Faz-se, neste artigo, um resumo do meu artigo Variação diferencial do tamanho do pénis e sua importância no poder criativo ( Resende, 2011 ), para melhor enquadrar como a variação diferencial entre o pénis erecto e o pénis flácido é um factor importante no poder criativo. A partir daí, faz-se uma incursão pelos fenómenos transicionais para elaborar sobre como a ilusão associada ao pénis erecto e a desilusão associada à flacidez do pénis estão na base de elaborações criativas importantes.
Tem-se, então, que a variação diferencial entre o pénis erecto e o pénis flácido contribui decisivamente quanto ao poder criativo. Nesta variação diferencial do pénis, é de ter em conta a primazia da genialidade, e das produções intelectuais e artísticas, do homem relativamente à mulher, no decurso civilizacional humano. Para mais, caracteristicamente, a diferença entre o pénis erecto e o pénis flácido é tal, que o homem terá uma tendência para se identificar com outros homens como com as mulheres. Poderá ter em sua mente a percepção da realidade tanto de um homem como de uma mulher. Especificando, na aproximação do pénis da flacidez, haverá uma tendência, uma aproximação, realçando-se a mesma, relativamente ao clitóris. Com esta tendência sentida pelo homem, haverá um sentimento vivencial do mundo, tal como vivido pelas mulheres. Com esta identificação, poderá ter uma perspectiva mais abrangente e diferenciada da realidade, já que tem ambos os pontos de vista. Isto permite-lhe maior produção genial e criativa, podendo nós falar aqui na identificação com a mulher no contexto das musas inspiradoras.
Com o reconhecimento do homem do poder inspirador que lhe surge através da identificação com as mulheres, surgirá, importantemente, a inveja do clitóris, com suas características subcompensatórias, que caracteriza as produções intelectuais do homem, como dou a indicação de se poder consultar em dois artigos meus, a saber, Aspectos criativos e evolutivos da inveja do clitóris e Exemplos específicos das características subcompensatórias do homem derivadas da inveja do clitóris. Como se pode ver mais à frente, para além do reconhecimento referido, a inveja do clitóris, em si, com suas características subcompensatórias, terá tido, e vindo a ter, crucial importância evolutiva. Ainda neste resumo, há ainda a destacar, quanto à inveja do clitóris, que a subcompensação narcísica, presente na inveja do clitóris do homem, caracteriza-se por uma tentativa de diminuição narcísica, derivada do sentimento de superioridade narcísica advindo da comparação pénis-clitóris. É que ter-se-à que o sentimento de superioridade narcísica referido estará relacionado com o sentimento de masculinidade. Ora tem-se que a tentativa de diminuição narcísica surgirá no sentido de diminuição do sentimento de masculinidade, diminuição esta que terá importância evolutiva nas relações entre homens e mulheres. Tendo em conta que há um sentimento de masculinidade inicial, derivado da comparação pénis-clitóris, dir-se-à que as características subcompensatórias que caracterizam a inveja do clitóris estarão mais relacionadas com o sentimento de feminilidade inconsciente no homem, ou seja, com o arquétipo anima, de que Jung fala. Assim, pelo dito, na produção criativa do homem haverá uma diminuição do sentimento de masculinidade e uma acentuação do sentimento de feminilidade inconsciente.
Passando agora aos fenómenos transicionais, temos que, segundo Houzel, Emmanuelli & Moggio ( Coord. ) ( 2004 ), Winnicott refere-se aos fenómenos transicionais e objectos transicionais como a passagem do auto-erotismo à relação de objecto, à passagem do que é subjectivamente concebido ao que é objectivamente apercebido.
Consideram-se dois tempos nos fenómenos transicionais, o tempo de ilusão e o tempo de desilusão.
No contexto, na ilusão, há o sentimento de superioridade do homem na comparação pénis-clitóris, particularmente, com o pénis erecto. Haverá, com a erecção do pénis, um controlo omnipotente sobre o mesmo.
