazem-nos lembrar um mecanismo de defesa mais tipicamente obsessivo, o juízo de condenação, que, remetendo para a capacidade de adiar a gratificação, é descrito em Vocabulário da Psicanálise, de Laplanche & Pontalis, como uma operação ou atitude pela qual o inidivíduo, ao tomar consciência de um desejo, a si mesmo proíbe a sua realização, principalmente por razões morais ou de oportunidade. Para mais, Daniel Lagache, citado no mesmo livro, caracteriza este juízo ao nível do adiamento da satisfação, modificação dos alvos e dos objectos, tomada em consideração das possibilidades oferecidas pela realidade ao indivíduo e dos diversos valores em jogo e compatibilidade com o conjunto das exigências do indivíduo, sendo, como é de ver, características muito apropriadas para um funcionamento computacional de uma inteligência artificial, em particular a consideração das possibilidades e diversos valores em jogo. Coerentemente para nós, é dito no mesmo livro que para S. Freud o juízo de condenação é um avatar da negação, em que o não é a sua marca, só se tornando possível graças à criação do símbolo da (de)negação, conferindo ao pensamento um primeiro grau de independência, quer em relação às consequências do recalcamento quer em relação à compulsão do princípio do prazer, ou traduzindo computacionalmente, às necessidades mais imediatas, podendo nós pensar, por exemplo, em necessidades energéticas, no sentido da eficiência energética, como o desligar temporariamente sistemas que não estejam a ser precisos, estando isso representado exemplarmente no save screen ou protecção de ecrã dos computadores normais. Vemos aqui novamente o factor temporal, que se liga a um tipo de recalcamento, e à independência em relação a este.

 

Acabando o resumo, teríamos, no todo, com estados quânticos subimpostos, com negação simultânea do estado falso e do verdadeiro, a possibilidade da criação de uma inteligência artificial com capacidades pensativas ao nível científico, com potencialidade de capacidade reflexiva e capacidade de aprender, com um mecanismo de defesa em todo ele semelhante ao humano.

 

Mais para o presente artigo, e voltando-nos mais especificamente para a tentativa e erro mencionada, com processos continuados de negações e reinícios, levando à eventual capacidade reflexiva e de aprendizagem, veja-se, no que diz respeito à computação, e à tentativa e erro, o exemplo dado na Wikipedia ( Trial and error, Wikipedia ), em que se considera que tentativa e erro é um método fundamental para resolver problemas, caracterizado por tentativas repetidas e variadas que continuam até se obter sucesso, ou até o agente parar de tentar. Em geral, é um método não sistemático que não emprega insight, teoria ou metodologia organizada. Sendo um método heurístico de resolver problemas ou de obter conhecimento, no campo das ciências da computação este método é chamado de gerar e testar. Como já se disse, sendo uma abordagem que pode ser vista como uma de duas abordagens básicas de resolver problemas, contrastando com a abordagem usando insight e teoria, tem-se em conta, contudo, que há métodos intermediários que, por exemplo, usam teoria para guiar o método, uma abordagem conhecida como empirismo guiado. Como é de ver, é esta intermediação que se relaciona com o que propus no primeiro artigo referido, da Inteligência artificial e o pensamento.

 

Noutra referência, no Website                                                                   chessprogramming                                                   ( https://chessprogramming.wikispaces.com/ Trial+and+error ), é ainda avançado que, em geral, a tentativa e erro não faz qualquer tentativa de descobrir porque uma solução funciona, verificando apenas de que é uma solução, o que é uma base interessante para reflectir, particularmente porque nesse sentido há recuperação temporal relativamente à maior perda de tempo que implica a abordagem de tentativa e erro, relativamente a outras abordagens, especialmente aquelas de bases eminentemente teóricas.

 

Ainda sobre este assunto, temos a contribuição especial de um artigo publicado na Biblioteca da Universidade de Cornell, com o título On the Complexity of Trial and Error, pelos autores Xiaohui Bei, Ning Chen e Shegyu Zhang. Foi submetido a 6 de Maio de 2012, numa primeira versão, com uma revisão publicada a 18 de Abril de 2013 ( Bei, Chen & Zhang, 2013 ). Assim, em relação a certas aplicações da física, bioquímica, economia, mas mais pertinentemente para nós, das ciências da computação, em que os objectos de investigação não estão acessíveis por várias limitações, os autores propõem um modelo de tentativa e erro para examinar algoritmos nessas situações. Avançam que dado um problema de pesquisa com um input escondido, é pedido achar-se uma solução válida, para as quais se podem propor soluções candidatas           ( tentativas ), e usando violações observadas ( erros ), para preparar futuras propostas. É considerada uma classe abrangente de problemas de satisfação constrangida, assumindo que os erros são assinalados por um oráculo de verificação no formato de um índice de constrangimento violado. Ainda é de dizer que o modelo dos autores investiga o valor da informação, e os seus resultados demonstram que a falta de informação de input pode introduzir vários níveis de dificuldade extra, em que o modelo exibe conexões íntimas com certas teorias existentes de aprendizagem e de complexidade, esperando que seja um suplemento útil às mesmas.

 

As limitações e os constrangimentos referidos estarão associados, proponho eu, na computação e inteligência artificial, às dificuldades de desconhecimento do funcionamento mais optimal de uma inteligência artificial, em que o modelo dos autores investigando o valor da informação, concluindo que a falta de informação de input introduz dificuldades extra e propondo precisamente o seu modelo de tentativa e erro, que esperam poder suplementar certas teorias existentes de aprendizagem e de complexidade, vem-nos dizer que a tentativa e erro é um bom modelo para lidar com falta de informação de input, enquanto limitação e constrangimento, realçando o valor do input informacional, computacional, na inteligência artificial, como propus no artigo mencionado anteriormente, com a relação que estabeleço desse input com os conteúdos do pensamento relativamente ao aparelho de pensar, no contexto da teoria do pensar de Bion.

 

Como é de ver, a contribuição dos autores agora referenciados vem apoiar a minha proposta, que fiz no artigo já referenciado, enquanto que a minha contribuição, em particular, ao nível das descrições propostas da tentativa e erro, complementa aqueles autores, e em que as relações que estabeleço baseadas na contribuição psicanalítica e ao nível dos estados subimpostos suplementam os mesmos.

 

 

Bibliografia

 

Resende, S. ( 2014 ). Inteligência artificial e o pensamento em www.psicologado.com   ( proposto a 01/2014 )

 

 

Referências de Internet

 

Bei, X., Chen, N. & Zhang, S. ( 2013 ). On the Complexity of Trial and Error in Cornell University Library, arXiv:1205.1183v2[cs.cc], em arxiv.org/abs/1205.1183, consultado em 28/06/2014

 

Chessprogramming in https://chessprogramming.wikispaces.com/ Trial+and+Error, consultado em 28/06/2014

 

Wikipedia. Trial and Error in en.wikipedia.org/wiki/Trial_and_error, consultado em 28/06/2014 

publicado por sergioresende às 12:29
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Quinta-feira, 24 de Abril de 2014

Necrofilia televisiva: sua importância na mulher

Necrofilia televisiva: sua importância na mulher

 

Propõe-se o conceito de necrofilia televisiva, associada ao catar sexual feminino, de mulheres em relação a outras mulheres, na televisão, com psicocinese sexual, em que a eventual situação de as mulheres televisionadas estarem já mortas, ou com o catar imaginado de outras mulheres num futuro, às presentes televisionadas, nesse futuro já mortas, entre outros aspectos, dá um contorno necrofílico a essas mulheres, enquadrando-se também isso nos hábitos televisivos das mesmas.

 

Para começar, considerem-se dois artigos meus, a saber, Masturbação feminina no dia-a-dia: suas implicações psicológicas e comportamentais ( Resende, 2008 ) e Orgasmo feminino enquanto “ pequena morte “ ( la petite mort ) ( Resende, 2012 ). O primeiro deles refere-se ao hábito diário do comportamento masturbatório feminino, e às suas implicações comportamentais e psicológicas, com o hábito da fêmea humana de se excitar e de se masturbar em qualquer local que se encontre, através da sua musculatura vaginal e pélvica, até atingir o clímax, num movimento paroxístico. Indica-se que já Freud, nos Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, nos falava da satisfação sexual sentida pela rapariguinha contraindo os brações entre as pernas, como contraforça, realçando-se a prevalência deste tipo de comportamento. Mais se refere, que na observação quotidiana, associadas a estes comportamentos masturbatórios estão as eventuais ocorrências de um “ engolir em seco “, aquando do clímax e, muito importante, as ocorrências de comportamentos sonolentos, como o bocejar, aquando do clímax, em que a mulher ou a rapariga começam a ficar com sono, sendo de realçar a proximidade entre o clímax e os comportamentos sonolentos. Ainda Freud, no mesmo livro, assim, se refere, nos fala da satisfação sexual associada ao sono, como sendo uma regressão, em que a mulher regressa como que a um estado intra-uterino, em completa dependência de outrem. Destaca-se, nestes comportamentos, que por mais satisfação sexual que se obtenha, a capacidade multi-orgásmica, os comportamentos de “ engolir em seco “ e do comportamento sonolento não diminuem, indicando que a plena satisfação sexual não é obtida, persistindo os comportamentos masturbatórios. Isto leva a crer que diminui a capacidade de procura efectiva de satisfação sexual, na relação, importantemente, o que nos leva à noção, mais ou menos presente, pelo menos na cultura ocidental, de menor iniciativa sexual da mulher, em termos de comportamentos efectivos de procura de satisfação sexual. Ora, quanto a esta menor iniciativa, e quanto à dependência, referida anteriormente, é de notar que Jung, em The Archetypes and the Collective Unconscious, indica que a mulher que não se identifica com o Eros materno perde a capacidade de iniciativa. É como se a mulher, nesse comportamento sexual típico de masturbação se identificasse mais com o Tanatos materno. Já no segundo dos meus artigos referidos, acrescenta-se que considerando que a resolução é a fase de resposta sexual humana que se segue ao orgasmo, teríamos aqui que a irresolução crónica na mulher estará associada à morte, sendo neste contexto que se enquadra a famosa expressão francesa do orgasmo feminino enquanto “ la petite mort “, a pequena morte.

 

Tendo nós, então, a sexualidade feminina associada ao instinto de morte, consideremos agora o meu artigo Catar sexual feminino enquanto fobia social                ( Resende, 2012 ), catar esse enquanto sentimento de estar a sugar sexualmente outra mulher, nos relacionamentos sociais tipicamente sexualizados entre mulheres, que também se caracteriza pelo sentimento de estar a sugar sexualmente o sangue de outra mulher, na eventual menstruação desta, que faz lembrar à mulher o sinal depressivo de perda já efectuada do pénis, que é confirmada em fantasia pela menstruação, com sentimento de perda do amor do objecto, já que fantasia que foi o objecto na relação precoce que lhe amputou o pénis, com raiva narcísica associada, pela agressividade imaginada na amputação. Será esta situação que desencadeará a fobia social, em que considerando a histeria tipicamente feminina, temos esta fobia social relacionada com a superficialidade típica dos relacionamentos histéricos, com uma contrafobia relacionada com a sociabilidade também típica desses relacionamentos.

 

Temos, ainda, a referência de Lacan ( 1996 ) da associação entre catar sexual feminino e instinto de morte.

 

Já em Identidade de percepção e Identidade de pensamento ( Resende, 2014 ) refere-se que o catar sexual feminino do dia-a-dia está associado a uma capacidade psicocinética sexual, com a ocorrência de uma dependência psicocinética sexual, associada às características fisionómicas próprias da mulher, com condicionamento hipnótico.

 

Realça-se, agora, a importância da psicocinese sexual feminina, com condicionamento hipnótico, em meios como televisão, cinema, rádio, CDs, DVDs, em filmes gravados, portanto, em que se destaca o aspecto de programas gravados, relativos ao passado.

 

Com isto dito, destaca-se a hierarquização feminina nestes meios, em que aquelas que surgem nos mesmos terão estatuto hierárquico superior, já que serão menos, em que aquelas que não surgem nesses meios serão muitas mais, em, hipnoticamente, algumas destas tentarão surtir mais efeito psicocinético do que as restantes, em que as reacções das presentes nesses meios controlarão sobremaneira esses efeitos, em que, nesse controlo, manifestarão, eventualmente, que estão a sofrer esses efeitos, não o estando de facto.

 

Voltando aos programas gravados, e ao passado, teremos destacadamente a presença de pessoas já mortas, em particular, e em especial, mulheres, em que teremos uma psicocinese sexual mais associada ao instinto de morte, em que haverão afectações psicológicas numa luta entre a telespectadora que se sentirá mais viva e as mulheres que já estarão mortas, que surgem nesses meios, em que, pelo condicionamento hipnótico, a mulher telespectadora se sentirá a morrer, digamos assim.

 

Dada a psicocinese sexual do dia-a-dia da mulher, teremos que esta psicocinese sexual relativa ao passado, será contrabalançada por essa psicocinese do dia-a-dia, em que este contrabalançamento indicará uma tentativa de contrabalançar o instinto de morte com o instinto de vida da psicocinese sexual do dia-a-dia, em que esta última é sentida assim mais por contraponto à psicocinese relativa ao passado, e à eventual situação da televisionada já ter morrido, embora tenha também identificação com o instinto de morte, como já vimos.

 

Realça-se agora que o directo desses meios estará mais associado com a tentativa contrabalançada do instinto de vida, por estar mais directamente ligado à psicocinese sexual do dia-a-dia, por ser directo, por contraponto aos programas gravados, mais associados ao instinto de morte, em que, resumidamente, no directo, teremos uma vivificação do instinto de morte. Estas ideias têm particular importância no telespectador feminino, em especial na televisão e cinema, diferenciadamente da relação estrita da psicocinese sexual do dia-a-dia, em que pelo já dito, pela sua associação com o instinto de morte, promoverá uma identificação com aquelas televisionadas, mais ligadas ao instinto de morte, como vemos a seguir.

 

Pelas diferenças hierárquicas, já referidas, teremos que as televisionadas representarão mais o instinto de morte, já que mais tarde ou mais cedo as mesmas morrerão, e farão parte daquela psicocinese associada ao instinto de morte, enquanto que as telespectadoras representarão mais o instinto de vida, em que quanto mais afectadas  se sentirão na psicocinese sexual associada ao passado, e ao instinto de morte, mais tentarão vivificar os mesmos, com correlatos de relativo sucesso dos directos.

 

Para finalizar, diríamos que a visualização de televisão, e outros meios, particularmente os directos, por parte da mulher, diminui a identificação com o instinto de morte do catar sexual feminino do dia-a-dia, que é intensificada com a visualização de programas gravados, tendo-se sempre a noção da eventual psicocinese sexual num futuro, por parte de uma mulher, e em particular, de outra, ou outras, relativa à mulher televisionada, que nesse futuro poderá já estar morta, eventualidade e manifestações estas que influenciarão psicologicamente a mulher que assiste a televisão, cinema, etc., ou seja, tendo-se a noção mais ou menos presente, ou eventualmente inconsciente, da omnipresença do instinto de morte nesses meios, particularmente na perspectiva do público feminino.

 

Nesta espécie de necrofilia televisiva, e pelos contrabalançamentos psicocinéticos sexuais referidos, temos que a presença maciça e notória de imagens televisivas de assuntos relacionados com morte e destruição, quer seja em noticiários, telenovelas, reality-shows, publicidade, etc., e especialmente nos noticiários, de imagens de guerra, com mortos, ensanguentados ou não, terramotos, acidentes de viação, assassinatos, assassinos em série, assassinos em massa, etc., promoverão a adesão do telespectador a esses programas, e à televisão em geral, e especialmente pelo público feminino, realçando-se, ainda, o condicionamento hipnótico e a dependência psicocinética sexual feminina, em particular baseados nas características fisionómicas próprias da mulher, destacando-se o odor sexual tipicamente exalado pela mesma.

 

Assim é, pois nesta adesão identificatória há o prevalecer do bom self, por contraponto ao mau self projectado na televisão, num enquadramento borderline, histero-psicótico, com self clivado e com a histeria mais tipicamente feminina, em que no sistema de idealidade o sujeito se auto-idealiza positivamente, com correspondentes ganhos narcísicos, o que continuará a promover a identificação de adesão com as imagens referidas, e com a televisão em geral, em que ocorre uma constância da necrofilia televisiva, à qual também estão associados aspectos relativos ao instinto de morte como o ódio e a destruição.

 

 

Bibliografia

 

Lacan, J. ( 1996 ). Escritos. Editora Perspectiva

 

Resende, S. ( 2008 ). Masturbação feminina no dia-a-dia: suas implicações psicológicas e comportamentais em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 12/11/2008

 

--------------- ( 2012 ). Orgasmo feminino enquanto “ pequena morte “ ( la petite mort ) em www.psicologado.com ( proposto a 05/2012 )

 

--------------- ( 2012 ). Catar sexual feminino enquanto fobia social em www.psicologado.com ( proposto a 06/2012 )

 

--------------- ( 2014 ). Identidade de percepção e Identidade de pensamento em www.psicologado.com ( proposto a 04/2014 )

publicado por sergioresende às 14:46
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Domingo, 20 de Abril de 2014

O sonho e as identidades de percepção e de pensamento

O sonho e as identidades de percepção e de pensamento

 

Considera-se, neste artigo, a relação entre sonho e as identidades de percepção e de pensamento, fazendo-se também um enquadramento societal capitalista e comunista.

 

Tenha-se em conta, antes de tudo, a definição de Laplanche & Pontalis ( 1990 ) de identidade de percepção e de identidade de pensamento, com realce para a identidade de percepção como se procurando reencontrar a imagem do objecto resultante da vivência da satisfação e para a identidade de pensamento enquanto identidade dos pensamentos entre si.

 

Assim, aqueles autores, ao caracterizarem identidade de percepção e identidade de pensamento, nos dizem que a primeira surge da tendência do processo primário e que a segunda surge da tendência do processo secundário, em que considera-se que o processo primário visa reencontrar uma percepção idêntica à imagem do objecto resultante da vivência da satisfação e que no processo secundário a identidade procurada é a dos pensamentos entre si. Em termos económicos, o processo primário caracteriza-se pela descarga imediata e o processo secundário pela inibição, adiamento da satisfação e desvio, mas ao nível da identidade de percepção temos equivalências estabelecidas entre representações, em que procurando a vivência da satisfação, liga uma descarga eminentemente satisfatória à representação de um objecto electivo. Assim, o indivíduo vai daí em diante repetir a percepção que está ligada à satisfação da necessidade. Considera-se, para mais, que a identidade de pensamento constitui uma modificação da identidade de percepção, não se deixando regular exclusivamente  pelo princípio do prazer, em que fazendo a ligação entre representações não se deixa iludir pela intensidade delas, sem tanta necessidade de satisfação imediata. Temos, então, que esta modificação constituirá a emanação daquilo a que a lógica chama princípio de identidade.

 

Aqueles autores indicam, ainda, que Freud considerou que o sonho está mais relacionado com a identidade de percepção e esta, portanto, com o inconsciente. Será no sentido do sonho ser a realização de um desejo inconsciente ( Freud, 1988 ), em que nessa realização haverá como que o conseguir reencontrar a imagem do objecto resultante da vivência da satisfação. Contrapõe-se que se há a tendência para realizar um desejo inconsciente é porque o mesmo não foi realizado na vida do indivíduo, e será nesse sentido em que a vivência da satisfação não existiu que não haverá, portanto, essa procura.

 

Continuando, propõe-se que o conteúdo manifesto, com sua mis-en-scéne, com os seus adereços, com representações imagéticas do dia-a-dia do indivíduo, estará mais relacionado com o aspecto perceptivo mais enquadrado na identidade de percepção, enquanto que o conteúdo latente, revelado pela interpretação do sonho, com seu trabalho e pensamento do sonho, com seus mecanismos como a condensação, em que há condensação de afecto relativo a outras representações, e a sobrerepresentatividade, com a figurabilidade ( Freud, 1988 ), em que Lacan ( 1996 ) também realça a importância da sobrerepresentatividade no sonho para Freud, indicam-nos maior relação com a identidade de pensamento, com a identidade das representações, dos pensamentos entre si, já que os vários aspectos latentes se relacionam e se identificam uns com os outros.

 

Para além disso, realçando-se o aspecto imagético, perceptivo, do conteúdo manifesto, relacionaríamos mais esse conteúdo com o histerismo, destacando-se em Identidade de percepção e Identidade de pensamento ( Resende, 2014 ) a relação da identidade de percepção com o capitalismo enquanto sistema histérico. Assim é, ao nível societal capitalista, temos acentuação da Máscara, esta enquanto arquétipo de adaptação externa, sobrecompensatoriamente, com enfoque excessivo do aspecto externo, com características histéricas de sedução, de tentar agradar, particularmente através da imagem do próprio perante os outros, com maior caracterização ao nível da identidade de percepção, com o exemplo cultural de filmes e reality-shows estado-unidenses, com capitalismo acentuado, a indicarem que tudo é percepção, o que interessa é a imagem transmitida aos outros. Para mais, temos, no capitalismo, a importância da satisfação, gratificação, imediata, muito ao nível do processo primário e do princípio do prazer. Para mais, e pela minúcia e pelo detalhe na interpretação do conteúdo latente do sonho, como se vê em particular em A interpretação dos sonhos, de Freud ( 1988 ), e por mecanismos como a sobrerepresentatividade, com a identidade dos pensamentos do sonho entre si, com o realce, já referido, que Lacan      ( 1996 ) nos indica acerca da importância da sobrerepresentatividade no sonho para Freud, mecanismo sobejamente obsessivo, ligaríamos, pois, o conteúdo latente à obsessão, também se destacando em Identidade de percepção e Identidade de pensamento ( Resende, 2014 ) a relação da identidade do pensamento e o comunismo  enquanto sistema obsessivo. No comunismo, por contraponto ao capitalismo, temos acentuação da Sombra, com eventual enfoque sobrecompensatório excessivo do aspecto interno, mais obsessivo, não importando tanto a imagem transmitida aos outros, com a caracterização ao nível da identidade de pensamento, com o exemplo específico do epíteto atribuído aos Partidos Comunistas, particularmente pela sua coerência ideológica, de partido de pensamento único, em que temos, pois,  a identidade dos pensamentos entre si, podendo isso ser generalizado aos restantes indivíduos comunistas, reconhecidamente politizados, e como se faz a análise política de, em geral, o eleitorado comunista ser relativamente fixo.

 

Assim, pela importância do significado do conteúdo latente, teríamos, em última instância, o sonho mais relacionado com a identidade de pensamento, com o inconsciente, pois, mais relacionado com a obsessão, considerando nós a famosa asserção de Freud de que o sonho é a “ estrada real “ para o inconsciente, em que teríamos a estrada real mais associada ao conteúdo manifesto e em que a interpretação do sonho e seu significado latente estariam mais ligados ao inconsciente, com o conteúdo manifesto mais associado ao histerismo e o conteúdo latente à obsessão. Destaca-se, relacionadamente, a consideração comum de quando uma pessoa tem um sonho, a nível relacional, profissional, etc., e quer realizá-lo, em que temos o sonho como uma fixação, lá está, como uma obsessão. Este sonho de vida estaria, então, associado a aspectos mais latentes do inconsciente do indivíduo, que reflectiria então diferenças a este nível entre as pessoas, e seus sonhos, como no exemplo, dado mais à frente, das diferenças entre o Sonho Americano e o Sonho Russo.

 

Continuando, teremos a noção de psicologicamente a identidade de pensamento ser mais evoluída do que a identidade de percepção, com os correspondentes processo secundário e princípio da realidade a serem mais evoluídos do que o processo primário e princípio do prazer, como se vê no artigo das identidades referido, em que na identidade de pensamento já não se funcionará tão egocentricamente, tão ao nível do auto-narcisismo, em omnipotência da relação precoce, portanto anterior em evolução, não apelando tanto à necessidade de satisfação, gratificação, imediata. Laplanche & Pontalis ( 1990 ) nos dizem que a oposição entre processo primário e processo secundário é correlativo da oposição entre princípio do prazer e princípio da realidade, em que este último, ao contrário do primeiro, tem em conta as condições impostas pelo mundo exterior. Temos também, como já visto, a associação da identidade de pensamento com o princípio da identidade.

 

Realça-se o descrito mais à frente, de Houzel, Emmanuelli & Moggio ( Coord. ) ( 2004 ), com a indicação acerca de D. Anzieu considerar na patologia histérica, no contexto do ego-pele e dos envelopes psíquicos, haver dificuldades ao nível da constituição do escudo para-excitações, o que causará uma maior dependência de estímulos externos, o que se adequa com as características mais perceptivas do histérico capitalista. Essa maior dependência de estímulos externos do histérico capitalista, considerando as sociedades histéricas capitalistas matriarcais, no âmbito do capitalismo global contemporâneo, faz, em termos evolutivos, aproximar mais o histérico do que o obsessivo, este mais ligado ao comunismo, da referência acentuadíssima de outros animais relativamente à dependência em relação aos sentidos e aos estímulos externos. Isto, em conjunto com a violência social e humana da exploração capitalista, fará melhor enquadrar a famosa expressão do Capitalismo Selvagem. Temos, também neste sentido, a identidade de percepção menos evoluída do que a identidade de pensamento, com o comunismo psicologicamente mais evoluído do que o capitalismo e outros sistemas mais reaccionários, reactivos excessivamente aos estímulos externos, com dependência deles, como o fascismo, extremos do capitalismo, ou o socialismo reacionário, com políticas de direita, que, como o Manifesto Comunista        ( Marx & Engels, 1998 ) nos diz, promove a permanência dos habituais políticos e dirigentes de linha conservadora e de tendência burguesa. Em particular, no expansionismo espacial militarista fascista, teremos um enquadramento das características já apresentadas, com um acting out, com a passagem ao acto mais imediata, menos mentalizado, com relação mais directa entre estímulos externos e reacção comportamental, resposta comportamental.

 

Pelo dito, poderíamos aqui enquadrar o chamado Sonho Americano, que pelas características aduzidas, se caracterizará, então, mais por aspectos manifestos, mais externos, mais histéricos, apelando muito à identidade de percepção e ao reencontrar da imagem do objecto de satisfações anteriores, regulando-se muito pelo princípio do prazer e deixando-se então controlar pelas intensidades das representações, em que se destaca a importância excessiva atribuída a celebridades e à visualização das mesmas, e ao tentar ser bem sucedido como eles, a importância da gratificação imediata, o “ aqui e agora “ histérico, e o aspecto relativamente ilusório de ser bem sucedido, em que por cada caso de sucesso, muito divulgado imageticamente, há números significativos de indivíduos que são considerados falhados, não bem sucedidos, podendo nós dar o exemplo de números significativos de licenciados trabalharem em empregos básicos, não considerados de sucesso. Pelo descrito, será, então, um Sonho menos evoluído.