Com a flacidez do pénis, surge a desilusão relativamente ao sentimento de superioridade sentido, e já referido, desilusão essa que surge no contexto da inveja do clitóris. Como se pode ver no artigo O poder criativo e as características subcompensatórias do homem derivadas da inveja do clitóris: culpabilidade fálica ( Resende, 2013 ), a inveja do clitóris, com suas características subcompensatórias, surgirá da culpabilidade fálica, em relação ao sentimento de superioridade já referido, culpabilidade fálica, precisamente em relação às características sobrecompensatórias associadas a esse sentimento de superioridade. Surgirá também com o reconhecimento do homem do poder inspirador que lhe advém através da identificação com as mulheres, como já referido no resumo inicial deste artigo. A inveja do clitóris no homem terá possíveis motivos filogenéticos num sistema de equilibração evolutivo em relação ao sentimento de inveja do pénis, tipicamente sentido pela mulher, e suas características sobrecompensatórias. Para ver exemplos e relação entre a inveja do clitóris e criatividade, veja-se o artigo do poder criativo, referido acima.
Continuando, temos, pois, que na passagem da ilusão à desilusão, surge a inveja do clitóris, que estará associada à flacidez do pénis, estando, pois, a desilusão associada à flacidez do pénis. Haverá, então, a percepção do indivíduo enquanto estando separado do outro, o que caracteriza a desilusão, em que o homem sente que não é igual à mulher, em que terá a experiência semelhante a ela, como indicado no artigo já referido da Variação diferencial, mas estando separado dela. Há, assim, a desilusão com a flacidez do pénis, relativamente ao sentimento de superioridade sentido com a potência do pénis erecto. Note-se, aqui, a semelhança com o que já foi descrito, quanto às ideias de Winnicott, em que há, na ilusão de superioridade na potência do pénis erecto, o auto-erotismo, e na desilusão da flacidez do pénis, relativamente ao sentimento de superioridade referido, a relação de objecto, com a mulher, com a percepção da experiência dela, mas estando separado dela, passando-se, então, do que é subjectivamente concebido ao que é objectivamente apercebido. Temos, assim, na desilusão, experiências de frustração, em que a relação de controlo omnipotente atenua-se para dar lugar à relação de objecto. Posteriormente, o sujeito reconhece e aceita a realidade externa, tolerando a experiência de frustração. Então a área transicional, privada, torna-se área partilhada, “ área intermediária de experiência “, que se situa no limite entre o subjectivo e o objectivo.
Temos, no contexto do artigo, diferença entre espaço de ilusão e de desilusão, um espaço transitivo, transicional e potencial, potencialmente de elaboração simbólica, de onde poderão surgir posteriormente as manifestações culturais e criativas. Considerando, pois, o pénis, enquanto objecto transicional, temos que, segundo Houzel, Emmanuelli & Moggio ( Coord. ) ( 2004 ), após a ilusão e desilusão, que caracterizam os fenómenos transicionais, os fenómenos, o espaço e os objectos transicionais começarão então a ser desinvestidos e dissolver-se-ão em todo o domínio cultural. “ Subsistirá ao longo de toda a vida, no modo de experimentação interna, que caracteriza as artes, a religião, a vida imaginária e o trabalho científico criativo “ [ Winnicott, citado por Houzel, Emmanuelli & Moggio ( Coord. ) ( 2004 ), p. 998 ].
Finalizando, e considerando também o início deste artigo, temos que para maior produção criativa no homem, há a necessidade, para além da acentuação da feminilidade inconsciente, da desilusão associada à flacidez do pénis, após a ilusão associada à erecção do mesmo, numa tendência contrária à potência eréctil permanente, que se pode ver numa patologia como o priapismo.
Bibliografia
Houzel, D., Emmanuelli, M. & Moggio, F. ( Coord. ) ( 2004 ). Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente. Climepsi Editores
Resende, S. ( 2011 ). Variação diferencial do tamanho do pénis e sua importância no poder criativo em www.redepsi.com.br, na secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 02/01/2011
Resende, S. ( 2013 ). O poder criativo e as características subcompensatórias do homem derivadas da inveja do clitóris: culpabilidade fálica em www.psicologado.com ( proposto a 04/2013 )
. O pénis enquanto objecto ...