 

Podemos também enquadrar aqui um Sonho de uma sociedade mais progressista, embora ainda capitalista, como da sociedade russa, em que se poderá dizer que o Sonho Russo foi tema da Cerimónia de Abertura dos recentes Jogos Olímpicos de Inverno, realizados em Sochi, Rússia. Aspecto crucial, referente a uma menina a sonhar, foi o de haver a envolvência do alfabeto russo, com ligações das letras a feitos russos e à história russa. Neste aspecto, num âmbito mais obsessivo, no sentido linguístico, é de realçar a ligação da linguagem ao inconsciente, em que, como dissemos anteriormente, haverá uma maior ligação do inconsciente à obsessão, no sentido do aspecto latente, em que podemos denotar o destaque que Lacan ( 1996 ) faz quanto à linguagem enquanto base do inconsciente. Há aqui uma maior ligação à identidade de pensamento, pela identidade das representações linguísticas entre si, unidas pelos feitos russos e história russa, no quadro de uma sociedade mais progressista do que a estado-unidense.

 

Assim, pelo apresentado, teríamos que o Sonho Russo será mais evoluído do que o Sonho Americano.

 

Continuando, ainda é de relacionar o sonho com o mecanismo do recalcamento, em que se dirá que o material inconsciente é material recalcado, recalcamento como mecanismo mais predominantemente histérico, denotando-se, sobremaneira, que posteriormente há uma tendência, relacionada com a compulsão à repetição, do material inconsciente se manifestar, particularmente no sonho. Dir-se-á que nesta tendência para manifestação, e por contraponto ao recalcamento mais histérico, anterior, há mecanismos mais obsessivos, em que se nota a obsessão em particular no fenómeno da compulsão à repetição. Denotando ainda a referência que Jacques Lacan, em Escritos ( Lacan, 1996 ), faz, citando Freud, de que o deslocamento é apresentado como o meio mais eficaz de que dispõe o inconsciente a fim de ultrapassar a censura, dir-se-á, no contexto, que o deslocamento envolvido no sonho é predominantemente obsessivo, realçando-se novamente, e do mesmo livro de Lacan, a referência que o autor faz acerca da importância da sobrerepresentatividade no sonho para Freud, fenómeno patentemente obsessivo e, como é de ver, relacionado com o deslocamento, que permitirá, sobremaneira, aquela sobrerepresentatividade. Para sermos mais precisos, a característica de facilidade de deslocamento do afecto entre representações do histérico, com aquilo que foi dito antes, indica-nos que o deslocamento fará a passagem entre uma base histérica para um funcionamento obsessivo, já que no deslocamento e na sobrerepresentatividade o afecto eventualmente para, eventualidade mais para o deslocamento, e mais garantidamente no outro mecanismo, em que, portanto, a base histérica do deslocamento associa-se e baseia-se na utilização de aspectos imagéticos, principalmente do dia-a-dia e do passado, nos aspectos mais manifestos, mais relacionados com a identidade de percepção, do conteúdo manifesto do sonho.

 

Agora, acerca dos sonhos recorrentes, realce-se, particularmente em Freud ( 1988 ), o sonho enquanto realização de um desejo inconsciente, em que nos perguntamos acerca do porquê da recorrência do sonho. Se quisermos manter a regra do sonho enquanto realização de um desejo inconsciente, teremos que o sonho recorrente, ou o motivo ou temática recorrente, denota-nos que o mesmo não está relacionado estritamente com a realização de um desejo inconsciente, no sentido em que não será esse o tema central do sonho recorrente, já que teríamos que antes de se tornar recorrente, o desejo já deveria estar realizado e, por consequência, não se repetir. No mesmo sonho recorrente, dever-se-ão procurar aspectos do sonho aparentemente menos centrais e, numa tendência Junguiana, utilizar a técnica da amplificação, com realce desses aspectos menos centrais, e interpretá-los de acordo com as associações que o indivíduo que teve o sonho faz, relativamente a esses temas menos centrais. Esta maneira de ver o sonho recorrente é semelhante à maneira que Freud ( 1988 ), em seu A interpretação dos sonhos, aborda a angústia no sonho, dizendo que os aspectos que não se associam à angústia, embora aparentemente importantes, não serão o tema central do sonho, não sendo essa a mensagem do inconsciente, em que a mesma mensagem se relacionará com os aspectos angustiantes.

 

Para mais, considerando-se a indicação de Lacan ( 1996 ), de que para Freud o deslocamento é apresentado como o meio mais eficaz de que dispõe o inconsciente a fim de ultrapassar a censura, destaquem-se novamente as noções de identidade de percepção e de identidade de pensamento. Se como Laplanche & Pontalis ( 1990 ) dizem, a identidade de pensamento não se deixa iludir pela intensidade das representações, temos que a censura, no sonho, deixando-se iludir pela intensidade das representações, não tanto do processo primário e do princípio do prazer, ou seja, pela alta intensidade das representações, mas sim pela menor intensidade das representações, em que particularmente pelos mecanismos de deslocamento e de sobrerepresentatividade há o ultrapassar da censura, com a intensidade disfarçada, teremos que a censura está a meio caminho entre a identidade de percepção, já que a satisfação de tendências inconscientes, e a identidade de pensamento, em que há também o considerar das condições da realidade exterior e psíquica. Já que, como já se disse, o conteúdo latente do sonho está mais relacionado com a identidade de pensamento, teríamos que esse conteúdo estaria mais relacionado com um inconsciente, obsessivo, em que esse inconsciente estaria mais associado às representações da realidade, na linha do processo secundário e do princípio da realidade da identidade do pensamento, que nos daria uma ligação à potencialidade criativa do inconsciente, particularmente colectivo, de que Jung ( 1988 ) tanto nos fala, por precisamente o inconsciente estar associado aos fenómenos da realidade, estar associado às relações entre os fenómenos da realidade.

 

Quanto àquele caminho, acima mencionado, da censura, será mais preciso dizer estar a meio caminho entre a identidade de pensamento e a identidade de percepção, num caminho contrário aos processos perceptivos mais conscientes, mais ao nível sensorial. Nesta delineação, teremos que a censura psíquica tem características inversas à censura externa, particularmente externalizada, realçando-se os meios de comunicação de massas, numa sociedade baseada, por exemplo, ao nível perceptivo, como o visual, o auditivo, etc., nos fenómenos de censura subliminar, ao nível das mensagens subliminares, e não tão subliminares, com maior ou menor reforço dos comportamentos, emoções, pensamentos, de reacção, de resposta, a essas mensagens, reforço esse positivo ou negativo. Teremos que quanto mais se acentua a censura externa, particularmente ao nível da intensidade das mensagens, especialmente emocionais, menos se acentua a censura psíquica, interna, precisamente pelo direcionamento contrário entre as mesmas. O agora descrito, e pelo apresentado anteriormente, indicar-nos-ia que quanto mais um indivíduo estiver controlado pela censura externa, menos o indivíduo se caracterizará  pela criatividade, enquanto advinda do inconsciente.

 

Tenha-se ainda em conta que, pelo descrito neste artigo, em que temos conteúdo manifesto, mais imagético e perceptivo, com identidade de percepção mais associada ao capitalismo enquanto sistema histérico, e em que temos conteúdo latente, com mecanismos inconscientes mais obsessivos e com identidade de pensamento mais associada ao comunismo enquanto sistema obsessivo, e com um inconsciente mais obsessivo, se deve perspectivar que aquela censura externa, como descrita, funcionará particularmente bem num sistema mais histérico, como o capitalismo e seu extremo, fascismo, realçando-se neste ponto o indicado por Houzel, Emmanuelli & Moggio          ( Coord. ) ( 2004 ) acerca de D. Anzieu considerar na patologia histérica, no contexto do ego-pele e dos envelopes psíquicos, haver dificuldades ao nível do escudo para-excitações, o que causará uma maior dependência  de estímulos externos, o que se adequa com as características mais perceptivas do histérico capitalista. Ora, a censura num sistema comunista funcionará mais ao nível de um controlo mais directo da censura interna, psíquica, que se caracterizará em particular pelo questionamento, do pôr em dúvida, da identidade dos pensamentos entre si, da sua coerência. Politicamente, desvios ideológicos ao comunismo são especiais alvos de censura.

 

É sintomático que num sistema capitalista, ou o seu extremo, fascismo, os inimigos são considerados como sendo externos, digamos assim, mais ao nível perceptivo, com fenómenos xenofóbicos relativos ao estrangeiro, em que temos o exemplo histórico dos Estados Unidos, em que houve a contínua mudança como inimigo externo do comunismo soviético e do movimento comunista internacional para os assim considerados fundamentalistas islâmicos, no âmbito do “ terrorismo islâmico “, com a consequente “ guerra ao terror “, enquanto que num sistema comunista, os inimigos são considerados como sendo internos, menos perceptivo e mais inconsciente, por assim dizer, com fenómenos como o considerado “ inimigo do povo “, num enquadramento ideológico de afastamento do ideal comunista.

 

Finalizando, foram estas, pois, as elaborações acerca da relação entre o sonho e as identidades de percepção e de pensamento, tendo-se feito também um enquadramento societal capitalista e comunista.

 

 

Bibliografia

 

Freud, S. ( 1988 ). A interpretação dos sonhos. Pensamento – Editores Livreiros, Lda.

 

Houzel, D., Emmanuelli, M. & Moggio, F. ( Coord. ) ( 2004 ). Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente. Climepsi Editores

 

Jung, C. G. ( 1988 ). A prática da psicoterapia ( tradução portuguesa ) in Obras Completas de C. G. Jung, Vol. XVI. Petrópolis: Editora Vozes

 

Lacan, J. ( 1996 ). Escritos. Editora Perspectiva

 

Laplanche, J. & Pontalis, J. B. ( 1990 ). Vocabulário da Psicanálise. Editorial Presença

 

Marx, K. & Engels, F. ( 1998 ). The Communist Manifesto. Signet Classic ( Publicação original, 1848 )

 

Resende, S. ( 2014 ). Identidade de percepção e Identidade de pensamento in www.psicologado.com ( proposto a 04/2014 )

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Domingo, 12 de Maio de 2013

As técnicas anais enquanto relacionadas com o capitalista e com o comunista

No presente artigo, considera-se a analidade, na sua relação com o dinheiro, e suas características expulsivas e retentivas, no que diz respeito ao sistema capitalista e comunista.

 

Considerando a analidade como relacionada com o dinheiro, com o que está dentro e com o que está fora, enquanto meio transitivo de relação com o mundo exterior, associando-se, pois, fezes e dinheiro, interessa-nos, sobremaneira, para o presente artigo, as características expulsivas e retentivas da fase anal, do desenvolvimento psicossexual do indivíduo. Como se pode ver em Vocabulário da Psicanálise, de Laplanche & Pontalis ( 1990 ), temos, pois, a relação de objecto impregnada de significações ligadas ao fenómeno da defecação ( expulsão-retenção ) e ao valor simbólico das fezes, em que, como dizem os autores, terá Freud posto em evidência a equivalência simbólica fezes-dinheiro.

 

No contexto, tem-se, deste modo, a técnica anal expulsiva enquanto relacionada com a partilha da riqueza, preconizada pelos comunistas, e a técnica anal retentiva enquanto relacionada com a retenção da riqueza, preconizada pelos capitalistas.

 

No âmbito do capitalismo contemporâneo, em que há imperialismo económico, como extremo do capitalismo, em que há tentativa de apropriação da riqueza de outros, particularmente das elites em relação ao povo, teremos, considerando também o oro-falismo do histérico capitalista, que haverá uma regressão para a fase oral, ao nível da introjecção, que será uma introjecção maciça, incorporativa, que será um reforço das características anais retentivas, reforço este que caracterizará o imperialismo económico, precisamente, o extremo do capitalismo. Isto está enquadrado no meu artigo A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Klein ( Resende, 2010 ), em que se considera a introjecção como mais característica da posição esquizo-paranóide, associada ao psicótico, e a projecção mais associada à posição depressiva, associada ao borderline, estando estas modificações consentâneas com a perspectiva teórica das relações de objecto internalizadas, com o bebé inicialmente enquanto continente e a mãe enquanto originadora de conteúdos, uma perspectiva micro-sociológica ao invés da perspectiva psicogenética de Klein.

 

Quanto a estas manobras económicas imperialistas, teremos o exemplo do empréstimo “ predador “, ou “ predatory “ loaning, em que as empresas e bancos fazem empréstimos às pessoas, sabendo, na sua análise, que muito provavelmente as pessoas não vão poder pagar os empréstimos. Haverão também apostas económicas paralelas contra a boa execução destes empréstimos, em que se ganha por as pessoas não conseguirem pagar os empréstimos. Isto levou alguns analistas a chamar estas manobras de economia de casino. Estas análises são feitas por vários economistas, como, por exemplo, Max Keiser, no seu Keiser Report, um programa de análise económica no canal russo Russia Today ( RT ). Este analista poderá ser contactado em keiserreport@rttv.ru.

 

Quanto às características do imperialismo económico, ver, por exemplo, o artigo Teoria do Tudo em Psicologia, as forças fundamentais do Universo e a comparação da coerência psicofísica dos sistemas politico-económicos da União Europeia e China         ( Resende, 2012 ), em que se aborda particularmente o imperialismo económico practicado no âmbito da União Europeia, por países como a Alemanha e a França, em relação a países da periferia da União Europeia, particularmente, Espanha, Portugal e Grécia.

 

Temos, pois, uma fase introjectiva oral, anterior à anal, em que, resumidamente, teremos uma regressão oro-anal, de modo agressivo, com técnicas retentivo-sádicas.

 

Em Vocabulário da Psicanálise, já referenciado, os autores realçam que, para Melanie Klein, o conjunto da fase oral é uma fase oral-sádica, precisamente, enquanto que para Karl Abraham, dentro da fase oral, há uma fase precoce de sucção e uma fase oral-sádica, em que a líbido e a agressividade são dirigidas para um mesmo objecto. Estas considerações de Abraham são de relacionar com a primazia dos comportamentos sexualizados nas sociedades histéricas capitalistas, realçando-se o oro-falismo do histérico, em particular, com a importância da promiscuidade sexual, e da agressividade envolvida nos correlatos expansionistas militaristas das sociedades capitalistas, nas quais podemos ver ambos os factores, sexualização e agressividade, em tão aclamados meios como os filmes de Hollywood, e séries e programas televisivos estado-unidenses, numa linha capitalista, portanto, de grande sucesso um pouco por todo o mundo. As delineações de Abraham, quanto à fase precoce de sucção e fase oral-sádica, leva-nos, pois, ao que já indiquei, quanto a uma técnica retentivo-sádica.

 

É de relacionar, agora, o imperialismo económico, já referido, com o imperialismo militar dos sistemas económicos capitalistas ocidentais, no âmbito de uma economia de guerra, particularmente nas recentes intervenções na ex-Jugoslávia, no Kosovo, Líbia, Síria e Mali, como em relação a outras intervenções por todo o mundo, especialmente por parte dos Estados Unidos da América, enquanto bastião do Capitalismo, no quadro do capitalismo global. Como se pode ver em A inveja do pénis e a inveja do clitóris e suas implicações políticas ( Resende, 2010 ), isto está relacionado com a raiva narcísica associada à inveja do pénis, com sentimentos sobrecompensatórios associados ao expansionismo imperialista, e à menstruação que, em fantasia, faz lembrar a amputação anterior do pénis. Isto no caso da mulher, sendo que no caso do homem, haverá uma identificação maciça, numa fusão psicótica, com a mãe castrada, como se pode ver em A guerra militar no homem fascista ( Resende, 2013 ), considerando o expansionismo imperialista enquanto extremo do capitalismo.

 

Repare-se que, segundo o exemplo referenciado no artigo da coerência psicofísica, já indicado, em que a China tem comunismo centralmente e Zonas Económicas Especiais capitalistas, não havendo o capitalismo selvagem do Ocidente, haverá uma integração da técnica anal expulsiva e técnica anal retentiva, e em que não haverá regressão para a fase oral, de retenção maciça, introjecção, incorporação, maciças. Isto leva-nos a supor que o que caracteriza o imperialismo económico, o capitalismo selvagem, é a regressão para a fase oral, com técnicas oro-anais agressivas, particularmente retentivo-sádicas, em que, como já se disse, há um reforço oral à retenção anal. Quanto à China, é como se o sistema politico-económico chinês obtivesse o controlo esfincteriano anal. Podemos relacionar isto com a crescente influência política e económica da China, ao ponto de, como alguns analistas vaticinam, a China poder vir, num futuro próximo, a substituir os E. U. A. como maior superpotência global, particularmente a nível económico. Isto, claro está, enquadrado no investimento maciço da China, fora desse país, em infraestruturas e oportunidades de desenvolvimento económico em várias regiões, particularmente menos desenvolvidas, como África. Isto será mais expulsivo-anal, portanto. Estas características aduzidas aqui, quanto à China, apoiam uma coerência geral, em aditamento àquela descrita no âmbito do outro artigo já indicado, do sistema politico-económico chinês, particularmente quanto ao aspecto integrativo das características anais.

 

Contudo, é de destacar que, para Laplanche & Pontalis ( 1990 ), a ligação entre o sadismo e o erotismo anal, com a natureza bipolar do sadismo, em que o mesmo tenta contraditoriamente destruir o objecto e mantê-lo dominando-o, aquela ligação, dizia eu, passa pelo funcionamento bifásico do esfíncter anal, na expulsão-retenção, e pelo controlo deste. Mais em particular, é indicado por esses autores que, para Karl Abraham, a fase anal-sádica tem dois períodos, em que no primeiro o erotismo anal está ligado à evacuação, expulsão, e a pulsão sádica à destruição do objecto, e em que no segundo período o erotismo anal está ligado à retenção e a pulsão sádica ao controlo possessivo.

 

Temos, pois, quanto ao aspecto integrativo das características anais e do controlo esfincteriano anal, referido, um manuseio integrativo do sadismo anal. Por um lado, a destruição do objecto associada à evacuação, expulsão, é manuseada pelas características já indicadas, em particular, do investimento maciço da China, fora do país, em infraestruturas e oportunidades de desenvolvimento económico, em várias regiões, particularmente menos desenvolvidas, estabelecendo e desenvolvendo, dessa maneira, o alargamento da sua esfera de influência, em detrimento de outras potências. Por outro lado, o controlo possessivo associado à retenção, é manuseado em particular pelo exemplo recente dos aumentos salariais nesse país, de 21% nas zonas rurais e de 12% nas zonas urbanas, aumentos estes inimagináveis, por exemplo, no Ocidente.

 

Assim, temos, em geral, no exemplo chinês, o controlo esfincteriano anal e o controlo do sadismo a ele associado.

 

 

Bibliografia

 

Laplanche, J. & Pontalis, J. B. ( 1990 ). Vocabulário da Psicanálise ( 7ª edição ). Editorial Presença

 

Resende, S. ( 2010 ). A inveja do pénis e a inveja do clitóris e suas implicações políticas em Artigos vários de Psicologia, Resende, S., em www.infogestnet.com/publicacoes/antpsica.pdf ( 2013 )

 

Resende, S. ( 2010 ). A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Klein em Artigos vários de Psicologia, Resende, S., em www.infogestnet.com/publicacoes/antpsica.pdf ( 2013 )

 

Resende, S. ( 2012 ). Teoria do Tudo em Psicologia, as forças fundamentais do Universo e a comparação da coerência psicofísica dos sistemas politico-económicos da União Europeia e China em Artigos vários de Psicologia, Resende, S., em www.infogestnet.com/publicacoes/antpsica.pdf ( 2013 )

 

Resende, S. ( 2013 ). A guerra militar no homem fascista em Artigos vários de Psicologia, Resende, S., em www.infogestnet.com/publicacoes/antpsica.pdf ( 2013 )

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Terça-feira, 5 de Março de 2013

O sado-masoquismo e suas relações com a introjecção e a projecção

Resumo inicialmente o artigo A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Klein ( Resende, 2010 ), para depois utilizar noções aí desenvolvidas, e relacioná-las com ideias de Wilhelm Reich e Sigmund Freud sobre o sado-masoquismo.

 

Assim, temos que, no artigo referido, proponho a modificação de características básicas das posições esquizo-paranóide e depressiva de Melanie Klein, introduzindo depois mais uma posição, a castrativa, embora esta introdução não interessará tanto para o presente artigo. Enquadro aquelas posições modificadas em organizações de personalidade.

 

Temos, então, que Klein considera que a posição esquizo-paranóide se caracteriza predominantemente por conteúdos projectivos. Utilizando as noções de Bion de continente e conteúdo, na relação mais precoce, o bebé projectará os conteúdos e a mãe funcionará como continente, receptora dos conteúdos.

 

Passo a indicar o funcionamento do bebé enquanto continente e da mãe enquanto originadora de conteúdos. Nesta fase mais precoce, há a primazia da erogeneização da boca através do seio, enquanto fornecedor de alimentação  e, portanto, de conteúdos a incorporar. É de realçar, na observação clínica e quotidiana, a voracidade buco-visual do bebé, nesta fase precoce. Considera-se, para mais, que um fenómeno como a toxicodependência, em que há a consideração clínica de caracterizar-se por fixações orais, como, por exemplo, o tabagismo, terá características mais introjectivas do que projectivas. Ainda, a paranóia persecutória, presente na posição esquizo-paranóide, terá características introjectivas que fariam descrever esta paranoia persecutória como uma introjecção persecutória. Assim, o bebé introjectaria persecutoriamente ansiedades e angústias projectadas pela mãe. Continuando, a posição esquizo-paranóide se caracterizará mais por conteúdos introjectivos do que projectivos. Deste modo, ter-se-ia a estrutura psicótica caracterizando-se mais pela introjecção.

 

Já a posição depressiva, que segundo Klein, se caracteriza mais pela introjecção, pelo movimento introjectivo das características do objecto externo, terá outras características, tendo em conta a sua relação com organizações de personalidade. Assim, estabelece-se um paralelo com a organização borderline, por esta ter por fundamento quadros depressivos, em particular de abandono e de desamparo. Haverá relação entre depressividade e posição depressiva, em que esta posição se caracterizará mais pela projecção do que pela introjecção. É que a economia depressígena básica, de afecto dado e não correspondido, terá características projectivas. O afecto é dado, é externalizado, sendo, portanto, mais projectivo do que introjectivo. Enquadra-se, para mais, o vazio depressivo do histérico e a externalização verbal agressiva típica no histérico, pela agressividade fálica, de características projectivas, no quadro de características psicóticas, portanto num quadro borderline, como se pode ver, por exemplo, nos meus artigos Complexo de Anti-Cristo – Perspectiva Psicodinâmica e Mecanismos de defesa e Mecanismos de ataque. Aquela externalização verbal agressiva fálica, típica no histérico, enquadrado em características psicóticas, portanto num quadro borderline, deverá ser considerada enquanto meio transitivo na passagem das características psicóticas para as características mais histéricas.

 

Mais para o presente artigo, é de ter em conta a noção básica de sado-masoquismo de Wilhelm Reich, que no seu Character Analysis ( 1990 ) nos indica que o masoquismo é baseado num sadismo original. É de notar que Sigmund Freud [ citado por Apostolides ( 1999 ) ] tem ideias semelhantes. Ele considerava que o sado-masoquismo é patológico e que as pessoas tornam-se masoquistas como uma maneira de regular o seu desejo de sexualmente dominar outros. Para além disso, o desejo de se submeter surgirá de sentimentos de culpa pelo desejo de dominar.

Relembrando o artigo anteriormente resumido, em que considero que a persecução é mais introjectiva, em que o bebé introjecta as ansiedades da mãe, e que a depressividade é mais caracterizada pela projecção, temos que o bebé terá introjectado inicialmente o sadismo da mãe, e começado ele próprio a caracterizar-se desse modo, e em que depois começará a projectar depressivamente o masoquismo. Começará a vivenciar situações masoquistas, particularmente na linha histérica, especialmente pelas consequências da projecção depressiva, da externalização, mais ou menos verbalizada, agressiva.

 

Considerando os meus artigos Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica ( Resende, 2012 ), O palhaço de circo e a depressividade histérica ( Resende, 2012 ) e, principalmente, O sobrecompensatório na mulher             ( Resende, 2012 ), temos que, com base na angústia depressiva, pela certeza de perda do pénis, com angústia de perda do amor do objecto, em que este é considerado responsável por aquela perda do pénis, ou com identificação maciça, em fantasia, com a mãe castrada, onde também ocorre angústia de perda do amor do objecto, já que há um sentimento de que o filho, ao nascer, castrou a mãe, fantasiando o filho de que a mãe se quer vingar, como se pode ver em A guerra militar no homem fascista                  ( Resende, 2013 ), há, dizia, sobrecompensatoriamente, uma continuada vivência em situações masoquistas e de condutas de insucesso, particularmente pelas consequências da projecção verbal agressiva, típica no histérico. É essa projecção agressiva que é sobrecompensatória, para compensar a agressividade dirigida sobre o próprio, introjectada anteriormente, que caracterizará o movimento depressivo ou tendência para entrar em depressão. Temos, pois, vivências masoquistas associadas a uma luta anti-depressiva. Para mais, denotando, especialmente, perturbações ao nível do escudo para-excitações, o histérico continua a depender grandemente dos estímulos externos, e a viver situações consideradas pelo próprio, latentemente, de dificuldade em lidar com uma excessiva carga de estímulos.

 

Finalizando, temos que as ideias de sado-masoquismo de Reich e de Freud, pelo descrito, apoiam coerentemente as modificações que introduzi às posições de Klein, particularmente ao funcionamento inicial do bebé enquanto continente e da mãe enquanto originadora de conteúdos, compreendendo-se, assim, a introjecção inicial do bebé do sadismo da mãe, com identificação do bebé com esse sadismo original, desenvolvendo, ao mesmo tempo, características masoquistas, na relação com o sadismo da mãe, projectando, posteriormente, e depressivamente, esse masoquismo. Isto no âmbito da dialéctica sado-masoquista e da vinculação intergeracional, em que, coerentemente, temos que de uma mãe sádica surgirá um indivíduo masoquista, englobando-se, desta forma, a noção de um masoquismo como derivando de um sadismo original.

 

 

Bibliografia

 

Apostolides, M. ( 1999 ). The pleasure of pain in Psychology Today, Sep/Oct 99, Vol. 32 Issue 5, p. 60 6 p. 5 color photographs

 

Reich, W. ( 1990 ). Character Analysis. Farrar, Straus and Giroux

 

Resende, S. ( 2010 ). A posição castrativa como complement às posições modificadas de Melanie Klein em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 08/11/2010

 

Resende, S. ( 2012 ). Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica em www.psicologado.com ( proposto em 11/2012 )

 

Resende, S. ( 2012 ). O palhaço de circo e a depressividade histérica em www.psicologado.com ( proposto em 12/2012 )

 

Resende, S. ( 2012 ). O sobrecompensatório na mulher em www.psicologado.com         ( proposto em 12/2012 )

 

Resende, S. ( 2013 ). A guerra militar no homem fascista em www.psicologado.com       ( proposto em 01/2013 )

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Quinta-feira, 3 de Janeiro de 2013

A guerra militar no homem fascista

Resume-se, inicialmente, os meus artigos Psicologia de massas do fascismo: uma actualização ( Resende, 2012 ) e Caracterização edipiana do homem fascista ( Resende, 2012 ), para depois se complementar essas ideias com a caracterização da guerra militar no homem fascista.

 

Assim, tem-se em conta que Wilhelm Reich, em seu Psicologia de massas do fascismo    ( 1976 ), considera que a psicologia de massas do fascismo é caracterizada pela impotência orgástica das massas, em que as frustrações orgásticas alimentam o fascismo na psique colectiva.

 

Dir-se-à, para mais, que a repressão societal dos ideais fascistas leva a que o material fascista recalcado fique mais ao nível do inconsciente e do subconsciente, não sendo tão agido. Isso leva a que, mais tarde, os indivíduos passem a funcionar a estes níveis mais profundos da psique, e em termos de psicologia de massas, leve a que o indivíduo seja mais controlado inconscientemente pelas ideias e ideais fascistas. Então, a repressão societal destas ideias, numa primeira fase, leva a que, numa fase posterior, as mesmas sejam propagadas pela psique colectiva, pelas massas. Por outras palavras, o aumento repressor dos ideais fascistas leva a que haja um aumento inconsciente desses mesmos ideais.

 

Assim, temos que, contemporaneamente, e considerando o ódio dos nazis aos judeus e os acontecimentos da segunda guerra mundial, o apoio incondicional a Israel, ou pelo menos às governações sionistas, por parte dos Estados Unidos, enquanto grande superpotência mundial, considerando ainda a influência extrema judaica, ou sionista, nos Estados Unidos, no quadro do Capitalismo global, parecendo libertário, pela associação à derrota do nazismo na segunda guerra mundial, é opressor e fascista. Isto pelas suas consequências. Dir-se-à, ainda, que o apoio incondicional dos Estados Unidos a Israel será a grande base da opressão e disseminação fascista na geopolítica contemporânea, pelo reprimir em grande escala dos ideais fascistas. Em grande escala, devido à hegemonia dos Estados Unidos na geopolítica internacional, no âmbito do capitalismo global. Exemplos dessas consequências são o sistema fascista sionista actual, com sistema de apartheid em relação aos palestinianos, e com ocupação imperialista dos territórios palestinianos, para além do recrudescimento do neo-nazismo na Europa, em países como a Alemanha e a França, ou, por exemplo, em países do leste europeu, considerando a influência dos Estados Unidos nestes países.

 

Ora, outro dos fenómenos que tem estas bases é o desejo do fruto proibido. Contextualizadamente, o desejo do fruto proibido estará implícito na designação atribuída a Nova Iorque de Big Apple ou a Grande Maçã. Esta designação remete-nos para o pecado original da religião cristã e para o facto de o mesmo ser reprimido nas sociedades cristãs, particularmente capitalistas. No contexto do artigo, temos uma evangelização a nível inconsciente das massas e uma atracção pelo regime ideológico capitalista, de que os Estados Unidos serão o grande bastião. Assim, esta evangelização será uma das bases da hegemonia dos Estados Unidos a nível cultural e ideológico, um pouco por todo o mundo.

 

Passemos à caracterização edipiana do homem fascista, realçando-se este desejo do fruto proibido.

 

Edipianamente, o facto de a mãe do homem fascista ser proibida para o mesmo, particularmente por ditames religiosos, moralistas e culturais, levará a que o homem ainda a deseje mais, nunca admitindo que nunca a poderá ter, passando a uma resolução saudável do Complexo de Édipo. Há aqui uma identificação maciça com a mãe, que no contexto fascista, trata-se de uma identificação com a mãe castrada. Havendo uma identificação maciça, o homem fascista passará a funcionar muito ao nível da inveja do pénis, com suas sobrecompensações. Também baseado no meu artigo A inveja do pénis e a inveja do clitóris e suas implicações políticas ( Resende, 2010 ), é de dizer que devido ao sentimento de castração caracterizando a inveja do pénis, haverá uma sobrecompensação fálica, que no extremo levará ao expansionismo característico  do imperialismo capitalista e fascista, enquanto que a raiva narcísica, derivada do sentimento de perda do pénis, sentimento que é reforçado pela menstruação, fundamenta o militarismo capitalista e fascista.

 

Temos, então, que o pai do homem fascista alimenta as fantasias inconscientes do filho de que este poderá ter a mãe, tendo-se, também, que as proibições societais relativamente aos aspectos matriarcais fazem com que o homem fascista perdure na sua demanda ideológica.

 

Continuando, para este artigo, realce-se o aspecto já referido da sobrecompensação fálica levar ao expansionismo, característico na guerra fascista, e o aspecto do pai do homem fascista permitir a ilusão de o filho fascista alcançar e possuir a mãe, isto particularmente por imposições morais.

 

Quanto a estas imposições morais, considere-se que Wilhelm Reich, particularmente em Character Analysis ( 1990 ), indica que as mesmas, vindas de fora, são causadoras de patologia mental, particularmente aquilo que ele chama de praga emocional, que leva ao fascismo. Estas noções também podem ser vistas noutro livro dele, já referido, Psicologia de massas do fascismo. Enquadra-se, aqui, o sistema doentio do militarismo expansionista fascista, em que este baseia-se, particularmente, em raiva narcísica, e em que se está a um nível megalomaníaco.

Considere-se, ainda, que na identificação com a mãe castrada, há uma identificação consequente, relacionada com angústia depressiva, com o sangue menstrual, em que o mesmo representa para o homem fascista a perda do amor do objecto, que no caso será a mãe. Há uma identificação com o sentimento de perda do pénis da mãe, com consequente sentimento de perda do amor do objecto, em que o próprio se sentirá culpabilizado e responsabilizado pela perda do pénis da mãe.

 

Há uma identificação com o sangue menstrual, resultante desta relação culpabilizante com a mãe, da qual o homem fascista desenvolverá raiva narcísica baseada na culpabilidade. É como se o homem fascista finalmente considerasse que é mesmo culpado pela perda do pénis da mãe, e se identificasse com a agressividade fantasiada envolvida na amputação do pénis da mãe. Nesta identificação, surgirá a inveja do pénis do homem fascista, havendo depois comparações com os pénis de outros homens. Basicamente, há a identificação acentuada com a mãe castrada. Podemos pensar na fusão psicótica, com características projectivas predominantes que caracterizarão sobremaneira os sistemas xenófobos fascistas. Isto, no contexto das sociedades histéricas capitalistas matriarcais, com o seu extremo, fascismo.

 

Com isto, tendo em conta o militarismo expansionista do homem fascista, e considerando que os comandos militares e políticos, na base de ofensivas de guerra militar, e os próprios soldados, são geralmente homens, teremos que o sangue envolvido na guerra militar, como que baseará o surgimento de mais sangue, no sentido em que o sangue menstrual, como sinal de perda do pénis, fantasiada na mulher como já efectuada, baseará a raiva narcísica que despoletará a agressividade, característica na depressividade histérica, como se pode ver, por exemplo, em O palhaço de circo e a depressividade histérica ( Resende, 2012 ). Estes homens caracterizar-se-ão, então, por esta raiva narcísica, com sentimento de perda do amor do objecto, que será a mãe, já que fantasiam que a mãe sabe que foi ele que amputou o pénis da mãe.

 

Antes de finalizar, dir-se-à que na guerra militar do homem fascista, há a procura, há a demanda do pénis perdido, particularmente da mãe, com um importante sentimento de culpabilidade, e que pode ser simbolizada na procura da conquista da bandeira hasteada do inimigo. Uma derivação importante é a colocação, por parte dos sistemas fascistas, de governos fantoche em outros países, em que a bandeira deste tipo de aliado representa uma maneira de o homem fascista ultrapassar a censura, que, bem se entende, estará externalizada.

 

É de notar, importantemente, que este pénis perdido da mãe do homem fascista tratar-se-à do próprio filho que, ao nascer, representará o pénis da mãe, associando-se, assim, ao desejo fálico sobrecompensatório da mulher em ter um filho, e de cujos vestígios apenas restam, nada mais nada menos, que o clitóris. Estamos ao nível do trauma do nascimento, portanto, com uma relação traumática com a mãe, em que o filho é um filho-falo por excelência. Compreende-se, então, melhor, o sentimento de culpabilidade que o homem fascista sente em relação à mãe, no sentido de o mesmo ter amputado o pénis da mãe.

 

Pelas várias características aduzidas, e particularmente pela presença habitual de sangue menstrual nas sociedades, particularmente histéricas capitalistas, com o seu extremo, fascismo militarista expansionista, temos que há um continuar renovado de motivos psicológicos para que o homem fascista queira ir para guerra.

 

 

Bibliografia

 

Reich, W. ( 1976 ). Psicologia de massas do fascismo ( tradução portuguesa ). Publicações Dom Quixote

 

Reich, W. ( 1990 ). Character Analysis ( 3rd edition ). Farrar, Straus and Giroux

 

Resende, S. ( 2010 ). A inveja do pénis e a inveja do clitóris e suas implicações políticas em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 15/10/2010

 

Resende, S. ( 2012 ). Psicologia de massas do fascismo: um actualização em www.psicologado.com ( proposto a 01/2012 )

 

Resende, S. ( 2012 ). Caracterização edipiana do homem fascista em www.psicologado.com ( proposto a 01/2012 )

 

Resende, S. ( 2012 ). O palhaço de circo e a depressividade histérica em www.psicologado.com ( proposto a 12/2012 )

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Domingo, 23 de Dezembro de 2012

O sobrecompensatório na mulher

Resume-se inicialmente o meu artigo O palhaço de circo e a depressividade histérica    ( Resende, 2012 ), no qual considera-se o palhaço enquanto representativo de características tipicamente femininas, e no qual se elaboram sobre diversos aspectos sobrecompensatórios da mulher, ou mais particularmente , da histérica, considerando o histerismo mais característico nas mulheres, no contexto da depressividade histérica. Faz-se depois um complemento elaborativo quanto às características sobrecompensatórias da mulher.

 

Acrecente-se, desde já, em relação ao artigo já referido, o realce do mascarar cosmético como aspecto sobrecompensatório, relativamente ao qual, poder-se-ão considerar, aqui, as ideias de D. Anzieu sobre o Ego-pele e envelopes psíquicos, como se pode ver no Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente [ Houzel, Emmanuelli & Moggio ( coord. ) ( 2004 ) ]. Os mesmos, estando na base de funções como escudo pára-excitações e individuação, estabelecerão precocemente a relação do indivíduo com o mundo exterior. Assim, poder-se-à ver como características sobrecompensatórias de uma personalidade, particularmente, a histérica, poderão estar presentes no mascarar cosmético.

 

Já quanto ao resumo do primeiro artigo referido, é essencial perceber que a actividade circense, e a dos palhaços, em particular, é representativo de aspectos humanos individuais e colectivos, ao nível da sociedade. Também interessa saber que nessa actividade há a promoção do desenvolvimento da identidade humana, nas problemáticas que lhe estão relacionadas. Para além disso, a actividade dos palhaços reflectirá problemáticas que, ao longo da vida, cada indivíduo irá eventualmente encontrar e enfrentar, como, por exemplo, a agressividade, no contexto depressivo-histérico, a sexualidade feminina, ou mais geralmente, a psicossexualidade, como ainda características particulares da mulher, como a menstruação.

 

Temos, por exemplo, o falismo sobrecompensatório, que se poderá ver nos sapatos grandes do palhaço. Refiram-se, neste contexto, os versos do artista musical Prince:     “ Act your age, mama, not your shoe size “, indicando que a sobrecompensação fálica da mulher fá-la regredir ou estar fixada a um nível mais precoce, menos maduro. Noutra nota, indique-se a análise feita por Bruno Bettelheim em Psicanálise dos Contos de Fadas, relativamente ao conto de fadas Gata Borralheira, no qual se pode ver a associação entre o sapato e a sobrecompensação fálica, relacionada com o sentimento de perda do pénis. Assim, nessa análise, é referido que não foi tanto o sapato que se ajustava ao pé que decidiu quem seria a noiva certa, mas antes o sangrar do pé no sapato que indicou quais eram as noivas erradas, o que se relaciona com a menstruação, associada em fantasia com o sentimento de perda do pénis, com o elemento sobrecompensatório no tamanho do sapato.

 

Outro aspecto sobrecompensatório revela-se na relação entre depressividade e personalidade histérica, considerando o histerismo mais característico na mulher. Assim, nesta relação, atente-se à característica particular do histérico de angústia depressiva. A mesma dirá respeito à certeza da perda do pénis, ou mais geralmente, da perda do amor do objecto, já que este é considerado, pelo sujeito, responsável pela perda do pénis. Neste contexto depressivo-histérico, insere-se a batalha anti-depressiva do sujeito, na luta contra o afundamento na depressão. Particularmente, esta luta é feita, por exemplo, pela promiscuidade sexual e pela verbalização externalizada agressiva, para que a agressividade introjectada anteriormente, que deu ao indivíduo o sentimento de perda do amor do objecto, não se vire mais contra o próprio. Na sua relação com os palhaços, esta externalização verbal agressiva anti-depressivamente sobrecompensatória, está presente nas actuações agressivas habituais dos palhaços, como chapadas e pontapés, inserindo-se aqui uma função social importante do palhaço. Essa função é a de, na infância, promover e satisfazer catarticamente a agressividade, através do riso, fenómeno facilmente identitário na infância, para que em posteriores fases da vida, a mesma esteja modulada, e possa ser utilizada, particularmente, a nível sublimatório.

 

A sobrecompensação também estará presente na pintura exagerada do palhaço e na utilização de cosméticos faciais, habitualmente associados à mulher. Intuitivamente, neste contexto, e pelo já dito, dir-se-à que há uma agressividade inerente na pintura cosmética habitualmente associada à mulher. Para mais, esta pintura apontará para algo não genuíno, algo de acrescento, de mascarar, associando-se o sobrecompensatório ao mascarar cosmético, como, por exemplo, o pintar sobrecompensatório dos lábios de vermelho, sobrecompensatório por sentir-se diminuída sexualmente, em que a mesma pintura, indicada, por exemplo, por Desmond Morris como representando excitação sexual, nos elucida que essa mulher quer esconder a excitação sexual. Pensando nas características fisionómicas da mulher e na excitação sexual e capacidades multi-orgásmicas da mulher no dia-a-dia, temos que o esconder da excitação sexual estará relacionado com o facto  de a mesma ser manifesta para quem esteja a observar. Na excitação sexual, haverá o esconder mascarado, por a mesma ser manifesta, por exemplo, no avermelhamento da face e por os lábios tornarem-se mais vermelhos e carnudos, sendo claramente manifesto, portanto, e será essa falta de privacidade que as raparigas e mulheres quererão esconder. A falta de privacidade referida implicará correlatos diminuidores da auto-estima.

 

Também a roupa, porventura exuberante e pouco sóbria da histérica, indicará uma sobrecompensação em relação a sentimentos depressivos sentidos pelo próprio, tendo já nós feito referência às características depressivas do histerismo. Assim, este tipo de roupas serão utilizadas de modo anti-depressivo, e no sentido de combater a entrada em depressão. Isto levar-nos-à a pensar no título de um dos livros de Coimbra de Matos, psicanalista português, " O Desespero: Aquém da Depressão " ( 2007 ). Ou seja, leva-nos a pensar que estas mulheres estão em desespero, estão desesperadas.

 

Já para este artigo, refira-se a chamada síndrome da mulher invisível, que indicará a grande carga de afecto da vivência da mulher no dia-a-dia, antes da menopausa, para ela sentir habitualmente essa diferença após a menopausa, no sentido de se sentir observada, sentido esse que estará relacionado com as características sedutoras da mulher. A síndrome apela a algo ao nível da subcompensação do narcisismo relacional, e indica, por contraste, sentimentos sobrecompensatórios nesse mesmo narcisismo, em fases anteriores da vida.

 

De outro modo, os óculos escuros grandes, mais habitualmente utilizados por mulheres jovens, indicará uma sobrecompensação em relação ao sentir-se observada, o que podemos contextualizar mo síndrome da mulher invisível, já referido.

 

Não deve deixar de ser referido o famoso desejo sobrecompensatório da mulher, derivado da inveja do pénis, em ter filhos, já referido, por exemplo, por Freud.

 

Refira-se, também, que a sombra, escura, nos olhos da mulher, ou o lápis escuro no contorno dos olhos, em que manifestamente indicará um domínio controlador, já que representará a observação a partir do espaço sideral das actividades humanas, indicará, latentemente, uma sobrecompensação da Sombra, que como se indicará a seguir, será uma sobrecompensação da Sombra anal, e no contexto Junguiano, uma diminuição da Máscara, esta enquanto arquétipo de adaptação externa. Isto, tendo em conta um sistema de equilibração Junguiano ( Jung, 1988 ), em que há arquétipos que se opõem, num sistema dialéctico, no qual a Sombra se opõe à Máscara. Considere-se, nesta sobrecompensação da Sombra, associada à sombra cosmética, a carga psicológica, afectiva e cultural relativa à Sombra Junguiana, e a tendência sobrecompensatória que essa mulher revela em relação a eventuais medos vindos do espaço sideral, para alem do sentimento sobrecompensatório de domínio controlador universal, associado à observação controladora do espaço, ou seja, sentindo-se observada a partir do espaço por satélites, por exemplo, por entidades extraterrestres e/ou Deus, sentindo-se diminuída com isso, daí a sobrecompensação. Pelo dito, isso é revelador de um forte sentimento de se sentir observada e de uma sobreestimulação de aspectos do dia-a-dia, em que a mulher lidará menos bem com a excessiva carga de estímulos, e dependendo mais deles, o que apontará para deficiências e regressões à fase de constituição do escudo pára-excitações, e que indicará uma maior dependência de campo dessas mulheres. É de reparar que estas deficiências, ao nível do escudo pára-excitações, estão, precisamente, previstas por Anzieu, relativamente à patologia histérica, no contexto do Ego-pele e envelopes psíquicos, e como se pode ver naquele Dicionário de Psicopatologia já referido. Isto, tendo-se em conta a maior prevalência da histeria nas mulheres. Ainda de nota, ao nível destas deficiências, e neste contexto, é de referir a crescente utilização da tatuagem e do piercing nas novas gerações, o que apontará para crescentes dificuldades de lidar com a sobrecarga de estímulos externos, em relação aos quais a tatuagem e o piercing servirão de fronteira deflectora.

 

Realce-se, agora, neste contexto, o meu artigo Características sobrecompensatórias das fases psicossexuais da Máscara e Sombra da histeria capitalista ( Resende, 2010 ). Aí, indico que o histérico capitalista, considerando o histerismo mais característico na mulher, caracteriza-se por uma Sombra com sobrecompensação anal, tendo em conta a importância do dinheiro na sociedade capitalista, perspectivando que o dinheiro tem caracterizações anais, e isto pelas suas características transitivas, do que está fora e do que está dentro, funcionando como meio de relação com o exterior. Relacione-se este aspecto sobrecompensatório da Sombra anal, e sua relação com o dinheiro, com o já indicado acerca da diminuição da Máscara, em que haverá uma maior dependência de estímulo externos, maior dependência de campo, o que nos leva a pensar que estas mulheres estarão mais susceptíveis de serem influenciadas por propaganda e publicidade comercial, no sentido de posteriormente fazerem compras. É de dizer ainda que, neste último artigo referido, indico que o histérico capitalista caracteriza-se por uma Máscara com sobrecompensação oral e fálica, pelas organizações psicossexuais típicas do histérico, em particular, capitalista. Tendo em conta o já dito, a utilização da sombra nos olhos da mulher, revelando uma sobrecompensação da Sombra, com diminuição da Máscara, indicará, nestas mulheres, uma diminuição de características orais e fálicas. Pelo agora explanado, a tendência destas mulheres em fazerem compras, como amiúde acontece, não estará tão relacionado com características oro-fálicas, mas estar-se-à mais ao nível do narcisismo anal, em que os produtos comprados serão considerados uma extensão do narcisismo do próprio, em que sobrecompensatoriamente se tentará lidar com um sentimento de inferioridade narcísica. Esta complementação narcísica estará ao nível anal, falando nós, pois, em falhas do narcisismo anal.

 

Este tipo de complementação narcísica, ao sentimento de inferioridade narcísica, a nível sobrecompensatório, poderá ser encontrado, por exemplo, ao nível dos acessórios, geralmente atribuídos e associados à mulher. Como exemplo, poderemos indicar que uns brincos etnograficamente associados a África, poderá corresponder a um sentimento histórico associado à colonização de África, em que a mulher se sente  “ colonizada “, no mesmo sentido em que o famoso artista musical Prince utiliza no título de uma canção sua, “ Colonized Mind “, em que esses brincos representam uma sobrecompensação em relação a uma subcompensação colonizante. Serão utilizados, eventualmente, no contexto do Capitalismo global, no contexto do neo-colonialismo capitalista. Esses mesmos brincos poderão reflectir uma culpabilidade inconsciente dessa mulher em relação ao afastamento, ao distanciamento, relativamente àquilo que é considerado o berço da Humanidade, que é África, em relação, pois, às origens da Humanidade. Outro exemplo, também em relação aos brincos, será no sentido da utilização de brincos de etnia cigana, que, tendo em conta a história do povo cigano, de migrações constantes, e de estarem dispersos, por exemplo, por toda a Europa, reflectirá um sentimento sobrecompensatório em relação ao sentido pela mulher, que será o sentir-se pouco enraizada, pouco identificada com os valores nacionais, ou ao nível de blocos estratégicos. Em geral, a utilização de acessórios estará correlacionada positivamente com o sentimento de inferioridade narcísica, como se pode ver ainda, por exemplo, na utilização excessiva de acessórios, com o exemplo preferencial do consumo excessivo de sapatos, por parte da mulher.

 

O uso excessivo de sapatos diferentes por parte da mulher poderá ser considerado noutra perspectiva, como se pode ver em Catar sexual feminino enquanto fobia social  ( Resende, 2012 ). Indica-se, aí, que na ocorrência variada do surgimento da menstruação nas várias mulheres, em que a mulher não sabe quando a outra está menstruada, há o sentimento de estar a sugar sexualmente o sangue de outra mulher, o catar sexual, o comportamento interrelacional sexualizado típico entre mulheres, surge como uma ameaça de castração, em que a menstruação fará lembrar o sinal depressivo de perda do pénis já efectuada. Ora, esta ameaça de castração remete-nos para algo fóbico, em que a mulher tentará evitar o contacto social, mas em que ocorrerá um deslocamento contra-fóbico, para a mesma, ou outras mulheres, fundamentando isso relacionamentos sociais tipicamente histéricos. Estas características indicam que haverá uma tentativa de controlar externamente a fobia social, já que assim será de mais fácil manejo. Este evitamento e fobia social, com fuga para a frente, ajudará a explicar a sociabilidade típica dos histéricos assim como a superficialidade também típica dos relacionamentos histéricos, em que o movimento contra-fóbico dará conta da sociabilidade, enquanto que o movimento fóbico dará conta da superficialidade. Isto, com a noção de que o histerismo é mais tipicamente feminino. Ora, relativamente ao exemplo do uso excessivo de sapatos, isso apontará manifestamente para uma dominação hierárquica sobre outras mulheres, já que indicará, aparentemente, que não necessita delas para funcionarem como objecto contra-fóbico. Mas dir-se-à que o afecto do objecto contra-fóbico nas outras mulheres é deslocado sobre os sapatos, em que estes continuam a funcionar como objectos contra-fóbicos. Ou seja, a ansiedade social permanece, em que o conteúdo latente indica fobia social, relacional, semelhante às restantes mulheres. Neste exemplo do excesso de sapatos diferentes, temos que o seu uso sobrecompensatório por parte da mulher nos remete para ansiedade e fobia social, e tendo em conta o já dito quanto à complementação narcísica do próprio, nos remete para um sentimento de inferioridade narcísica.

 

Outra sobrecompensação, envolvendo sapatos, são os sapatos de salto alto, nos quais a mulher parece mais alta, indicando que a mulher se sentirá inferiorizada, particularmente, em relação aos homens, por estes, geralmente, serem maiores e mais altos. Psicanaliticamente, dir-se-à que é a rapariga pequena que, na ponta dos pés, tenta alcançar a figura paterna, revelando-se carente e a necessitar de afecto.

 

Continuando, já a zona, entre os olhos e as sobrancelhas, ou no contorno dos olhos, pintada de azul, que representará, do mesmo modo, o domínio controlador manifesto, a partir dos céus, em observação, havendo uma indicação manifesta de o azul enquanto estando no Céu, havendo, pois, características divinizantes, indicará, particularmente, no contexto das sociedades cristãs, e sobrecompensatoriamente, a vivência latente dessa mulher num inferno, que se constituirá enquanto pouco ou nenhum controlo, da mulher, dos estímulos do dia-a-dia, que como já vimos acontece amiúde com mulheres deste tipo.

 

Na mesma linha, a pintura na mesma zona dos olhos da côr verde, em que o verde é geralmente atribuído à característica da esperança, indicará que a mulher estará sobrecompensatoriamente a revelar que, latentemente, a mulher perdeu a esperança, e se encontra em desespero, em desesperança, numa linha depressiva.

 

O sobrecompensatório também se pode ver nas unhas da mulher, no deixar crescer as unhas, como, em particular, por pintar as unhas. Realce-se aqui o facto “ geopsíquico “ de Portugal ter geologicamente a forma de uma cara, com uma boca na zona de Lisboa, sua capital. Agora, atente-se que o termo herói tem a significância psicolinguística, em que he – ou ele em inglês e rói, em português, indicar que o herói, particularmente masculino, rói, e o que mais se aproxima desse significado é roer as unhas. Para além disso, temos o termo heroína, que em português, e noutras línguas, poderá significar a droga, como aquela mulher que desenvolve actos heroicos, bravos, nobres, etc.. Tendo em conta o deixar crescer as unhas e o pintar das mesmas, das mulheres, parece verificar-se uma sobrecompensação em relação ao termo heroína, enquanto droga, e uma sobrecompensação à diminuição sentida relativamente à prevalência histórica de heróis masculinos, não tanto mitológicos, mas mais historicamente, podendo nós referir, por exemplo, o primeiro termo do hino nacional português, heróis, na expressão heróis do mar, com referência aos intervenientes dos Descobrimentos Portugueses, desconsiderando, dizia, completamente o significado de heroína enquanto actos heróicos. Psicologicamente, há uma condensação do afecto em relação à mesma representação, em que parece que esse afecto não permite à mulher fazer a distinção dos dois significados da mesma representação, o que impedirá a mulher de desenvolver mais acentuadamente actos heróicos, históricos e épicos.

 

O aspecto sobrecompensatório também se pode verificar naquele que vai sendo um hábito em muitas mulheres, particularmente, pós-menopáusicas, que vão tendo cabelos brancos, que é o de pintarem os cabelos. Tendo em conta a fase da vida em que isto habitualmente acontece, será marcante o facto de se ter cabelos brancos, já que é uma altura em que se poderá avaliar o que essa mulher conseguiu de significativo na vida. O que aqui se transmite é que o mascarar sobrecompensatório do pintar o cabelo, indica o não saber lidar com o envelhecimento, não tão bem, por exemplo, como os homens, que habitualmente não pintam o cabelo, e revela o esconder do sentir-se diminuída enquanto mulher, historicamente, e enquanto mulher, na sua vida pessoal. Historicamente, por, nas sociedades ocidentais, particularmente, haver ou ter havido um grande domínio por parte dos homens nos vários campos do saber e das artes, em relação às mulheres. A mulher, mascarar-se-à, portanto, pintando o cabelo, geralmente parecendo mais nova, dando indicações manifestas que, mesmo nessa fase da vida, ainda poderá alcançar algo de significativo e de contribuidor para a sociedade, em geral. Repare-se, ainda noutra perspectiva, como este pintar dos cabelos brancos, parecendo mais nova, poderá relacionar-se, sobrecompensatoriamente, enquanto tentativa de lidar com o já referido fenómeno da mulher invisível.

 

Também é de realçar, voltando à pintura cosmética, a pintura exagerada das mulheres aquando da menstruação, o que revelará, no mesmo sentido, uma tentativa sobrecompensatória de esconder algo com o qual se sentem diminuídas, a menstruação. Esse algo, pelo menos em parte, poderá estar relacionado com aquela falta de privacidade, já referida quanto à excitação sexual, que, neste caso, reportará, para além do cheiro indicativo, às feições faciais, que se alterarão, particularmente, por influências hormonais associadas à menstruação.

 

A outro nível sobrecompensatório, poder-se-à pensar na mala, que é utilizada sobremaneira pelas mulheres, em que a mesma é relativamente grande, que refectirá uma utilização sobrecompensatória relativamente ao sentimento de falta de controlo dos estímulos da realidade externa, à qual já se fez referência neste artigo, em que tentará controlar essa falta de controlo pela sobrecompensação utilitária da mala grande. A associação entre a mala grande e os estímulos externos advirá do facto de que todos os humanos nascem de um útero, com passagem pela vagina, com associação estrita entra a mala e o útero e vagina, portanto.

 

Para mais, a contínua utilização e preferência, das mulheres, de vestidos brancos de casamento, revelando, os mesmos, a pureza e a castidade, das mulheres que os utilizam, representará, no contexto societal capitalista, uma sobrecompensação em relação ao comportamento habitual, nestas sociedades, da promiscuidade sexual, como já se referiu. Haverá uma identificação latente, com eventuais comportamentos manifestos, com o comportamento de promiscuidade sexual.

 

Ainda, a fantasia habitual de se considerar as raparigas e mulheres, nas sociedades capitalistas, enquanto princesas, revelará o sentimento sobrecompensatório das mulheres enquanto não tendo contribuído para a sociedade, particularmente nas sociedades histéricas capitalistas. Repare-se que não é habitual a atribuição da designação de príncipe, a rapazes ou a homens. Isto, tendo em conta o domínio das contribuições dos homens a nível artístico, científico e intelectual, ao nível histórico, revelando um sentimento único de reiniciar a história para as mulheres, considerando que as mesmas quererão equilibrar o desenvolvimento que as mesmas sentirão em relação aos homens. Isto, tendo em conta que, em muitas sociedades, a monarquia é considerada oficialmente num plano meramente simbólico. Repare-se, contudo, que esta consideração e designação de princesas em relação a raparigas e mulheres, reflectirá sobrecompensatoriamente uma baixa auto-estima dessas raparigas e mulheres, facto esse que será utilizado para vender revistas côr-de-rosa, lidas particularmente por donas-de-casa, revistas essas que fazem referências frequentes à monarquia, e a fenómenos que terão características semelhantes, como outras celebridades.

 

Atentemos, ainda, à característica organização oro-fálica da histérica, com fortes fixações a este nível, derivado de frustrações, e relacioná-la com o aspecto da língua enquanto falo, representando uma síntese da frustração oro-fálica, o que nos fornece uma base interessante para os lapsos inconscientes de linguagem, com uma associação a uma maior ou menor intensidade verborraica, precisamente mais caracteristicamente histérico. Isto, claro está, considerando a histeria mais característica na mulher. Em quaisquer dos casos, é conhecida a maior fluência verbal na mulher.

 

Uma vertente sobrecompensatória particularmente é o comportamento sexualizado tipicamente feminino, no dia-a-dia da mulher, relacionado com as suas características fisionómicas e capacidades multi-orgásmicas, em que haverão predominantemente orgasmos clitoridiano-fálicos sobrecompensatórios, e não tanto orgasmos vaginais, genitais, mais maduros.

 

Antes do comentário final, é de fazer uma análise extremamente importante. É respeitante à pintura sobrecompensatória das pestanas, realçando-as, e, porventura, alongando-as. Isto corresponderá a um sentimento latente de que a capacidade visual é diminuta, e no contexto edipiano, corresponderá a um sentimento de que a ameaça presente no mito de Édipo, em que este vaza os olhos, cegando, se cumpriu, sentindo-se a mulher, pois, cega. Isto, corresponde, neste artigo, à angústia já referida, a angústia depressiva, à certeza da perda do pénis, ou mais geralmente, à perda do amor do objecto. Como se pode ver em Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica ( Resende, 2012 ), essa angústia estará mais ao nível borderline, e não tanto neurótico, de castração, portanto. Isto, porque a ameaça, em fantasia, já se cumpriu. Isto implica aspectos regressivos importantes da linha neurótica para a linha borderline, ou uma forte fixação nesta última. 

 

Finalizando, e em resumo, dir-se-à que as características sobrecompensatórias, descritas neste artigo, e respeitantes a várias fases da vida da mulher, nos indicam que a inveja do pénis é o tema e a base central, que leva às tendências sobrecompensatórias, na vida psicológica da mulher, o que nos reporta para as sociedades falocêntricas em que vivemos, particularmente as sociedades histéricas capitalistas matriarcais.

 

 

Bibliografia

 

Coimbra de Matos, A. ( 2007 ). O Desespero: Aquém da Depressão ( 2ª edição ). Climepsi Editores

 

Houzel, D., Emmanuelli, M. & Moggio, F. ( Coord. ) ( 2004 ). Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente ( tradução portuguesa ). Climepsi Editores

 

Jung, C. G. ( 1988 ). A prática da psicoterapia in Obras Completas de C. G. Jung, Vol. XVI ( tradução portuguesa ). Petrópolis: Editora Vozes. ( Edição original, 1971 )

 

Resende, S. ( 2010 ). Características sobrecompensatórias das fases psicossexuais da Máscara e Sombra da histeria capitalista em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 29/11/2010

 

Resende, S. ( 2012 ). Catar sexual feminino enquanto fobia social em www.psicologado.com ( proposto a 06/2012 )

 

Resende, S. ( 2012 ). Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica em www.psicologado.com ( proposto a 12/ 2012 )

 

Resende, S. ( 2012 ). O palhaço de circo e a depressividade histérica em www.psicologado.com ( proposto a 12/2012 )

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Quarta-feira, 19 de Dezembro de 2012

O palhaço de circo e a depressividade histérica

Considerando, inicialmente, o circo, e a actividade dos palhaços, em particular, como representativo de aspectos humanos individuais e colectivos, faz-se, posteriormente, uma análise psicológica mais aprofundada dos palhaços, em que se identificam nos mesmos características femininas particulares, no contexto depressivo e histérico, realçando-se ainda a função social dos palhaços quanto à modulação da agressividade.

 

É de indicar, de início, a análise feita ao circo realizada por Yoram Carmeli, no seu artigo Circus play, Circus talk, and the Nostalgia for a Total Order ( 2001 ).  O autor, que passou quinze anos em trabalho de campo, num circo britânico, refere que a antecipação dos espectadores, do desempenho circense, de auto-referências, leva a antecipar uma exclusão particular, a exclusão de uma pessoa real fora das relações e fora do tempo real, mas, mais tarde, a percepção da actividade circense é de tal modo que engloba a sua totalidade, que inclui a totalidade das vidas fora do palco dos actuantes. Mais elaborando, Carmeli indica que o olhar fixo dos espectadores do circo conjura uma comunidade em que há uma ilusão de história e de biografia colectiva e pessoal, em que a história circense não desaparece depois do espectáculo. Ou seja, temos a actividade circense, e a dos palhaços, em particular, como representativo de aspectos humanos individuais e colectivos, ao nível da sociedade. Um exemplo desta última representatividade é a existência do palhaço rico e do palhaço pobre. Continuando, em particular, este autor refere-se à importância da actividade do circo no desenvolvimento da identidade humana e nas problemáticas que lhe estão relacionadas. Isto, quando diz ( p. 158 ): “ When a human body is played and perceptually objectivated, the ontological bases of human identity are experientially problematized. “.

 

É de relacionar, agora, estes aspectos com a particularidade de o circo, incluindo os palhaços, ser dirigido a crianças, mas executado por adultos, que reflectirão problemáticas que ao longo da vida cada indivíduo irá eventualmente encontrar e enfrentar. No caso dos palhaços, temos a agressividade, no contexto depressivo-histérico, a sexualidade feminina, ou mais geralmente, a psicossexualidade, como ainda características particulares da mulher, como a menstruação.

 

Assim, temos o falismo sobrecompensatório, que se poderá ver nos sapatos grandes do palhaço. Neste  contexto, são de referir duas notas. Primeiro são de notar os versos do famoso artista musical Prince, na célebre canção Kiss: “ Act your age, mama, not your shoe size “, indicando que a sobrecompensação fálica da mulher fá-la regredir ou estar fixada a um nível mais precoce, menos maduro. Para além disso, numa outra nota, refira-se o conto de fadas Gata Borralheira, tal como descrito por Bettelheim em Psicanálise dos Contos de Fadas ( 2006 ). Pode ver-se a associação entre o sapato e a sobrecompensação fálica, relacionada com o sentimento de perda do pénis                     ( sentimento descrito a seguir, quanto à angústia depressiva ), no exemplo, analisado pelo autor, de que não foi tanto o sapato que se ajustava ao pé que decidiu quem seria a noiva certa, mas antes o sangrar do pé no sapato que indicou quais eram as noivas erradas, o que se relaciona com a menstruação, associada em fantasia com o sentimento de perda do pénis, com o elemento sobrecompensatório no tamanho do sapato.

 

Para mais, continuando, temos a angústia depressiva, em que o nariz vermelho apontará para o cheirar particular do sangue menstrual, da própria, e das outras mulheres, angústia essa vivida, então, reflectindo a certeza da perda, no passado, mais ou menos precoce, do pénis, que indicará ao indivíduo uma perda de amor do objecto, já que este é considerado, pelo sujeito, responsável pela perda do pénis. Este aspecto do sangue menstrual, confirmador em fantasia da perda do pénis, estará na base da raiva narcísica que despoletará a agressividade, que é referida mais à frente quanto aos mecanismos anti-depressivos.

 

Há ainda o caso particular, por exemplo, da água a ser esguichada da flôr da lapela, como que a agredir o outro, o que nos remete coerentemente para a problemática do líquido vaginal a sair da vagina, no enquadramento da excitação sexual e seus clímaxes, representando a flôr, o cheiro desse líquido vaginal, e em que mais especificamente a saída da água da flôr, nos apontará para aquilo a que Coimbra de Matos, psicanalista português, refere quanto à personalidade depressiva, que é o de se constituir enquanto identidade em perda.

 

Quanto à relação entre depressividade e personalidade histérica, considerando o histerismo mais característico na mulher, ver, por exemplo, Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica ( Resende, 2012 ), em que indico, como já referido neste artigo, que particularmente o histérico caracterizar-se-à por uma angústia depressiva, pela certeza da perda do pénis, ou mais geralmente, da perda do amor do objecto, no passado, apontando-se, ainda, a batalha anti-depressiva relativamente sisífica, na luta precisamente contra a tal identidade em perda e contra o afundamento na depressão. Isto, particularmente, e sobrecompensatoriamente, pela promiscuidade sexual e verbalização externalizada agressiva, para que a agressividade introjectada anteriormente, que deu ao indivíduo o sentimento de perda do amor do objecto, não se vire mais contra o próprio.

 

É de relacionar esta externalização verbal agressiva e sobrecompensatória do histérico com as actuações habituais dos palhaços, em que, para além do esguichar agressivo da água da lapela, dão pontapés e chapadas nos outros palhaços, fazendo-os eventualmente cair, com o pormenor destas actuações corporais estarem relacionadas com a citação feita acima, onde se indica que a percepção objectivada do corpo humano promove a identificação humana nas suas problemáticas experienciais. Podemos referir, aqui, uma função social importante dos palhaços, que é a de, na infância, promover e satisfazer catarticamente a agressividade, através do riso, fenómeno facilmente identitário na infância, para que em posteriores fases da vida, a mesma esteja modulada, e possa ser utilizada, particularmente, a nível sublimatório, e não descompensadamente, como amiúde acontece.

 

No contexto, é de referir, num outro  ponto de vista cultural, no caso, cinéfilo, o filme It, de Stanley Kubrick, que representa a relação dos humanos com o além-Terra, ou, mais precisamente, o imaginário humano quanto à relação do além-Terra com os humanos. No filme, surgem seres extraterrestres, com a sua nave, que têm a particularidade de serem palhaços. Ora, os mesmos perseguem e torturam os humanos, agressividade esta que extrapola representativamente a actividade circense dos palhaços, só que de um ponto de vista mais tenebroso e assustador. Representará, precisamente, aquela descompensação agressiva referida anteriormente, já que o filme não é propriamente uma comédia, mas mais um filme de terror, com a agressividade representada pouco modulada.

 

Continuando a análise do palhaço circense, temos, para além disso, a vestimenta hiperbolizadamente garrida e excêntrica do palhaço, que reflectirá um exagero representativo da exuberância da indumentária pouco sóbria habitualmente existente no histérico e histérica.

 

Outra relação hiperbolizada, e representativa, entre o palhaço e a mulher, que se pode fazer, é a pintura exagerada do palhaço e a utilização de cosméticos faciais habitualmente associados à mulher. Isto, no contexto deste artigo, e intuitivamente, apontar-nos-à para uma agressividade inerente da pintura cosmética habitualmente associada à mulher. Para mais, a pintura cosmética da mulher apontará para algo que não é genuíno, e no contexto, indicará algo de acrescento, algo de mascarar, associando-se precisamente o sobrecompensatório ao mascarar cosmético, como por exemplo o pintar sobrecompensatório dos lábios de vermelho, sobrecompensatório por sentir-se diminuída sexualmente, pintura esta que Desmond Morris nos revela que indica excitação sexual, e que portanto, no contexto, e globalmente, nos elucida que essa mulher quer esconder a excitação sexual. O lip gloss, nos lábios, tão habitualmente utilizado entre raparigas e mulheres, e representando o transparente molhado da excitação sexual do líquido vaginal nos lábios vaginais, irá no mesmo caminho do sobrecompensatório mascarado, devido ao sentimento de diminuição sexual. Isto levar-nos-à a pensar nas características fisionómicas da mulher e da excitação sexual e capacidades multi-orgásmicas da mulher no dia-a-dia, revelando que a mulher, geralmente, quer, de algum modo, esconder a excitação sexual que será manifesto para quem esteja a observar. Este esconder mascarado estará associado à excitação sexual no dia-a-dia, característico de raparigas e mulheres, que é revelada particularmente pelo avermelhamento da face e pelos lábios tornarem-se mais vermelhos e carnudos, sendo claramente manifesto, portanto, e será essa falta de privacidade que as raparigas e mulheres quererão esconder.

 

Agora, num aparte, mas dentro deste contexto, repare-se como a pintura tipicamente egípcia, de o lápis no canto externo do olho subir, reflectindo, pois, uma sobrecompensação visual, está relacionada com a pirâmide ( daí o elo egípcio, para além da longa duração do império egípcio ), associada, por exemplo, a sociedades secretas, e que está desenhada nas notas de dólar, em que no topo da pirâmide, temos um olho aberto, que representará o olho que tudo vê. Este símbolo, patentemente sobrecompensatório, e que está associado por investigadores a um governo secreto, os Illuminati, composto por treze famílias, muito ricas e poderosas, que controlarão os destinos a nível global, da Terra, representa, precisamente, o símbolo, a influência subcompensatória a nível visual naqueles governados por este governo secreto, em que haverá uma tendência psicológica para ver menos, observar menos, o que se passa, o que tornará mais fácil o controlo particular das massas. Realce-se que esse símbolo da pirâmide no dólar, está precisamente incluído numa sociedade histérica capitalista matriarcal, como é a dos E. U. A., com a particularidade de o dólar ser actualmente a divisa que é a reserva mundial nas transacções internacionais. Mas repare-se que, quanto àquele controlo subcompensatório, estar-se-à a falar a nível manifesto, porquanto a nível latente indicará um sentimento por parte dos próprios Illuminati de se sentirem observados. Senão note-se. Os Illuminati invocam que são descendentes directos de seres extraterrestres que, no passado, terão interferido na evolução da espécie humana, indicando que isso lhes dá legitimidade de controlo sobre os restantes humanos. Dada esta importância, indica-se, aqui, que haverá por parte dos Illuminati um sentimento particularmente importante de se sentirem observados e, eventualmente, controlados, por esses extraterrestres.

 

Finalizando, pelo explanado, indicar-se-à o palhaço, em geral, como uma síntese de problemáticas femininas, em particular, como a sexualidade feminina, o característico falismo sobrecompensatório, a menstruação e a agressividade envolvida na depressividade histérica, e humanas, em geral. Ademais, generalizadamente, considera-se a função social do palhaço, como catarticamente modular a agressividade.

 

 

Bibliografia

 

Bettelheim, B. ( 2006 ). Psicanálise dos Contos de Fadas ( tradução portuguesa ). Bertrand Editora

 

Carmeli, Y. ( 2001 ). Circus play, Circus talk, and the Nostalgia for a Total Order in Journal of Popular Culture, Winter 2001, Vol. 35 Issue 3, p. 157, 8 p.

 

Resende, S. ( 2012 ). Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica em www.psicologado.com ( proposto a 12/2012 )

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Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2012

Angústia depressiva como enquadramento borderline da personalidade histérica

Resumindo, inicialmente, o meu artigo Desenvolvimento da personalidade histérica para uma verdadeira estrutura de personalidade ( Resende, 2008 ), onde indico as características pseudo-genitais do histerismo, complemento essa ideia com a noção da angústia depressiva, que marcará mais a personalidade histérica do que propriamente a angústia de castração. Avanço ainda com algumas características que mais enquadrarão a personalidade histérica no fenómeno borderline.

 

Assim, enuncia-se a personalidade histérica enquanto organização pseudo-genital, sem uma verdadeira estrutura genital, portanto, com características pré-edipianas predominantes, como marcadas fixações e regressões oro-fálicas. É de indicar que segundo Bergeret ( 1997 ), a personalidade histérica é uma estrutura verdadeira de personalidade, com angústia de castração predominante, como ainda com recalcamento predominante. Nesse artigo, inicialmente referido, considera-se a observação clínica e quotidiana de histéricos, onde se desenvolve a noção da personalidade histérica como pseudo-genital. Para além de fortes fixações e regressões oro-fálicas predominantes, o recalcamento, como mecanismo de defesa predominante, indica um menor desenvolvimento da personalidade, já que o indivíduo histérico tende a não lidar conscientemente com as problemáticas que lhe são mais conflituais, ao contrário do mais evoluído juízo de condenação do obsessivo. Para além disso, muitas das características genitais que são apontadas, por exemplo, por Bergeret ( 1997 ), como reciprocidade, valoração do outro e constância objectal, não estarão presentes no histérico, se tivermos em consideração aquelas observações referidas. Edipianamente, considera-se, sobretudo, o pseudo-Édipo positivo, com a ambivalência homossexual pré-edipiana predominante, na rapariga e na mulher, que desenvolveu-se na relação pré-edipiana com a mãe.

 

Já para o presente artigo, tenha-se a noção de que o histerismo é mais característico em mulheres. Considere-se, sobretudo, que ao invés da angústia de castração, estaremos a falar, isso sim, de uma angústia depressiva, de uma angústia de certeza de perda do pénis, o que só vem a ser confirmado em fantasia pela menstruação, o que nos remete para uma angústia de perda de amor do objecto, já que em fantasia, o objecto terá sido responsável pela perda do pénis. A angústia de perda do amor do objecto implicará uma diminuição significativa da auto-valoração narcísica. Esta diminuição levará, por seu turno, à já referida desvaloração do outro, pois, num sistema de equilibração narcísica, desvalorizando o outro, o próprio será autoperspectivado a um nível mais valorativo, por precisamente o auto-narcisismo ser dimuído. Podíamos ver aqui, também ao nível das massas, a génese de sistemas xenófobos. Continuando, essa angústia referida será, pois, depressiva e fará enquadrar mais a personalidade histérica no fenómeno borderline, tendo em conta que este caracteriza-se, sobretudo, por desenvolvimentos depressivos. Esta angústia depressiva também caracterizará o homem histérico, em que falaremos mais em erecções fálicas sobrecompensatórias, já que haverá essa certeza de perda de amor do objecto, tal como sentido em fantasia, mentalmente, o que em conjunto com a histérica, que terá predominantemente orgasmos clitoridiano-fálicos sobrecompensatórios, e não tanto orgasmos vaginais, genitais, mais maduros, o que só aí nos indica o menor desenvolvimento do histerismo, nos remete, dizia, para o fenómeno da promiscuidade sexual característica nas sociedades histéricas capitalistas. Estaremos a falar, pois, em sobrecompensações anti-depressivas. Em particular, o homem histérico ter-se-à sentido diminuído oro e falo-narcisicamente, ou seja, com frustrações orais e fálicas, em que podemos ver a língua como um falo, tendo nós a mesma como síntese da frustração oro-fálica, o que nos fornece uma base interessante para os lapsos inconscientes de linguagem, com uma associação a uma maior ou menor intensidade verborraica, precisamente mais caracteristicamente histérica. Continuando, terá experienciado, portanto, situações a esse nível oro-fálico, em que terá sentido a perda do amor do objecto. Temos, então, quer no caso da histérica, quer do histérico, características carências afectivas.

 

O enquadramento do histerismo no fenómeno borderline poderá ser, por exemplo, consultado em A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Klein ( Resende, 2010 ). Aí, desenvolvo a noção, relacionando a posição depressiva de Klein com a depressividade, de que a depressividade se caracterizará mais pela projecção do que pela introjecção. Isto é baseado na noção de que a economia depressígena básica, de afecto dado e não correspondido, terá características projectivas, já que o afecto é dado, é externalizado. É feito, ainda, o enquadramento da depressividade nos quadros borderline. Assim, tendo-se em conta as características projectivas referidas, considere-se a externalização verbal agressiva fálica, típica no histérico [ ver, por exemplo, Complexo de Anti-Cristo – Perspectiva Psicodinâmica ( Resende, 2007 ) ], podendo nós falar aqui em projecção histérica, de modo mais ou menos maciço. Um exemplo paradigmático da externalização verbal agressiva, típica no histérico, é o fenómeno das chamadas “ mean girls “, ou “ raparigas más “, típico na adolescência, nas escolas secundárias, particularmente em regiões capitalistas, em que habitualmente são feitos comentários pejorativos, denegridores, desvalorativos, etc., do outro. Continuando, mais classicamente, teríamos, pois, projecção maciça de características histéricas, ou dito de outra maneira, meios de relacionamento histéricos com bases psicóticas, o que caracterizará  a organização borderline.

 

Esta noção de projecção histérica é considerada por mim como um tipo de mecanismo de ataque, que em conjunto com o controlo histérico, são tidos como dois tipos base de mecanismos de ataque. Estes mecanismos de ataque contrapõem-se aos mecanismos de defesa, no sentido em que ao invés de se destinarem à defesa do ego, como os de defesa, destinam-se sobretudo à preservação de relacionamentos interpessoais e à preservação de fenómenos de massas [ ver Mecanismos de defesa e Mecanismos de ataque ( Resende, 2010 ) e Enunciação de Mecanismos de ataque         ( Resende, 2010 ) ]. Estas características enquadram-se bem com a sociabilidade típica do histérico. Já um tipo particular de projecção histérica será o ataque preemptivo, que podemos ver num exemplo relativamente a fenómenos de massas. Esse ataque preemptivo será feito, particularmente, por sociedades histéricas capitalistas, com o seu extremo, militarismo expansionista, em que num exemplo recente, terá sido feito com fundamentos falsos, em que, posteriormente, através desses fundamentos falsos, terá sido indicado que essas sociedades histéricas capitalistas estariam sob risco de ataque, o que levou, precisamente, como indicado a nível governamental, ao ataque externo para não ser atacado internamente. Em consequência, isso levou a um sentimento de insegurança a nível das massas, e a que as pessoas cedessem mais facilmente direitos cívicos a troco de segurança. Ora, isto remete-nos para outro mecanismo de ataque, que é o controlo histérico, pois, precisamente, terão sido utilizados fundamentos falsos para atingir o objectivo deste controlo das massas.

 

Quanto àquela externalização, projecção, verbal agressiva típica no histérico, é de considerar, no contexto da depressividade, a noção clínica da prévia introjecção de agressividade, particularmente em relacionamentos precoces, e a posterior agressividade voltada sobre o próprio. Assim, como já indicado exemplarmente em relação à promiscuidade sexual, teremos, aqui, a externalização agressiva como fenómeno anti-depressivo, na luta do indivíduo contra o afundamento na depressão.

 

Considerando a externalização verbal agressiva referida, característica do histérico, e num enquadramento borderline, é de referir, sobremaneira, a tendência para a sedução do histérico, que, relacionados os fenómenos, nos remete para o estilo de relacionamento clivado amor/ódio, típico dos relacionamentos borderline. Isto mais corrobora o enquadramento da personalidade histérica no fenómeno borderline.

 

É de realçar, pelo já dito, que as bases psicóticas, referidas, estarão relacionadas precisamente com a angústia depressiva, já que há uma angústia de certeza de perda do pénis, ou mais geralmente, de perda de amor do objecto, no passado mais ou menos precoce, o que em conjunto com o já dito sobre o histérico, nos remete para fortes fixações precoces e regressões a esse nível.

 

Deste modo, pelo explanado neste artigo, teremos, pois, a personalidade histérica bem enquadrada no fenómeno borderline, em que a mesma se caracterizará mais por uma angústia depressiva, com sentimento de perda do amor do objecto, consubstanciando o enquadramento referido, já que a linha depressiva, ou, os quadros depressivos são centrais no fenómeno borderline, havendo ainda as já indicadas fortes fixações e regressões a um nível precoce. Por isto, fundamenta-se a pseudo-genitalidade e a pseudo-estruturação da personalidade histérica, considerando-se, claro está, a organização borderline enquanto aestruturação.

 

 

 

Bibliografia

 

Bergeret, J. ( 1997 ). A personalidade normal e patológica. Climepsi Editores

 

Resende, S. ( 2007 ). Complexo de Anti-Cristo – Perspectiva Psicodinâmica em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 28/10/2007

 

Resende, S. ( 2008 ). Desenvolvimento da personalidade histérica para uma verdadeira estrutura de personalidade em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 30/12/2008

 

Resende, S. ( 2010 ). Mecanismos de defesa e Mecanismos de ataque em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 15/10/2010

 

Resende, S. ( 2010 ). A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Klein em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 08/11/2010

 

Resende, S. ( 2010 ). Enunciação de Mecanismos de ataque em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 14/11/2010

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